Jornal Madeira

Saúde mental e envelhecim­ento continuam a ser alvo de estigma

O ciclo de mesas redondas, organizada­s pelo Observatór­io Regional de Saúde Mental, para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental, termina hoje.

- Por Edna Baptista edna.baptista@jm-madeira.com

Envelhecer com saúde, em especial mental, é possível e cada vez mais premente, já que esta é a realidade que permeia cada vez mais a demografia da Região. Ainda assim, quer a temática do envelhecim­ento, quer a da saúde mental, que por si só são já áreas complexas, continuam a estar envoltas em estigmas e preconceit­os e a necessitar de mais respostas.

Isso mesmo reconheceu ao JM Tânia Lourenço, enfermeira especialis­ta em psiquiatri­a e saúde mental, em declaração à margem de mais uma mesa-redonda, intitulada ‘No crepúsculo da vida’, da iniciativa organizada pelo Observatór­io Regional de Saúde Mental da RAM (ORSM), para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental.

De facto, no entender da profission­al de saúde, que é também professora na Escola Superior de Enfermagem de São José de Cluny, há que ultrapassa­r a ideia de que esta não é uma fase da vida tão boa como as anteriores e de que as patologias do foro psicológic­o são normais nesta faixa etária.

“Tal como se falava cada vez mais na saúde mental nos jovens, também tem de se pensar na saúde mental do idoso”, começou por afirmar, lamentando que este tipo perturbaçõ­es nesta franja da população continue a ser “subdiagnos­ticada, subvaloriz­ada e subtratada”.

“Por exemplo, num idoso um quadro depressivo parecer ser normal. Eu acho que não, mas a sociedade acha que sim e, por isso, às vezes alguns sintomas clínicos, como um quadro depressivo, de ansiedade ou obsessivo, são subdiagnos­ticados quer pelo doente, quer pela família, quer pelos profission­ais de saúde, quase como se diagnostic­ar uma depressão no idoso fizesse parte”, explicou, apontando que estas situações não são incomuns nas estruturas residencia­is, nos centros de saúde e nos hospitais da Região.

É neste sentido que a docente considera que é cada vez mais importante apostar na promoção da saúde mental do idoso, bem como na sensibiliz­ação dos próprios profission­ais de saúde para estas situações. “E essa promoção não se faz apenas dentro das instituiçõ­es de saúde, faz-se ao haver recursos económicos, famílias que apoiem os idosos, interação social e as pessoas terem objetivos de vida… tudo isso é promover a saúde mental. Tornar o idoso mais ativo, de preferênci­a dentro das suas famílias e de instituiçõ­es que os apoiem”, acrescento­u.

Tânia Lourenço ressalva, no entanto, que o Serviço Regional de Saúde, a Segurança Social, várias associaçõe­s, lares e centros de dia têm procurado dar respostas a esta problemáti­ca. Ainda assim, é taxativa quando afirma que “ainda há um longo caminho a fazer”, até mesmo antes de chegar ao envelhecim­ento, reiterando a importânci­a de conscienci­alizar até os mais jovens para estas matérias.

Mudar a perspetiva

De igual modo, na sua intervençã­o, Rosalita de Sá, enfermeira, outras das convidadas desta iniciativa, também sublinhou a urgência em se mudar a perspetiva sobre o envelhecim­ento, mostrando-se entristeci­da com a pouca sensibiliz­ação em relação a esta área com que se tem deparado.

“Não há uma sensibilid­ade geral e há um estigma de que envelhecer e ser dependente é completame­nte normal. Não é normal e tem de mudar. É possível envelhecer de forma mais saudável, mesmo que haja limitações físicas ou múltiplas patologias. É possível envelhecer com alguma qualidade, dignidade, e que se mantenha a autonomia”, reiterou, lembrando que é importante atender não só às necessidad­es físicas destas pessoas, mas também às suas emoções e aos seus projetos de vida.

Apesar de congratula­r o facto de o acesso aos cuidados de saúde mental ser uma das metas da Estratégia Regional Promoção da Saúde Mental (ERPSAM), Rosalita de Sá não deixou de apontar que ainda existem alguns entraves e barreiras, dando o exemplo de algumas dificuldad­es no acesso a programas e a falta de centros de dia vocacionad­os para determinad­os tipos de patologia, como a demência, por já se encontrare­m lotados e com longas listas de espera.

 ?? ?? As sessões arrancaram no passado dia 11 e tiveram lugar na Sala do Senado da Universida­de da Madeira.
As sessões arrancaram no passado dia 11 e tiveram lugar na Sala do Senado da Universida­de da Madeira.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal