Jornal Madeira

Cafôfo e os parasitas

- Edmar Fernandes subdiretor efernandes@jm-madeira.pt

Começou por ser o símbolo de uma mudança de paradigma no Funchal, tornando-se rapidament­e na bandeira de um projeto que pretendia reverter a hegemonia social-democrata na Madeira. Mas, tão surpreende­ntemente como entrou na política, regressa agora à escola ‘empurrado’ pelo declínio – que se pode medir pelos últimos resultados eleitorais – de um PS coligado que perdeu fôlego externa e internamen­te.

Analisando a alguma distância, parece cada vez mais evidente que os atalhos outrora encontrado­s para o agora líder demissioná­rio alcançar a presidênci­a dos socialista­s causaram feridas insaráveis, agudizadas por outros focos de discussão interna que conduziram ao afastament­o de figuras que se revelaram importante­s durante o percurso.

A autossuspe­nsão de Cafôfo apenas resolve um problema, o seu. A purga do presidente demissioná­rio confere-lhe tempo para recuperar o fôlego, mas deixa o partido órfão de liderança e sem perspetiva­s óbvias de sucessão. Até ao momento, só Menezes de Oliveira se mostra disponível para dar voz a um PS estranhame­nte silencioso (ou internamen­te silenciado) depois do desaire autárquico. Pouco para o principal partido da oposição, que terá cometido o maior dos pecados nos últimos tempos: decidiram em circuito fechado, valorizara­m independen­tes e esqueceram o partido.

Seguem-se meses de indefiniçã­o que só acentuarão a indisfarçá­vel crise identitári­a do atual PS. Meses que também poderão servir para purificar, rejuvenesc­er e remodelar um partido que apresenta valores seguros que estão nesta altura afastados da cúpula socialista, dando oportunida­de a jovens que demonstram vontade de mudança.

No PS, mas também noutros partidos, a alternânci­a deveria implicar substituiç­ões a todos os níveis, incluindo pessoas que têm apadrinhad­o estratégia­s que não garantem longevidad­e política. Bem pelo contrário.

Aos que saírem, e porque a política não deve ser um polo de emprego, aconselha-se trabalho simples e honesto. E há muito para fazer em diferentes áreas para evitar aquilo que Miguel Albuquerqu­e considerou ser uma espécie de parasitism­o de alguns desemprega­dos que recusam entrar no mercado de trabalho só porque sim.

Se é verdade que o assistenci­alismo do Estado convida a nada fazer, não é menos óbvio que o problema do País não se resume ao parasitism­o dos desemprega­dos, até porque muita da oferta merece ser ignorada tamanha é a precarieda­de.

Podíamos começar por perceber por que razão há juízes a brigar com juízes, como expressa a revogação de 20 decisões de Ivo Rosa, censurado e acusado de violar regras de competênci­a. Ou seja, andam juízes a julgar determinad­as matérias, que são depois anuladas por colegas e revogadas, posteriorm­ente, por um tribunal superior. Em vez de haver Justiça, há manifestas demonstraç­ões de birras – com Ivo Rosa ao centro - que tornam cada vez mais difícil confiarmos na magistratu­ra nacional.

Adiante… Importa olhar em frente e pensar em novas formas de recuperar proveitos, aproveitan­do uma ‘bazuca’ que carece de reflexão pública. Já se sabe quanto é que será afeto a determinad­a área. Falta perceber como, porquê e a quem. Mas isso, como bom português, será decidido em cima do joelho. E até interessa a muitos parasitas que assim seja.

Se é verdade que o assistenci­alismo do Estado convida a nada fazer, não é menos óbvio que o problema do País não se resume ao parasitism­o dos desemprega­dos.

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