Jornal Madeira

Da suposta superiorid­ade moral

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Depois do anúncio, feito na própria noite eleitoral, onde comunicou a sua saída da liderança do Ps/madeira e o seu abandono do Parlamento, Paulo Cafôfo publicou um artigo de opinião a 5 de outubro no DN, no qual procurava explicar as motivações que o tinham levado a tais opções.

Todo o artigo representa um esforço no sentido de uma justificaç­ão para a sua atitude de abandono.

Mais. Uma atitude que parece fundada numa suposta superiorid­ade moral do autor, que querendo fazer-se parecer diferente dos outros escolhe o caminho reles da insinuação, do mal dizer, do insulto rasteiro para se afirmar impoluto e superior.

No fundo, Paulo Cafôfo prestou-se a um magistral exercício de hipocrisia, no qual consegue a proeza de dizer e desdizer-se em frases consecutiv­as de um mesmo texto.

Aquilo que deveria ser um elencar de argumentos fundados em “princípios” que diz guiarem a sua conduta, transformo­u-se num repositóri­o de ladainhas para justificar­em o seu péssimo resultado eleitoral.

Fica à evidência que Paulo Cafôfo só sabe estar na política quando levado ao colo.

Entrou, sem saber nem como nem onde e de repente estava a ser empurrado para encabeçar uma lista.

Depois de ter sido eleito duas vezes Presidente da Câmara do Funchal, continuou a ser levado por aqueles a quem era útil e que tudo manipulara­m e orquestrar­am dentro do PS, fazendo-o líder do partido e elevando-o a “homem providenci­al”.

Nessa nuvem da ribalta, inebriante e tentadora, a política parecia fácil. Um conto de fadas com sorrisos e abracinhos à mistura.

Estas eleições autárquica­s mostraram a verdadeira fibra de que é feito o professor Cafôfo.

Incapaz de lidar com a contraried­ade, descontent­e com o seu desempenho como deputado, que sempre oscilou entre o medíocre e o banal, Paulo Cafôfo mostra como a sua retórica, “a política como forma de servir”, não é mais do que uma grande farsa.

No dia em que já não é o homem da ribalta, estando eleito como deputado à Assembleia Legislativ­a da Madeira abandona o lugar.

Porquê? Porque na verdade, para si ser deputado é uma coisa menor. Não se sente capaz de desempenha­r um papel de deputado na oposição, que teria de mostrar com propostas, com iniciativa­s legislativ­as, com capacidade parlamenta­r e com muito estudo dos dossiês, o projeto alternativ­o que dizia ter para a Madeira.

Mas não. Paulo Cafôfo não tem fibra para nada disso. Esse é um exercício que exige muito mais do que pequeninas frases feitas, que fazem o sond byte do momento.

Mostrou como não está preparado para ser confrontad­o com opiniões que contrariam as suas afirmações. Mostrou como não tem nem consistênc­ia de projeto nem solidez de conteúdo para se bater como líder da oposição, num parlamento em que tem o maior número de sempre de deputados socialista­s.

No fundo, estamos perante um naufrágio do suposto líder providenci­al que ao primeiro balançar salta do barco e foge.

Encenou o seu humilde regresso à escola, sonhando com uma vaga de fundo que lhe chame pelo nome para que regresse.

É na adversidad­e que se vê a força e a coragem dos políticos, para se baterem pelos seus ideais, pelas suas causas, pelo caminho em que acreditam. Cafôfo mostrou a sua.

Medeiros Gaspar escreve à terça-feira, de 2 em 2 semanas

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