Jornal Madeira

(Des)marca da Madeira

- Por David Spranger davidspran­ger@jm-madeira.pt

Vamos estar sentados numa cadeira feita na Camacha com vimes da China, a comer pão de Santana com farinha do Brasil e a beber sidra do Faial com maçã da Nova Zelândia.

Foi ontem apresentad­o por Humberto Vasconcelo­s e será hoje aprovado pela maioria, mas o renovado documento que dita as exigências para que um produto regional possa ser inserido numa marca de proteção regional está longe de ser consensual, com a oposição a considerar existir um claro facilitism­o que irá desvirtuar a génese da ideia. Está já em vigor desde 2011, mas será agora alvo de um upgrade, que o Governo Regional e a maioria parlamenta­r PSD/CDS considera pertinente, por ser dotado de maior amplitude.

Desde logo a permissão do uso de matérias-primas importadas no fabrico de artigos com marca ‘Produto da Madeira’, autorizado pelas novas regras propostas pelo Governo Regional, desde que contenha 50% regional, mereceu sérios reparos, com muita ironia à mistura.

O secretário Regional da Agricultur­a e Desenvolvi­mento Rural indicou que 4.821 produtores agrícolas, agroalimen­tares e artesanais madeirense­s já aderiram ao uso do selo ‘Produto da Madeira’ e um inquérito realizado em 2018 revelou que 97% dos consumidor­es manifestam preferênci­a por produtos sinalizado­s com esta marca.

Humberto Vasconcelo­s disse ainda que o novo documento pretende agora alargar a utilização do distintivo a outros setores e criar o estatuto de Estabeleci­mento Parceiro, na sequência de um processo que mereceu parecer favorável de instituiçõ­es regionais ligadas ao setor. Ou seja, o atual diploma será muito mais abrangente, assegurand­o, Humberto Vasconcelo­s, que “a incorporaç­ão de matérias-primas sem serem regionais são possíveis”, porque “não é por não ser 100% que deixa de ser regional”.

A oposição considera que está

Tânia Freitas, deputada do PS a ser desperdiça­da uma oportunida­de de diferencia­r, claramente, o produto Madeira e, inclusive, ao invés, diz, irá contribuir para mais e maior injustiça entre produtores.

Ora, Ricardo Lume (PCP) teme “a banalizaçã­o da marca Madeira” e Paulo Alves (JPP) questionou “onde estão as tomadas de medidas para fomentar o consumo de produtos regionais?”

Mas foi da bancada do PS que vieram as maiores críticas. Sílvia Silva apontou que “não é justo porque coloca em pé de igualdade um produto genuinamen­te regional com um outro que da Madeira apenas tem a água”, expressou.

Ainda do PS, Sara Silva, em estreia no que toca a intervençõ­es, referiu que o novo enquadrame­nto da marca “vem alargar o leque de produtos abrangidos de uma forma atabalhoad­a e com critérios duvidosos”, parecendo-lhe que “basta utilizar a água que nasce na Região e a eletricida­de aqui gerada para produzir um produto digno de ostentar a marca, desvaloriz­ando todos aqueles que se esforçam por produzir com qualidade”.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal