Jornal Madeira

Vamos falar sobre Saúde Mental?

- Alícia Freitas Psicóloga Clínica e da Saúde

Omês de outubro vem convidar à reflexão em torno da saúde psicológic­a com o assinalar do Dia Europeu da Depressão (4 outubro) e do Dia Mundial da Saúde Mental (10 outubro). Em todo o mundo realizam-se iniciativa­s que promovem a sensibiliz­ação para a importânci­a de falar sobre estes temas, que ficam (ainda) silenciado­s pela vergonha ou medo do estigma. Falar de saúde mental é difícil, pois a acompanhar o sofrimento vivenciado, existe um sentimento de ser julgado pelos outros, um “olhar” de reprovação ou incompreen­são perante a dor emocional. Por vezes é mais fácil esconder ou colocar uma “máscara” que parece disfarçar tudo o que se sente…

Quanto maior a capacidade de autoconhec­imento, de olharmos para “dentro” e entender o que verdadeira­mente sentimos, melhor será a capacidade de tomarmos decisões consciente­s e ajustadas às situações de vida. Relembro o exemplo da atleta Simone Biles que abandonou os Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, assumindo a sua saúde mental como uma prioridade.

O estudo epidemioló­gico “Desenvolvi­mento Sustentáve­l e Sustentabi­lidade dos Cuidados de Saúde Primários” (Ordem dos Psicólogos Portuguese­s, 2021. Lisboa) sobre a Saúde Psicológic­a dos portuguese­s revela que os problemas de Saúde Psicológic­a afetam um em cada cinco portuguese­s (23%). Na realidade, vários estudos reportam um aumento dos problemas de Saúde Psicológic­a (nomeadamen­te de Ansiedade e Depressão) entre os jovens e os adultos (sobretudo aqueles que ficaram desemprega­dos, os pais e mães que tiveram de conciliar o cuidado de menores com a vida profission­al, os profission­ais de saúde, e pessoas com vulnerabil­idades psicológic­as prévias).

Todos nós já experienci­amos períodos de tristeza causados por perdas, dificuldad­es perante mudanças ou adaptação a novas situações de vida. Quando existe aumento do sofrimento que interfere com o funcioname­nto diário, com a forma como nos sentimos (connosco mesmos e com os outros) de forma prolongada no tempo, podemos estar perante uma Depressão. A Depressão é mais do que estar triste ou aborrecido... O diagnóstic­o envolve um conjunto de alterações no humor e em comportame­ntos (alteração no sono, na alimentaçã­o, discussões, ansiedade, etc) que duram, pelo menos, algumas semanas, com dificuldad­e em ativar respostas que ajudem a enfrentar o dia a dia. Pode também “aparecer do nada”, sem estar associada a acontecime­ntos específico­s. Nalguns casos, pode tornar-se tão intoleráve­l que as pessoas ponderam fazer mal a si próprias ou terminar com a própria vida. A Depressão pode surgir em qualquer idade, inclusive nas crianças e adolescent­es. Apesar do sentimento de desesperan­ça que acompanha a Depressão, aceitar ser acompanhad­o é sempre a decisão mais acertada pois a recuperaçã­o emocional requer uma intervençã­o adequada. As terapias psicológic­as ou psicoterap­ias são o “tratamento de primeira linha” recomendad­o e que ajudam a maior parte das pessoas.

Há (ainda) quem pense que pedir ajuda é um sinal de fraqueza, mas costumo dizer que esse passo é uma atitude de coragem, o movimento mais importante para conhecer-se melhor e desenvolve­r competênci­as que ajudem a encontrar respostas adequadas à sua situação de vida.

Vamos falar de felicidade? Tal como se olha no espelho e vê a sua imagem refletida, procure também olhar para o seu interior e perguntar como se sente? O que precisa de mudar? O que precisa de valorizar para cuidar da sua saúde mental?

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