ONU condena "golpe militar" em curso
A Alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou ontem o golpe de Estado em curso no Sudão, e apelou aos militares para "respeitarem a ordem constitucional (...) e se retirarem das ruas".
Bachelet sublinhou numa declaração que o golpe militar ameaça o Acordo de Paz de Juba, assinado em 2020, ao fim de décadas de conflito no Sudão, e "põe em risco os importantes progressos alcançados na via da democracia e dos direitos humanos".
"Seria desastroso se o Sudão regredisse, depois de ter posto fim a décadas de ditadura repressiva", disse a alta-comissária, sublinhando que a consolidação da democracia há muito que é exigida pelos sudaneses, inclusive nas manifestações públicas ontem realizadas.
A antiga Presidente chilena instou os militares sudaneses a "resolverem através do diálogo e da negociação as divergências com a componente civil do Conselho de Transição", criado em 2019, após o golpe que derrubou o Governo de Omar al-bashir.
Bachelet lamentou igualmente a detenção do primeiro-ministro sudanês, Abdullah Hamdok, assim como da sua mulher, de vários ministros e de representantes proeminentes da sociedade civil sudanesa, pelos militares esta manhã, e apelou à sua "libertação imediata". Os detidos encontram-se em paradeiro desconhecido.
Michelle Bachelet acrescentou que os cortes dos serviços de internet e das redes de comunicação móvel no Sudão na sequência do golpe violam o direito internacional e apelou à restauração imediata destas telecomunicações "porque é essencial que as pessoas recebam informações, particularmente nestas circunstâncias tristes".
O presidente do Conselho Soberano sudanês, o mais alto órgão de poder no processo de transição do Sudão, general Abdel-fattah al Burhan, dissolveu ontem o Governo e o próprio conselho, horas depois de os militares prenderem o primeiro-ministro.
Estados Unidos, Alemanha e França, entre outros países, condenaram igualmente o golpe de Estado e apelaram à libertação dos dirigentes civis sudaneses.