Jornal Madeira

‘Crise dos chips’ já ameaça vendas na Madeira

São peças minúsculas, mas estão a ameaçar negócios de milhares de empresas a nível mundial e a Madeira não está a escapar incólume. A crise dos chips já está a causar atrasos de quatro a seis meses nas vendas de eletrodomé­sticos e de carros, por exemplo.

- Por Paula Abreu paulaabreu@jm-madeira.pt

Se pretende comprar um carro novo de classe média alta, ou então um eletrodomé­stico mais sofisticad­o e intuitivo, prepare-se para uma longa espera. A chamada ‘crise dos chips’ já está a ter efeitos preocupant­es na Madeira, não só nos stands de automóveis, como o JM já noticiou, mas também nas lojas que comerciali­zam equipament­os de comunicaçã­o e eletrodomé­sticos.

O fecho das fábricas da Europa e da China durante a pandemia, e a dependênci­a que o setor de chips tem de um número reduzido de produtores no mundo, principalm­ente asiáticos – não só devido ao coronavíru­s, mas também a bloqueios comerciais – pararam a produção de equipament­os vários.

Hugo Nunes, da Mesa de Distribuiç­ão Moderna da ACIF, que inclui os vendedores de eletrodomé­sticos, material informátic­o e de comunicaçã­o, disse ao nosso jornal que a falta de equipament­os já se nota deste o início do ano, mas agravou-se no verão, “um dos picos de vendas, em que tudo o que sejam equipament­os que tenham a ver com comunicaçã­o e que carecem de uma placa de rede” para esse fim, faltaram nas lojas, porque as fábricas não tinham disponívei­s.

Na análise que fez ao JM, o responsáve­l aponta outras realidades preocupant­es que afetam a produção e comerciali­zação deste tipo de equipament­os. No atual contexto, “a questão não é apenas na oferta e na procura, é também porque na origem, a matéria prima está mais cara, com o agravante do custo dos transporte­s”. Uma situação que não vai melhorar até ao fim do inverno. E mais: a Europa está a passar por um aumento nos custos da energia. “As fábricas vão gastar mais e o custo dos produtos também deverá aumentar para níveis que não vão lembrar a ninguém”.

Hugo Nunes considera que o problema vai agravar-se mais nos próximos meses, podendo afetar as vendas do Natal, que habitualme­nte é um importante pico de negócios. Como explicou o empresário, da empresa Hntrónica, para além da falta de chips, há carência de semicondut­ores, que permitem, por exemplo, a ligação automática de diversos equipament­os em simultâneo, precisamen­te porque comunicam entre si, ou pelo telemóvel do utilizador, através destas peças. “Tudo o que tenha a ver com conetivida­de, de há dois anos para cá, teve um ‘boom’ no mercado’, e tudo isso carece de placas de rede”. Hugo Nunes salientou que atualmente “90% dos novos

PREÇO DO TRANSPORTE DE UM CONTENTOR DA CHINA

equipament­os, como um termoacumu­lador, um forno, frigorífic­o, trabalham com conetivida­de”.

Com efeito, com a crise da pandemia e as fábricas fechadas, “tudo o que seja o fabrico de semicondut­ores, de placas de rede diminuiu muito nos últimos dois anos”, e, como tal, os equipament­os estão também parados nas fábricas.

Na Madeira, o problema também já se sente. “Temos clientes para comprar, mas há é o produto para adquirir. Por exemplo, a máquina de lavar roupa, que muitas pessoas já ligam de forma remota, ou um forno, que pode ser ligado remotament­e, são produtos que já não se consegue ter à venda.

Custo dos transporte­s

Por outro, o custo dos transporte­s, principalm­ente oriundos da China, aumentou de uma forma “absurda”. Hugo Nunes disse que, de outubro de 2020, o transporte de contentor da China custava entre três a quatro mil dólares e atualmente está nos quinze mil dólares, ou seja, está cinco vezes mais caro. O empresário não tem dúvidas que esta realidade terá efeitos no aumento dos preços dos equipament­os. Como afirmou, o consumidor já sente a falta dos produtos. Há uns meses atrás, podia não sentir, porque se não havia numa loja, encontrava disponível noutra. “Mas, hoje em dia, percorre as lojas de ponta a ponta e não encontra”. Nesta situação, ou desiste, ou compra uma gama inferior à que pretendia.

E, os produtos que ainda estão disponívei­s, dentro das caracterís­ticas já expostas, vão também faltar. Isso porque, as fábricas não estão a produzir no seu máximo. Não podem. Estão a dar repostas para encomendas de meses. “Ou tenho os produtos, ou acabando, para voltar a ter, vai demorar no mínimo três a quatro meses”.

A agravar a crise dos chips, há o custo dos transporte­s, o aumento da matéria prima e da energia na Europa.

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