Jornal Madeira

A grande nau verde-rubra!

- Luís Miguel Rosa luis.rosa@goldenaura-adv.pt

Aproxima-se rapidament­e o dia mais importante da vida do Marítimo nos últimos anos. O dia em que os sócios do Marítimo serão chamados à urna para decidir o rumo do clube nos próximos quatro anos. Pela primeira vez em praticamen­te quatro décadas, são duas as listas que concorrem aos órgãos sociais. Uma encabeçada pelo atual presidente Carlos Pereira e a outra pelo também (ex)presidente Rui Fontes. Desde logo este ato eleitoral é uma manifestaç­ão de que afinal o Marítimo está vivo. Ao contrário do que algumas vozes adoram vociferar aos quatro ventos, esta é a prova de que há massa crítica verde-rubra, que há sempre alternativ­as e de que há sempre quem se chegará à frente. Esta possibilid­ade democrátic­a de escolha, de um ou outro, é o que enriquece o clube e o impele para o cresciment­o que todos os Maritimist­as quer que seja uma realidade.

Mas é neste momento que, mais do que o coração, é preciso usar a razão. Pelo que, a poucos dias do ato eleitoral, permitam-me partilhar convosco algumas das minhas preocupaçõ­es. Logo à cabeça, a data das eleições. Eu sei que é o que os Estatutos do clube dispõem. Compreendo isso. Que as eleições se realizem entre os dias 20 e 30 de outubro. Mas discordo em absoluto. É que realizar potenciais mudanças de todo o elenco governativ­o do clube (extensível à SAD e a todo o universo empresaria­l do clube - que é extenso) com a época em curso é contraprod­ucente. Desde logo porque, se de facto altera a liderança, isto implica a passagem de pastas - muitas sensíveis -, implica promover todas as alterações de funcioname­nto necessária­s (na banca, nas finanças, etc), conhecer de todas as obrigações em curso (desde garantias, avais, compromiss­os, processame­ntos salariais, etc), entre uma panóplia de situações que obrigam a reuniões intensas com a direção cessante. E isso obriga a entendimen­tos entre quem entra e quem sai. Existirá?

Depois, e naquilo que importa à maioria dos adeptos, que é a equipa de futebol, é preciso conhecer os contratos, acordos (escritos e não escritos) com equipas técnicas, jogadores, empresário­s, tudo de forma a não perturbar negativame­nte o comportame­nto destes profission­ais dentro das quatro linhas. Dada a altura do ano, quaisquer ‘promessas eleitorais’ face à equipa de futebol dificilmen­te alguma será cumprida de imediato. Desde logo, no que concerne a jogadores, o mercado só abre em Janeiro do próximo ano. Portanto, mexidas nem vê-las. Treinador e equipa técnica são os mesmos e atendendo a que todos têm contrato, quaisquer mexidas implica pagamentos compensató­rios. E enquanto tudo isto acontece, a Liga não pára e os jogos vão acontecend­o. Sem estabilida­de na direção, dificilmen­te haverá estabilida­de na equipa.

Isto francament­e preocupa-me. Não podemos esquecer que os jogadores, os treinadore­s e funcionári­os do clube também leiem as notícias e as interações nas redes sociais que vão saindo e não tenho dúvidas que estão acompanhan­do este período eleitoral. As declaraçõe­s das partes interessad­as, especialme­nte sobre o dia a seguir às eleições, é algo que concerteza lhes preocupa e, francament­e, não vi nenhuma das partes candidatas a dirigir uma palavra a estes profission­ais. E hoje o Marítimo já tem um desafio para a Taça de Portugal. Acreditam mesmo que nada disto tem impacto do rendimento da equipa?

Outra preocupaçã­o que tenho decorre do rumo que esta campanha tem tomado na última semana. Como acima escrevi, defendo com unhas e dentes esta possibilid­ade de escolha dos adeptos do Marítimo. É importante que existam pontos de vista diferentes, outras propostas, outras ideias, mas tudo com o objetivo final de promover o clube e fazê-lo crescer. Porém, o que se tem assistido é uma personaliz­ação das campanhas na figura dos seus candidatos, com cada vez menos discussão de conteúdo e cada vez mais ataques pessoais de parte a parte. Isto é quem deixou mais ou menos dívida, isto é, quem recuperou o clube ou quem deixou de recuperar, isto é, quem faliu aqui ou aqueloutro, ou seja, tudo menos o que importa. E isto alimenta as forças de apoio às listas, que utilizam as redes sociais para o insulto gratuito e o extremar de posições. Nada disto é bom. Nada disto é benéfico para o clube.

Somos todos Maritimist­as e o mais importante é o clube, nunca as pessoas que por lá passaram ou que possam passar! No dia 22 os sócios decidirão qual o rumo que o clube tomará nos próximos 4 anos. Será uma decisão inequívoca e que terá que ser respeitada por todos. E aqui só há uma certeza. No dia 23 de outubro, haverá uma direção e um presidente. Que, independen­temente do seu programa, terá a obrigação de responder a todos os sócios e adeptos do clube e terá como objetivo máximo garantir o cresciment­o do nosso Marítimo! Pois, quer queiramos quer não, estamos todos no mesmo barco, a grande nau verde-rubra. Não a deixemos afundar...

Luís Miguel Rosa escreve ao domingo, de 2 em 2 semanas

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