Jornal Madeira

Um balanço e algumas irritações

- Amílcar Gonçalves Engenheiro

Odia 26 de Setembro de 2021, foi um bom dia para qualquer social democrata que se prese. Não foi o dia da libertação, mas esteve lá perto, sobretudo para os meus vizinhos, próximos e afastados, falo claro da população do Funchal. Com uma votação expressiva, em alto e bom som os funchalens­es disseram: basta… e optaram por um novo projecto político para a sua cidade. Estou a ser simpático, pois estou a admitir que havia um projecto político anterior, o que não é bem verdade e foi também por isso que a Confiança, não sobreviveu e sucumbiu nas mãos da democracia.

A forma displicent­e como o anterior presidente abandonou o seu posto, a atitude arrivista do inquilino substituto e a total ausência de visão e de futuro para a capital ditaram o fim de um período obscuro e de má memória para os funchalens­es. Mas atenção, a vitória do PSD/CDS nestas eleições não dependeu apenas do fraco desempenho dos anteriores mandantes. Antes pelo contrário, para os resultados eleitorais, contribuír­am grandement­e, a humildade, a visão e a esperança com que Pedro Calado e a sua equipa se apresentar­am a estas eleições. Como diria o grande João Pinto (metaforica­mente falando… claro): prognóstic­os só no fim do jogo… e o jogo não era nada fácil. Conseguir destronar um autarca instalado não é tarefa simples e requereu muito trabalho e coragem. Sabemos que muito há para fazer, do muito do que não foi feito e do pouco que foi pensado pela anterior vereação, o caderno de encargos desta nova equipa é pesado, mas sei que temos os homens e as mulheres certas para que o Funchal se reerga condigname­nte como cidade e como a capital desta nossa terra.

Já que estou em modo de balanço, não queria deixar de mencionar os fantástico­s resultados de Carlos Teles, Pedro Coelho, Ricardo Nascimento, José António Garcês e de Nuno Batista, autarcas que consolidar­am uma vitória muito importante para a nossa social-democracia. Sendo que os primeiros quatro têm ainda o condão de verem o seu mandato anterior validado e reconhecid­o pela população. O trabalho e a dedicação compensara­m e o povo não é mal-agradecido, antes pelo contrário.

Nos concelhos de Porto Moniz e de Santana e por razões bem distintas a permanênci­a dos autarcas era quase uma inevitabil­idade, e foi isso que ditaram as respectiva­s populações, no primeiro caso, pelo medo e no segundo, pelo trabalho. Um muito obrigado pela galhardia e empenho do Raimundo Silva e do João Paulo Luís.

Quanto aos concelhos onde os resultados não foram de todo justos para os candidatos da coligação PSD/CDS, haverá que dizer que estes foram vítimas de uma vitimizaçã­o programáti­ca dos autarcas em exercício. O papel do coitadinho ainda dá votos numa determinad­a faixa da população…é a síndrome do Capuchinho Vermelho. Num concelho mais a Oeste, a capuchinho queixava-se que tinha a cesta vazia, não era bem verdade, não queria era atravessar o bosque nem ajudar a avó. Num concelho mais a Leste, o capuchinho afinal veste de verde e a cesta ia carregada de demagogia e pieguice, além disso, tinha tanta conversa fiada que até adormecia o lobo. Noutro concelho ainda mais para Leste, o capuchinho disse que roubaram a cesta e para ir à casa do avô (não é erro, é mesmo o pai da mãe), não ia pelo bosque, ia pela Ribeira, por sinal Seca… Que o digam o Gualberto Fernandes, o Brício Araújo e o Norberto Ribeiro, que prestaram um honroso e corajoso serviço à social-democracia.

E com estas injustiças veem as minhas irritações… considero-me um democrata e até tolerante, mas assistir diariament­e na campanha eleitoral à chantagem do primeiro-ministro com gravata e do secretário-geral do PS sem gravata, cada um à vez munido da sua bazuca de milhões, tenham dó… irrita até um santo milagreiro. Parece que afinal a bazuca não rendeu assim tantos votos, e por falar em render… mais uma irritação. Então a justiça estava à espera de que Rendeiro se apresentas­se para cumprir civicament­e a pena a que foi condenado? Para justificar a ingenuidad­e de um amigo, Jô Soares dizia: tem pai que é cego. Sei que a justiça deve ser cega, mas penso que não deve ser ingénua… ou será que a senhora da balança e com a venda nos olhos tem algum grau de parentesco com Rendeiro? Esta malta rica e com motoristas ricos deveria era ir toda para o espaço. E por falar em espaço, mais uma irritação… Não é que agora a malta multimilio­nária deu em passear pelo espaço. À falta de melhor para fazer, e como as contas pessoais têm muitos zeros, nada como a sensação de gravidade zero. Elon Musk, Jeff Bezos, Richard Branson e outros que virão lá gastam uns troquinhos para aparecerem e serem diferentes e serem visionário­s e serem muito tecnológic­os e muito modernos. Sabendo que em 2019, a riqueza dos 26 mais ricos do planeta equivalia a metade da riqueza do mundo… apetece mandá-los todos para um certo espaço, ficaria muito mais barato e não fica muito longe…

Amílcar Gonçalves escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

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