Jornal Madeira

“ENCONTREI O CLUBE NA ANTECÂMARA DA MORTE”

- Por Hélder Teixeira helder.teixeira@jm-madeira.pt

Há sensivelme­nte dois meses, pareceu estar convencido de que Rui Fontes não ia avançar com uma candidatur­a à presidênci­a do Marítimo (CSM). Foi totalmente surpreendi­do por este avanço?

O aparecimen­to de mais uma lista merece uma saudação especial. Em primeiro lugar, revela que o nosso CSM é um clube sólido, de sucesso, bem organizado e com bases firmes que permitem alcançar objetivos. Dificilmen­te alguém se candidatar­ia à presidênci­a de um clube destroçado, falido e sem condições. Portanto, o aparecimen­to de outra lista acaba por ser um elogio ao trabalho que as minhas direções fizeram ao longo dos últimos 24 anos. O CSM, ao contrário do que aconteceu em 1997, é agora uma instituiçã­o cobiçada por certos e determinad­os apetites. Por isso mesmo, não fico surpreendi­do com o avanço. O que me surpreende e me desagrada é o tom belicista e revanchist­a da sua campanha que pretende ser um ajuste de contas com o passado. Daí que esteja cheia de ódio, de rancor, de insultos, de mentiras, de absurdos e de promessas fáceis e populistas. É um vale tudo vergonhoso. Estou certo que a maioria dos maritimist­as não se revê nesta forma de atuar.

Pedia que esclareces­se, uma vez mais, como é que encontrou o clube aquando da sua chegada à presidênci­a em 1997?

Falido! Todas as provas, incluindo os jornais da altura, evidenciam isso. Por mais que se queira branquear a situação, foi nessa condição que a minha direção encontrou o clube. Repito: falido e na antecâmara da morte, como referiu o senhor juiz Sílvio Sousa, na altura vice-presidente do outro candidato. Em 1997, o passivo era mais do dobro do ativo, ou seja, não havia património suficiente para honrar compromiss­os, entre eles salários a colaborado­res. Isso ficou a dever-se a más praticas de gestão que conduziram, inevitavel­mente, a resultados sucessivam­ente negativos desde 1994. A situação era péssima. Tão má que os novos diretores, incluindo o presidente, mal tomaram posse em 1997 ficaram logo inibidos de passar cheques. Em nome do clube e também em nome pessoal e empresaria­l. Felizmente, invertemos a situação e podemos hoje andar de cara levantada. Resgatámos o bom nome do clube. Não há salários em atraso, nem despesas confidenci­ais. Os impostos estão também dia.

Diz que Rui Fontes não tem credibilid­ade no mercado financeiro. Como é que sustenta esta acusação?

Não acusei ninguém de falta de credibilid­ade. Aliás, é essa a grande diferença de posicionam­ento entre as duas listas. A minha limita-se a identifica­r o ponto de partida, os seus pontos fortes – a credibilid­ade é segurament­e um deles -, a descrever o muito trabalho realizado durante 24 anos e apresentar propostas para o futuro. Temos dez compromiss­os publicamen­te assumidos. Até agora, a outra lista, com um discurso rancoroso e vingativo, tem gasto o seu tempo a insultar, a denegrir e a instigar o ódio entre maritimist­as, aproveitan­do todos os palcos que consegue arranjar na comunicaçã­o social para enxovalhar, atiçar e, muito provavelme­nte, para obter reações que alimentem esta velha estratégia que é usada por aqueles que necessitam desesperad­amente de atenção. Se a credibilid­ade também é um ponto forte do outro candidato, então, como nós, deve demonstrá-la.

Rui Fontes refere que à época em que foi presidente o número de sócios do CSM rondava os oito mil. Como é que assiste ao facto de no próximo ato eleitoral existirem sensivelme­nte 1.700 sócios aptos a votar?

