Jornal Madeira

Contado ninguém acredita.

- Pedro Nunes Médico-dentista

Era uma vez o “Bragados”. Aqui há dias, foi ao ar. Até aí tudo bem. São coisas que acontecem. Pior foi ao vir para baixo! Desfez-se em mil pedaços. Não restou nadinha. Só escombros, entulho e pó. O ganha pão de alguém tinha explodido e estoirado os planos de uma vida. Por sorte foi só isso mesmo. Planos! As vidas, essas, ainda que eventualme­nte abaladas, ficaram salvaguard­as. Aos infelizes sortudos, tem-lhes valido o cuidado e carinho dos outros.

Valeu-lhes o Bento que, naquele momento, estava a deixar a esposa para mais um dia de trabalho. Valeu-lhes o Eduardo que, assim que sentiu o chão estremecer e soube do que se tratava, acorreu ao local para procurar a eventual presença de vítimas.

Para além destes, valeram-lhes também alguns curiosos. Valeram-lhes os amigos. Os vizinhos. Os Bombeiros. O Presidente da Câmara. O Presidente da Junta. Até, vejam lá, o Presidente do Club Sport Marítimo que, aproveitan­do a viagem a Santana para a inauguraçã­o de uma delegação do maior das ilhas, prontifico­u-se a contribuir, também ele, para o reerguer do mítico restaurant­e. “Que não vos falte areia”, terá dito. Ou não. Sei lá. Provavelme­nte não foi por estas palavras, mas que prometeu a doação das partículas de rochas degradadas que fossem precisas através da sua empresa, lá isso prometeu. Garanto. Uma chapada de luva branca para quem diz que o homem não tem coração. Que gesto nobre esse. Do(ar) areias. Só que vai haver sempre quem veja maldade até em bons gestos. Esses, dizem que só o fez pela veia competitiv­a. Que achou que tinha ouvido alguém falar em 500 e não quis ficar para trás. De facto, ouviu bem. Só que esse número foi apenas o que proprietár­io apontou para avaliar o prejuízo.

Juízo. Juízo e moderação é o que se pede aos “bons vivants” que estavam loucos para voltar a sair à noite. Não é por nada. É só porque li algures que até as discotecas estão com dificuldad­e em arranjar mão de obra. Dizem que a culpa é dos subsídios. Que enquanto a malta estiver a receber o desemprego, prefere não fazer nenhum. Pessoalmen­te não os condeno! Apenas peço a quem manda que mude as regras. Em vez de ser a fundo perdido, transforme­m esse subsídio num empréstimo. O dinheirinh­o não vai faltar, não senhores. Vão ter é que procurar trabalho mais depressa se não quiserem ter que devolver depois durante muito tempo… Por outro lado, convinha também que quem governa tivesse atenção a mais duas coisas! Primeiro, que quem cobra impostos a quem paga o ordenado (suas excelência­s), retenha um pouquinho menos. É que a diferença entre o que paga o patrão e o que recebe o empregado não é nada pequena. Bem sei que desse lado também há muita boca para alimentar. Que cada vez são mais. Que não estão dispostos a abdicar dos vossos luxos. Etc etc etc. Mas caramba! Não acham que também é pornográfi­co apontarem o dedo a quem não quer trabalhar e, ao mesmo tempo, sugarem parte do ordenado de quem o ousa fazer, sem terem mexido uma palha? E atenção que não é só aí. Não vamos entrar sequer nos lucros com a gasolina que já está mais cara que o vinho de pacote! Bolas. Não querem ir levar no mesmo, querem?

Segundo, que os patrões ofereçam as condições que queriam receber se estivessem do outro lado. Salário mais condizente com as funções desempenha­das. Contrato que garanta alguma estabilida­de. No fundo, em ambas, é só calçar os sapatos do outro e ver se o caminho é fácil! Se não for, é porque algum valor se perdeu.

Quem não perdeu nada foi o antigo ministro de sobrenome Vara. Foi ao resort de luxo de Évora durante a pandemia e, assim que o desconfina­mento ganhou forma, voltou para o contacto com a sociedade. Se isso lhe traz algum conforto, não perdeu grande coisa. A maior parte da sua reclusão, foi por nós praticada em idêntica medida. E não cometemos crimes!

Bem, na verdade o senhor também não. “Estive 2 anos e 9 meses a cumprir pena por crimes que não cometi”, não foi o que disse? Como eu me revejo nisso…. Aliás, muitos de nós, penso eu. É que se destes 2 últimos anos estamos mais do que conversado­s, já quanto aos outros 9 meses, tirando os prematuros como você que saem antes do tempo, convém sempre cumprir o isolamento até ao fim.

Enfim, deixemo-nos de rancores. O que lá vai, lá vai…. Seja, portanto, bem-vindo Sr. Dr. Armando. Agora é pensar fora da Caixa e aproveitar esta segunda oportunida­de para seguir carreira! Aviso já que a concorrênc­ia está pior do que nunca. Mas vá. Quem sabe nunca esquece! Aposto que saberá governar-se. Oh se saberá…

Qualquer coisa pode sempre pedir ajuda aos meus amigos do União. Amigos esses que se sentiram atacados nos seus bons nomes. Ofendidos até. Peço então as minhas mais sinceras desculpas. Por momento algum tive intenção de beliscar a vossa irrepreens­ível conduta (não, não me refiro a um tubo que conduz ou leva alguma coisa de um lugar para outro como vem no dicionário, é à postura e atitude). Continuem o excelente trabalho.

Ps: Estou Perdoado?

Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas

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