Jornal Madeira

Uma (des)aposta na Investigaç­ão

-

De acordo com a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2021, estão destinados 662 milhões de euros para este sector. Os problemas, porém, começam a ser detectados depois de uma pequena análise aos números.

Segundo a previsão de execução do OE para 2021, dos 662 milhões de euros aprovados para a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), cerca de 14,8% (cerca de 98 milhões de euros) poderão não ser executados até ao final deste ano.

Ao contrário do OE 2021, a proposta de OE 2022 não contém o total da verba destinada à FCT. Qual será o investimen­to na FCT no próximo ano? Só o Governo sabe, mas é importante que todos o saibamos também.

Três dias após a apresentaç­ão da proposta, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior esclareceu que o OE 2022 totaliza 621 milhões. Não posso deixar de citar a desoladora resposta do MCTES que, quando questionad­o pelo Público a respeito desse investimen­to, indicou consagrar “um aumento efectivo da execução anual da FCT em 10%, cerca de 56 milhões de euros". Porquê desoladora?

Porque esse aumento em 10%, só é positivo se, desta vez, toda a verba proposta para 2022 for efectivame­nte executada, algo que já sabemos que não irá acontecer este ano. Não se compreende como os 14,8% para Investigaç­ão e Desenvolvi­mento consagrado­s na proposta do OE 2021 não foram executados, e depois vem-se a público afirmar que a proposta para 2022 é superior (em termos de execução), mas que na verdade, é inferior em cerca de 41 milhões de euros do orçamento anterior (662 milhões, em 2021, passam a 621 milhões, em 2022).

A Investigaç­ão no contexto regional, mais concretame­nte na Universida­de da Madeira, tem uma realidade também nada animadora. Na sessão de abertura do 8.º Encontro Anual do Centro de Química da Madeira (CQM), ocorrida no início do mês, foram apresentad­os vários dados, alguns fascinante­s e outros assustador­es, que merecem ser realçados.

O Coordenado­r Científico do Centro, João Rodrigues, indicou que até Fevereiro de 2022, o CQM perderá 17 investigad­ores que colaboram actualment­e em diversos projectos. Ao longo dos anos, este centro tem vindo a melhorar e a demonstrar ter um enorme potencial, do nível regional ao internacio­nal. Nos últimos 16 anos, teve um total de 616 publicaçõe­s, uma média de 38,5 por ano. Desde o início de 2020, já alcançou umas impression­antes 125 publicaçõe­s com um factor de impacto médio (leia-se, com uma capacidade média de dispersão e de influência na comunidade científica internacio­nal) superior aos últimos doze anos (excepto 2015).

Ao contrário do OE 2021, a proposta de OE 2022 não contém o total da verba destinada à FCT.

Não se compreende como é que a única unidade de investigaç­ão integralme­nte sediada na Região classifica­da como “Excelente” e responsáve­l por 40% das publicaçõe­s da UMA em 2020, não é apoiada de forma adequada. Os resultados estão à vista de todos, pelo que só se necessita, urgentemen­te, de maior investimen­to.

Sobre a proposta de OE 2022, creio que o Ministério acredita ser suficiente. Só espero que não acredite que a Ciência e a Tecnologia entraram em saldos!

Alex Faria escreve à quinta-feira, de 4 em 4 semanas

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal