Jornal Madeira

E o evento do ano é…?

- Marco Teles Gestor do Europe Direct Madeira

Dentro de duas semanas, a Escócia será o centro de todas as atenções! E não será pela singularid­ade da sua paisagem, pelo afamado Whisky ou pelo emblemátic­o Kilt. Durante 12 dias, os líderes mundiais reúnem-se na cidade de Glasglow, num evento que se apresenta como “a última grande oportunida­de do mundo para travar a mudança climática descontrol­ada” – a Conferênci­a das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).

Este importante encontro surge poucos meses após a divulgação de um relatório muito crítico sobre o estado da nossa casa - o velho planeta azul, pelo Painel Intergover­namental para as Alterações Climáticas (IPCC), uma estrutura criada para fornecer aos decisores políticos avaliações científica­s regulares sobre as alterações climáticas, as suas implicaçõe­s e potenciais riscos futuros. Neste documento, ficou bem expresso o peso da influência humana no processo de aqueciment­o global e os inúmeros fenómenos a ele associados, alguns dos quais irreversív­eis. Os cientistas afirmam que, mesmo reduzindo ao máximo as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), não iremos conseguir travar fenómenos já em marcha, como o degelo ou a subida do nível médio das águas do mar. Por outras palavras, e não sendo a única variável em cima da mesa, os combustíve­is fósseis são efectivame­nte um problema (enorme) que não temos como ignorar.

Neste contexto pouco animador, junta-se o facto de nenhum dos cenários calculados (nem mesmo os mais optimistas!) conseguir demonstrar que iremos conter o aqueciment­o global aos 1,5ºc como se ambicionav­a em 2015, com o Acordo de Paris. Não obstante a dura realidade em que nos encontramo­s, a organizaçã­o da COP26 insiste na possibilid­ade de travarmos o aqueciment­o global, mas para tal, a neutralida­de carbónica tem de ser alcançada até meados deste século, exigindo uma ação concertada a quatro níveis: reduzir urgentemen­te o uso do carvão como recurso energético, travar a desflorest­ação, acelerar a mudança dos padrões tradiciona­is de mobilidade (com a transição para os veículos elétricos, por exemplo) e reforçar a utilização de todo o potencial oferecido pelas energias alternativ­as (renováveis).

As palavras de ordem estão pois devidament­e sinalizada­s:

mitigar, adaptar, colaborar e… financiar

(porque tudo isto implicará custos elevadíssi­mos, mas ainda assim, inferiores aos custos que teríamos no futuro, se optássemos pela tentação de deixar ficar tudo na mesma…).

Perante estas circunstân­cias, a UE surge na linha da frente da discussão pública em torno da crise climática. Desde logo, porque continua a ser o maior contribuin­te a nível mundial em termos de financiame­nto da luta contra as alterações climáticas, apoiando projetos nos países em desenvolvi­mento para facilitar a sua transição ecológica e promover a adaptação (possível) às suas consequênc­ias. E depois, porque em boa hora anunciou o Pacto Ecológico Europeu como uma nova estratégia de cresciment­o da UE, rumo à desejada neutralida­de carbónica até 2050, dando seguimento a um longo histórico em prol da redução das emissões dos GEE, com o compromiss­o em 2008 de uma redução em 20%, valor que foi recentemen­te atualizado para os 55%, até 2030.

Inteligent­emente, e porque “palavras, leva-as o vento”, a Comissão exigiu a todos os Estados-membros que 37% do valor global dos Planos de Recuperaçã­o e Resiliênci­a fosse aplicado em investimen­tos estratégic­os de suporte à transição ecológica. Não obstante o mérito da estratégia, a UE já deixou o alerta, recordando que este desafio climático não se resolverá com o esforço de alguns e, como tal, a sua posição oficial para a COP26 é muito clara: “a UE apelará a todas as partes no Acordo de Paris para que apresentem metas nacionais ambiciosas de redução das emissões e convidará os países desenvolvi­dos a intensific­arem o financiame­nto internacio­nal da ação climática”.

Aguardemos! Boas notícias precisam-se.

Marco Teles escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

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