Regiões têm melhorado leis em prol dos professores
A classe docente na Madeira também se debate com vários problemas, mas, na opinião do secretário-geral da FENPROF, estes estão em melhores condições do que no continente.
Não há vontade, mas também não há coragem para meter mãos a este trabalho, que é complexo, difícil, que terá resistências, mas que tem de se fazer qualquer. Não podemos deixar andar até morrer.
Há problemas que são transversais à classe docente, independentemente do local onde os professores estejam colocados, mas o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF) admite que, nas regiões autónomas, os Governos têm sabido “contornar a legislação nacional para melhor”, no que diz respeito aos direitos destes profissionais.
Recentemente na Madeira para participar no Encontro do 1.º Ciclo do Ensino Básico, organizado pelo Sindicato dos Professores da Madeira, Mário Nogueira reconheceu, em declarações ao nosso Jornal, que “apesar de tudo, as regiões da Madeira e Açores têm conseguido, em alguns aspetos, contornar alguns aspetos que a lei nacional tem” em benefício dos docentes, o que tem atraído profissionais para as ilhas.
Contudo, dada a crescente falta de docentes em Portugal continental, o secretário-geral da FENPROF defendeu que tem de haver medidas para atrair mais a fixação de docentes no território, senão “daqui a uns tempos já não tem ninguém, praticamente. As pessoas começam a fugir. Hoje em dia, as pessoas vão para a Madeira, Açores e interior do País. Onde não há professores é em Lisboa, Setúbal e Algarve, porque o custo de vida é de tal ordem e as condições são tão baixas que não atraem professores, que não podem pagar para trabalhar”.
Mário Nogueira manifestou as suas preocupações sobre a crescente falta de professores no País, um problema que tem vindo a afetar outros países da Europa e não só. São precisas medidas urgentes para inverter a situação, ainda mais tendo em conta que serão milhares os que vão se aposentar nesta década, um problema que vai afetar ainda
Só conseguimos ver o ministro com o cachecol de Portugal ao pescoço para agraciar os jogadores do futsal. Já pensámos pedir uma audiência e irmos todos de fato de treino. Pode ser que o senhor ministro assim, por engano, até receba as organizações sindicais.
mais o 1.º ciclo, disse.
“Não gosto de pôr as coisas ao ponto de um dramatismo de que a situação é irreversível e que cairemos numa desgraça, mas é evidente que quanto mais tempo adiarmos uma intervenção global, de reorganização de currículos e do próprio sistema de ensino e dos ciclos, de reflexão e reorganização do regime de docência, mais os problemas se irão arrastar”, sublinhou, apontando, por exemplo, que no 1.º ciclo a saída de docentes será notada de forma significativa, dada a idade média de professores perto da reforma.
A agravar a situação, a carreira não tem atraído os jovens, uma vez que, nas últimas duas décadas, houve uma quebra de 70% no número de estudantes que procuravam os cursos via ensino. “Sabemos que isto está a acontecer ao mesmo tempo que está a sair tanta gente. Deixou-se envelhecer de tal ordem a profissão que nesta década saem perto de 60% dos professores”.
Perante todos estes problemas que afetam a classe e a profissão e, como consequência, a própria qualidade da Educação em Portugal, Mário Nogueira queixou-se da falta de coragem dos sucessivos Governos em intervir com soluções efetivas, a começarem pelo 1.º ciclo. “Não há vontade, mas também não há coragem para meter mãos a este trabalho, que é complexo, difícil, que terá resistências, mas que tem de se fazer. Não podemos deixar andar até morrer”.
O secretário-geral da FENPROF queixou-se, por outro lado, da falta de reconhecimento por parte do Governo da República em relação aos professores, que não se têm demitido das suas funções nem da sua missão, como se viu durante a pandemia, por um lado, e, por outro, nos vários sucessos que o sistema de ensino tem tido graças ao trabalho da classe, como a diminuição das taxas de abandono escolar e aumento dos níveis de sucesso.
Mário Nogueira,
secretário-geral
Qual o reconhecimento? “Temos uma proposta de Orçamento de Estado em que, em mais de 300 páginas, quase meio milhão de caracteres, as palavras ‘professor’, ‘professora’ ou professores não aparecem nem uma única vez”, enfatizou.
Insistindo que é necessário olhar para a Educação no sentido de resolver os problemas que afligem o setor, Mário Nogueira criticou o ministro da tutela, com quem a FENPROF não tem conseguido reunir-se. “Ele não dá sinais de vida”. A última reunião foi a 22 de janeiro de 2020. O dirigente sindical disse que, desde essa data, “só conseguimos ver o senhor ministro com o cachecol de Portugal ao pescoço para agraciar os jogadores do futsal. Já pensámos um dia destes pedir uma audiência e irmos todos de fato de treino, pode ser que o senhor ministro assim, por engano, até receba as organizações sindicais”.