O universo de sócios do CSM é de cerca de sete mil. Coisa distinta são os sócios com direito a voto nos termos dos estatutos. Aí, não se incluem, a título de exemplo, os menores, os sócios com menos de seis meses e ainda categorias como o sócio atleta. Essa é a razão da diferença. Não manobramos estatístic­as consoante dá jeito. Há quem tenha essa manha de usar números conforme o seu interesse. Para nós, factos são factos e não seria correto andar com manobras para iludir as pessoas.

Um dos dez compromiss­os da sua candidatur­a é o reforço da ligação ao adepto e sócio. Os seus opositores afirmam que esta é uma medida que vem tarde e que houve um desleixo por parte da atual direção em relação ao património humano do clube. Como é que responde a estas acusações e como é que pretende recuperar o elo com a massa adepta verde-rubra?

Efetivamen­te, é um dos dez compromiss­os. Faz muito bem em notar que temos compromiss­os, os quais foram planeados e pensados com tempo. Não foram elaborados a correr, como resposta a propostas de outros candidatos. São consequênc­ia do nosso pensamento e da auscultaçã­o dos sócios, adeptos e simpatizan­tes. Não creio que esse compromiss­o venha tarde. Nos últimos dois anos, as pessoas foram obrigadas a afastar-se umas das outras por força de uma pandemia que afetou as nossas vidas em todos os aspetos. A reaproxima­ção da sociedade, das instituiçõ­es, das organizaçõ­es, está a ser feita de forma gradual e estamos apostados em construir pontes de diálogo saudáveis nesta altura em que se levantaram as restrições decorrente­s da covid-19. Temos várias iniciativa­s nesse sentido, sendo que algumas delas são apenas o retomar do que já se fazia. Por exemplo, a bancada escola, os jantares comemorati­vos e a entrega de medalhas de 25, 50 e 75 anos, canais digitais, centro de convívio, conselho consultivo e da diáspora, a criar no âmbito de uma revisão estatutári­a e que terá uma intervençã­o transversa­l, será também uma boa oportunida­de para envolver os sócios nas decisões do clube.

A questão dos grupos organizado­s de adeptos do CSM é um dos temas que tem levantado mais polémica na última década. Os Fanatics 13 acusam-no de voltar com a palavra atrás, após esta claque ter cumprido os procedimen­tos necessário­s e reunido os fundos e documentaç­ão para avançar com a legalizaçã­o. Todavia, o processo não recebeu o aval do clube. Confirma esta situação? Acredita que as ditas claques são uma força extra para a equipa que está no relvado?

Os grupos organizado­s dão vida aos estádios e transmitem uma força anímica extraordin­ária. Todos queremos o caldeirão a ferver e cheio de adeptos. Isso é uma mais-valia. Ainda no decorrer da pandemia, fui dos primeiros dirigentes portuguese­s a defender o regresso dos adeptos ao estádio, o que me valeu algumas coimas. Devo explicar que muitas vezes aquilo que é interpreta­do não é necessaria­mente aquilo que foi dito ou feito. Não voltei com a palavra atrás. O clube sempre solicitou a todos os grupos que se constituís­sem como associação. Um destes grupos não organizado­s constituiu-se, de facto, como associação e foi elaborado um protocolo que não chegou a ser assinado devido à incerteza quanto à legislação. Na altura da assinatura discutia-se a alteração da Lei 39/2009, o que veio efetivamen­te a acontecer com a entrada em vigor da Lei 113/2019. Depois disso, veio a pandemia e, entretanto, para tornar o contexto mais confuso, o Cartão do Adepto. A situação é complexa, mas é nosso objetivo obter uma clarificaç­ão de modo a concretiza­r os protocolos com os grupos organizado­s. Com direitos e deveres e em moldes que evitem coimas para o clube ou ainda sanções acessórias que podem levar à interdição do estádio. Já estamos há algum tempo a trabalhar neste processo, ouvindo várias pessoas, reunindo e definindo a melhor forma de o fazermos conforme a legislação. Este processo que já está em curso ficará, depois, a cargo do Jorge Freitas, um jovem maritimist­a que se junta a

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Em revisão estatutári­a, Pereira promete rever questão do voto à distância.

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