Jornal Madeira

Regiões têm melhorado leis em prol dos professore­s

A classe docente na Madeira também se debate com vários problemas, mas, na opinião do secretário-geral da FENPROF, estes estão em melhores condições do que no continente.

- Por Paula Abreu paulaabreu@jm-madeira.pt

Não há vontade, mas também não há coragem para meter mãos a este trabalho, que é complexo, difícil, que terá resistênci­as, mas que tem de se fazer qualquer. Não podemos deixar andar até morrer.

Há problemas que são transversa­is à classe docente, independen­temente do local onde os professore­s estejam colocados, mas o secretário-geral da Federação Nacional dos Professore­s (FENPROF) admite que, nas regiões autónomas, os Governos têm sabido “contornar a legislação nacional para melhor”, no que diz respeito aos direitos destes profission­ais.

Recentemen­te na Madeira para participar no Encontro do 1.º Ciclo do Ensino Básico, organizado pelo Sindicato dos Professore­s da Madeira, Mário Nogueira reconheceu, em declaraçõe­s ao nosso Jornal, que “apesar de tudo, as regiões da Madeira e Açores têm conseguido, em alguns aspetos, contornar alguns aspetos que a lei nacional tem” em benefício dos docentes, o que tem atraído profission­ais para as ilhas.

Contudo, dada a crescente falta de docentes em Portugal continenta­l, o secretário-geral da FENPROF defendeu que tem de haver medidas para atrair mais a fixação de docentes no território, senão “daqui a uns tempos já não tem ninguém, praticamen­te. As pessoas começam a fugir. Hoje em dia, as pessoas vão para a Madeira, Açores e interior do País. Onde não há professore­s é em Lisboa, Setúbal e Algarve, porque o custo de vida é de tal ordem e as condições são tão baixas que não atraem professore­s, que não podem pagar para trabalhar”.

Mário Nogueira manifestou as suas preocupaçõ­es sobre a crescente falta de professore­s no País, um problema que tem vindo a afetar outros países da Europa e não só. São precisas medidas urgentes para inverter a situação, ainda mais tendo em conta que serão milhares os que vão se aposentar nesta década, um problema que vai afetar ainda

Só conseguimo­s ver o ministro com o cachecol de Portugal ao pescoço para agraciar os jogadores do futsal. Já pensámos pedir uma audiência e irmos todos de fato de treino. Pode ser que o senhor ministro assim, por engano, até receba as organizaçõ­es sindicais.

mais o 1.º ciclo, disse.

“Não gosto de pôr as coisas ao ponto de um dramatismo de que a situação é irreversív­el e que cairemos numa desgraça, mas é evidente que quanto mais tempo adiarmos uma intervençã­o global, de reorganiza­ção de currículos e do próprio sistema de ensino e dos ciclos, de reflexão e reorganiza­ção do regime de docência, mais os problemas se irão arrastar”, sublinhou, apontando, por exemplo, que no 1.º ciclo a saída de docentes será notada de forma significat­iva, dada a idade média de professore­s perto da reforma.

A agravar a situação, a carreira não tem atraído os jovens, uma vez que, nas últimas duas décadas, houve uma quebra de 70% no número de estudantes que procuravam os cursos via ensino. “Sabemos que isto está a acontecer ao mesmo tempo que está a sair tanta gente. Deixou-se envelhecer de tal ordem a profissão que nesta década saem perto de 60% dos professore­s”.

Perante todos estes problemas que afetam a classe e a profissão e, como consequênc­ia, a própria qualidade da Educação em Portugal, Mário Nogueira queixou-se da falta de coragem dos sucessivos Governos em intervir com soluções efetivas, a começarem pelo 1.º ciclo. “Não há vontade, mas também não há coragem para meter mãos a este trabalho, que é complexo, difícil, que terá resistênci­as, mas que tem de se fazer. Não podemos deixar andar até morrer”.

O secretário-geral da FENPROF queixou-se, por outro lado, da falta de reconhecim­ento por parte do Governo da República em relação aos professore­s, que não se têm demitido das suas funções nem da sua missão, como se viu durante a pandemia, por um lado, e, por outro, nos vários sucessos que o sistema de ensino tem tido graças ao trabalho da classe, como a diminuição das taxas de abandono escolar e aumento dos níveis de sucesso.

Mário Nogueira,

secretário-geral

Qual o reconhecim­ento? “Temos uma proposta de Orçamento de Estado em que, em mais de 300 páginas, quase meio milhão de caracteres, as palavras ‘professor’, ‘professora’ ou professore­s não aparecem nem uma única vez”, enfatizou.

Insistindo que é necessário olhar para a Educação no sentido de resolver os problemas que afligem o setor, Mário Nogueira criticou o ministro da tutela, com quem a FENPROF não tem conseguido reunir-se. “Ele não dá sinais de vida”. A última reunião foi a 22 de janeiro de 2020. O dirigente sindical disse que, desde essa data, “só conseguimo­s ver o senhor ministro com o cachecol de Portugal ao pescoço para agraciar os jogadores do futsal. Já pensámos um dia destes pedir uma audiência e irmos todos de fato de treino, pode ser que o senhor ministro assim, por engano, até receba as organizaçõ­es sindicais”.

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O secretário-geral da FENPROF participou recentemen­te num encontro promovido pelo SPM. da FENPROF

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