‘Crise dos chips’ já ameaça vendas na Madeira
São peças minúsculas, mas estão a ameaçar negócios de milhares de empresas a nível mundial e a Madeira não está a escapar incólume. A crise dos chips já está a causar atrasos de quatro a seis meses nas vendas de eletrodomésticos e de carros, por exemplo.
Se pretende comprar um carro novo de classe média alta, ou então um eletrodoméstico mais sofisticado e intuitivo, prepare-se para uma longa espera. A chamada ‘crise dos chips’ já está a ter efeitos preocupantes na Madeira, não só nos stands de automóveis, como o JM já noticiou, mas também nas lojas que comercializam equipamentos de comunicação e eletrodomésticos.
O fecho das fábricas da Europa e da China durante a pandemia, e a dependência que o setor de chips tem de um número reduzido de produtores no mundo, principalmente asiáticos – não só devido ao coronavírus, mas também a bloqueios comerciais – pararam a produção de equipamentos vários.
Hugo Nunes, da Mesa de Distribuição Moderna da ACIF, que inclui os vendedores de eletrodomésticos, material informático e de comunicação, disse ao nosso jornal que a falta de equipamentos já se nota deste o início do ano, mas agravou-se no verão, “um dos picos de vendas, em que tudo o que sejam equipamentos que tenham a ver com comunicação e que carecem de uma placa de rede” para esse fim, faltaram nas lojas, porque as fábricas não tinham disponíveis.
Na análise que fez ao JM, o responsável aponta outras realidades preocupantes que afetam a produção e comercialização deste tipo de equipamentos. No atual contexto, “a questão não é apenas na oferta e na procura, é também porque na origem, a matéria prima está mais cara, com o agravante do custo dos transportes”. Uma situação que não vai melhorar até ao fim do inverno. E mais: a Europa está a passar por um aumento nos custos da energia. “As fábricas vão gastar mais e o custo dos produtos também deverá aumentar para níveis que não vão lembrar a ninguém”.
Hugo Nunes considera que o problema vai agravar-se mais nos próximos meses, podendo afetar as vendas do Natal, que habitualmente é um importante pico de negócios. Como explicou o empresário, da empresa Hntrónica, para além da falta de chips, há carência de semicondutores, que permitem, por exemplo, a ligação automática de diversos equipamentos em simultâneo, precisamente porque comunicam entre si, ou pelo telemóvel do utilizador, através destas peças. “Tudo o que tenha a ver com conetividade, de há dois anos para cá, teve um ‘boom’ no mercado’, e tudo isso carece de placas de rede”. Hugo Nunes salientou que atualmente “90% dos novos
PREÇO DO TRANSPORTE DE UM CONTENTOR DA CHINA
equipamentos, como um termoacumulador, um forno, frigorífico, trabalham com conetividade”.
Com efeito, com a crise da pandemia e as fábricas fechadas, “tudo o que seja o fabrico de semicondutores, de placas de rede diminuiu muito nos últimos dois anos”, e, como tal, os equipamentos estão também parados nas fábricas.
Na Madeira, o problema também já se sente. “Temos clientes para comprar, mas há é o produto para adquirir. Por exemplo, a máquina de lavar roupa, que muitas pessoas já ligam de forma remota, ou um forno, que pode ser ligado remotamente, são produtos que já não se consegue ter à venda.
Custo dos transportes
Por outro, o custo dos transportes, principalmente oriundos da China, aumentou de uma forma “absurda”. Hugo Nunes disse que, de outubro de 2020, o transporte de contentor da China custava entre três a quatro mil dólares e atualmente está nos quinze mil dólares, ou seja, está cinco vezes mais caro. O empresário não tem dúvidas que esta realidade terá efeitos no aumento dos preços dos equipamentos. Como afirmou, o consumidor já sente a falta dos produtos. Há uns meses atrás, podia não sentir, porque se não havia numa loja, encontrava disponível noutra. “Mas, hoje em dia, percorre as lojas de ponta a ponta e não encontra”. Nesta situação, ou desiste, ou compra uma gama inferior à que pretendia.
E, os produtos que ainda estão disponíveis, dentro das características já expostas, vão também faltar. Isso porque, as fábricas não estão a produzir no seu máximo. Não podem. Estão a dar repostas para encomendas de meses. “Ou tenho os produtos, ou acabando, para voltar a ter, vai demorar no mínimo três a quatro meses”.
A agravar a crise dos chips, há o custo dos transportes, o aumento da matéria prima e da energia na Europa.