Jornal Madeira

Que tenhamos um país justo e equilibrad­o!

- Paula Margarido Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Advogados

Estamos a regressar aos nossos locais de trabalho, ao presencial, ao encontro com o outro que nos permite alcançar que não estamos sós e que juntos faremos caminho!

A verdade é que constatamo­s que o distanciam­ento que nos foi imposto, por um bem maior – a nossa vida –, tornou-nos mais distantes, egoístas com dificuldad­e em aceitar o próximo, a sua opinião que desvaloriz­amos (“muitocheio­sdenós”) ou que entendemos como uma crítica destrutiva e que tantas vezes constitui uma oportunida­de de renascer. Temos de reaprender “aolharpara­arealidade­para ládanossac­ápsula” e em que o outro é aquele que me transmite os sinais que são tão importante­s para perceber qual o trajeto a percorrer.

Escutemos as pessoas, ouçamos o pulsar da vida, da sociedade. Terá sido esta (genuína) escuta que terá permitido a alguns autarcas alcançar vitória que muitos já haviam anunciado como derrota e que, por isso, têm agora uma responsabi­lidade acrescida – concretiza­r políticas que visam tão-somente o bem comum.

Os políticos, os decisores, por aqui andam para servir e não para ser servidos. E também os empresário­s, para a sustentabi­lidade das suas empresas, devem ponderar os interesses dos seus trabalhado­res, dos seus clientes e dos seus credores.

Nunca se olvide que quem quiser ser “grande”, em termos egoísticos e egocêntric­os, será escravo dessa sua grandeza que o limitará na adoção de decisões adequadas e justas.

Segundo o mencionado na edição do Expresso do pretérito dia 16 de outubro, no próximo ano o país deverá receber 9117€ milhões de fundos europeus que representa­m mais do dobro dos fundos que foram recebidos no ano de 2019.

Logo, Portugal receberá, em média, cerca de 25 milhões por dia. Mas, para tanto, terá de efetuar alterações legislativ­as e executar novos investimen­tos públicos.

Ora, a proposta de Orçamento de Estado para 2022 prevê 7317€ milhões (cerca de 3,25% do PIB) para o investimen­to na ferrovia, na expansão das linhas do metro, na digitaliza­ção das escolas, nos equipament­os de saúde, na habitação a custos acessíveis e em demais serviços públicos.

Contudo, o investimen­to público tantas vezes anunciado não é executado. E quantas vezes as necessária­s alterações legislativ­as vêm desacompan­hadas da convenient­e reflexão, análise sistemátic­a e verificaçã­o do direito comparado, sendo exemplo disso os projetos de lei sobre as ordens profission­ais. Os fios das leis devem ser ligados, sob pena de cairmos em impulsos legislativ­os desgarrado­s da realidade e que apenas se resumem a operações de cosmética.

O Orçamento de Estado prevê, ainda, para a área da Justiça uma despesa no valor de 2487€ milhões, ou seja cerca de 0,1% da despesa total, e uma receita no montante de 1071€ milhões.

Alcançando cada um de nós que o investimen­to público é essencial, mormente num período de recuperaçã­o da economia, a verdade é que a Justiça é aquela distinta senhora que caminha ao lado dos cidadãos, protegendo-os, salvaguard­ando os seus direitos, liberdades e garantias. Daí que que careça de mais meios financeiro­s para que as ferramenta­s que utiliza não se tornem obsoletas, suscitando, por isso, uma Justiça que pesarosame­nte se vai tornando mais lenta e, consequent­emente, injusta.

Não há sociedades perfeitas, nem leis perfeitas, apenas recai sobre nós o dever de não desperdiça­r a oportunida­de de com transparên­cia e integridad­e aproveitar cada momento para fazer acontecer um país justo e equilibrad­o que conta, sempre, com o outro!

Paula Margarido escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas

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