Jornal Madeira

O importante já não mora aqui

- Emanuel Gomes Professor

Pelos resultados e análises destas últimas autárquica­s, Machico deixou de ter a atenção política de outrora. Na comunicaçã­o social, Machico é hoje uma nota de rodapé. Longe estão os tempos da terra que fazia a diferença. Daquela terra primeira que prendia olhares e atenções e onde tudo era diferente do resto da Região. Passou de cobiçada exceção a insossa banalidade. O tempo e a vulgaridad­e dos intervenie­ntes locais trouxeram tudo para um nível miniatural. Para além dos nativos, fervorosos e orgulhosos, já poucos se interessam pelos destinos, fortunas ou infortúnio­s desta terra de Machim que dantes marcava o balançar da batuta política regional.

Percebe-se que, para o maior partido regional, os objetivos de hoje não são os mesmos de outrora. Uma verdade assumida na comunicaçã­o social. Machico e alguns outros não entraram na equação social democrata. São remotos os tempos da pujança partidária que apostava sempre no pleno. Hoje, para garantir o mais importante, vão alguns anéis, mas ficam os dedos. E Machico ficou agora numa argola solta onde só o PS sabe dar o nó.

Não há que procurar culpados no PSD. Porque, em última instância, só o eleitorado deve responder pelas suas opções. E aqui mora um pedacinho de Portugal. Daquele país que vive ainda dos cravos e canções de Abril. Continua um chão fértil na mão dos socialista­s. Não há culpados no PSD, mas há responsáve­is. Responsáve­is pela fraca luta que este partido dá para conquistar votos e simpatias neste município. Há que admitir que a estratégia renovadora foi um fiasco em Machico. Mas mantem-se sem grandes alterações. As alternativ­as, os novos protagonis­tas, nunca estiveram à altura daquilo que o eleitorado exige para depositar a sua maior confiança. O eleitorado de Machico é muito exigente com o PSD, o que reflete o espelho do País. Mas isso já todos sabemos. Ou se calhar nem todos.

Conquistar mais um vereador ou alguns lugares nas assembleia­s não pode escamotear a dura verdade. Esta foi a segunda maior derrota do partido nas autárquica­s. Pior só em 2017. Mas pior do que isso era impossível. Há que reconhecer os méritos alcançados a nível regional, há que louvar a vitória na Câmara do Funchal. Mas também é momento para apontar o que de mal se tem feito em Machico. E mudar de rumo se houver capacidade para isso. Porque Machico precisa do PSD. Como já se provou no passado, só o PSD consegue governar este concelho no rumo certo. Mesmo que nem sempre seja reconhecid­o pela maioria da população.

Não é com este PS, ainda ligado ao cordão umbilical da esquerda radical, que Machico vai atingir os melhores objetivos. Com este PS, que também nada risca no partido regional, apesar do volume de votos que lhes entrega desde sempre, ao contrário da Ponta do Sol, Machico vai continuar suspenso. Ou então vai sendo notícia pelas piores razões. Vai sendo falado pela política lacrimosa dos coitadinho­s, pela estagnação de tudo o que poderia ser relevante para o desenvolvi­mento do município ou então pelos episódios hilariante­s do convida-desconvida o Presidente do Governo, como se já toda a gente não conhecesse essas manhas e estratégia­s de vitimizaçã­o desde o tempo em que a Câmara ainda usava batina e deixava convites à porta da Quinta Vigia, durante a noite, para depois culpar a ausência do Alberto João, logo pela manhã do dia seguinte.

Estamos em 2021. O Mundo mudou. A Madeira também. Mas em Machico, ao que parece, nem mudam os tempos nem mudam as vontades.

Emanuel Gomes escreve ao domingo, de 4 em 4 semanas

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