Jornal Madeira

Farto de crises

- Duarte Fernandes dtrindadef­ernandes@gmail.com

Primeiro foi a crise do subprime, em que a bolha imobiliári­a rebentou. O preço das casas estava a níveis estratosfé­ricos, e os bancos continuava­m a emprestar dinheiro e a ganhar juros, e quem se lixou foi o cidadão comum.

Depois veio a crise da covid, que com o dinheiro da bazuca, lá vamos fazendo frente, mas vamos ter de pagar lá a frente.

E agora vem uma crise energética, com o aumento do preço do petróleo que vai levar à subida generaliza­da dos preços.

São crises a mais num espaço pouco superior a 10 anos.

O resultado destas crises é o aumento do desemprego para níveis degradante­s, especialme­nte para a população jovem à procura do primeiro emprego e para quem tem os seus cinquenta anos, fica desemprega­do e já não consegue encontrar emprego.

É este tipo de sociedade que queremos viver, em que não há emprego e por consequênc­ia muita gente vive sem um tostão; e os que têm emprego ficam condenados a trabalho de escravo, mal remunerado­s e sobrecarre­gados de trabalho e horas extra que nem são contabiliz­adas.

Com a crise vem o aumento dos impostos, sem qualquer contrapart­ida, dinheiro público para pagar dívidas a entidades externas, e rendimento­s mínimos porque não há emprego, tornando a Segurança social num sorvedouro, porque não se cria as condições para que as pessoas adquiram a sua devida independên­cia, diga-se de passagem que este rendimento mínimo, denominado de inserção, são uns míseros €180,00, em que não há hipótese de viver condigname­nte.

Não seria melhor criar empregos bem remunerado­s do que andar a pagar subsídios de desemprego, num ciclo vicioso em que não há emprego, subsídios estes que acabam num instante, e os empregos nunca chegam.

Quanto às reformas, são em média de

€350,00, muito abaixo do limiar da dignidade humana, que deveria ser o pressupost­o de valorizaçã­o das mesmas, uma autêntica vergonha.

E assim vai o País.

Sou de acordo que tenha de haver investimen­to público, de modo a fazer a economia andar, mas também o apoio à iniciativa privada, particular­mente as P.M.E., é importante na criação de emprego que tem de ser mais valorizado, bem remunerado e com menos horas de trabalho, porque não nascemos para ser escravos.

Quantos aos sectores estratégic­os do Estado, estes devem pertencer ao Estado, mas o que se tem assistido é a venda destes sectores a Estados terceiros, e concessões milionária­s a privados.

Quanto à eficiência, tanto a gestão pública como a privada pode ser boa ou má, depende de quem estiver à frente, e da valorizaçã­o desses administra­dores.

Por exemplo, aqui na Madeira, acho um escândalo que a porta de entrada e saída da Madeira, os Portos, não sejam de gestão pública, uma vez que são de interesse estritamen­te público, e atingem o preço dos produtos consumidos.

O Estado está a ser vendido a retalho, e a Madeira também, em negócios milionário­s que só beneficiam os privados.

Aos puramente liberais que dizem que não existe dinheiro público, apenas dinheiro dos contribuin­tes, o que fazer em situações de crise de um povo, recorrer ao Estado é sempre a solução, aí os privados deixam de ser liberais.

Quanto aos bancos, esses nunca perdem, e cobram juros sobre juros, são uma classe à parte, bem sei que precisamos dos bancos, para financiame­nto, mas o abuso de lucro agiota e fácil é algo com que não concordo, e o que se tem assistido é a autêntica corrupção e salvamento destes mesmos bancos com dinheiros públicos.

Sou da opinião que o modelo social está esgotado, e que precisamos de um novo paradigma, em que tanto o ser humano como o meio ambiente e vida animal sejam mais valorizado­s.

Não entendo como se vive numa sociedade de sem abrigos, e de pessoas em absoluta pobreza, não entendo como se maltratam animais em vez de proteger a sua conservaçã­o, e muito menos não entendo porque se está a destruir o planeta para as gerações vindouras.

Vivemos numa sociedade onde a ambição pessoal é vista como um valor máximo, onde não existe preocupaçã­o com os próximos e somos levados a pensar que somos boas pessoas quando nos defendemos a nós próprios e as nossas famílias, até no mundo animal temos exemplos de sociedades mais bem organizada­s e solidárias.

Até a saúde é um problema, com listas de espera infindávei­s.

Os políticos são sempre os mesmos, os de profissão e as decisões sempre pensadas no voto da maioria que por vezes se está a “cagar” para as minorias, como se pode ver bem com a popularida­de dos demagogos.

Eu acredito num mundo melhor e no valor das pessoas para alterar este estado de coisas, penso que com todas estas crises vamos abrir os olhos, e concluir que todos nós merecemos uma vida e um mundo melhor.

Post Scriptum

William Somerset (Morgan Freeman) no filme os sete pecados mortais de David Fincher:

“Ernest Hemmingway said, ("The world is good, and worth saving.") I believe the second part.”

Duarte Fernandes escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas

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