Sobreviventes e familiares de vítimas alertam para novos extremismos
O encontro de Malmo assinala os 20 anos do primeiro Fórum Internacional sobre o Holocausto, em Estocolmo, que aprovou a criação da Aliança Internacional de Memória do Holocausto.
Sobreviventes e familiares de vítimas do Holocausto reunidos na cidade sueca de Malmo apelaram ontem para um maior investimento na educação sobre o que aconteceu na Europa durante o regime nazi como forma de combater novos extremismos.
A aposta na educação dos mais jovens foi a mensagem em destaque na abertura do Fórum Internacional de Memória do Holocausto e Combate ao Antissemitismo, uma iniciativa do primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven.
“Os políticos são líderes. (…) Tudo o que disserem, tudo o que fizerem tem um impacto. Como legisladores, podem proteger todos os seres humanos, o direito a existir e a ser-se respeitado”, disse Tobias Rawet, 85 anos, sobrevivente do Holocausto.
Nascido na Polónia, Tobias Rawet contou que tinha 9 anos quando terminou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que decidiu reformar-se mais cedo para falar sobre o Holocausto quando um negacionista o fez sentir como se a sua vida fosse uma mentira.
“Reformei-me antecipadamente, aos 60 anos, para usar o resto da minha vida para dar palestras sobre o Holocausto, que é o que faço há 25 anos”, disse.
A questão da educação nas escolas também foi abordada por Berith Kalander, 65 anos, filha de uma sobrevivente cigana do Holocausto, que lamentou ler tão pouco sobre a tragédia provocada pelo regime de Adolf Hitler em livros escolares.
Citando um livro do ensino secundário sueco, disse que em duas páginas se resume o genocídio de seis milhões de judeus, metade dos quais em campos de concentração, e numa frase de apenas 14 palavras é dito que os nazis também “mataram meio milhão de pessoas roma e dezenas de milhares de homossexuais".
Numa intervenção no fórum, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que “o silêncio é cumplicidade” e admitiu que “recordar não é suficiente”.
Michel disse que a pandemia de covid-19 “abriu as portas às teorias da conspiração” e ao ódio online, e que a “patologia do antissemitismo permanece profundamente enraizada”.
Charles Michel defendeu que a União Europeia (UE) deve liderar a luta contra o antissemitismo e disse que a Comissão Europeia adotou recentemente uma estratégia para esse combate.