Jornal Madeira

Isolamento geográfico a três lentes em exposição

‘Sozinho, mas não só’, o projeto da autoria de Carolina Marcos Caldeira que estudou a condição de insularida­de numa estadia de 18 dias nas Selvagens, está patente na Galeria da Fundação Cecília Zino.

- Por Catarina Gouveia catarina.gouveia@jm-madeira.pt

Aideia partiu do isolamento social imposto em 2020, que Carolina Marcos Caldeira quis levar mais longe. Nomeadamen­te, até às Ilhas Selvagens.

A artista multidisci­plinar formada em Ciências Psicológic­as propôs olhar para a arte e para a saúde mental como um todo que se complement­a e desmistifi­ca em ‘Sozinho, mas não só’, e o resultado está reunido numa exposição patente na Galeria da Fundação Cecília Zino.

O projeto consiste na construção de um manual de ajuda para situações de stress, ansiedade e pânico, associadas ao isolamento e outros contextos de sofrimento. A isto, junta-se uma experiênci­a fotográfic­a realizada pela autora do projeto e dois artistas convidados - André Moniz Vieira e Juliana Lee, que está aberta ao público em forma de exposição desde segunda-feira na Galeria da Fundação Cecília Zino.

O manual, disponível online, resulta da colaboraçã­o com profission­ais de saúde mental da plataforma Rumo, tendo sido inspirado no acompanham­ento de uma equipa de Vigilantes da Natureza do IFCN - Instituto das Florestas e Conservaçã­o da Natureza, numa estadia nas Ilhas Selvagens que decorreu durante 18 dias, entre 30 de agosto e 17 de setembro deste ano.

As estratégia­s presentes neste manual são “baseadas em exercícios que usam tanto o foco mental como alguns movimentos corporais”. Exercícios simples e próprios a realizar em qualquer lugar sossegado, que permitem desfocar a mente do foco de ansiedade, conforme explicou aos jornalista­s Carolina Marcos Caldeira na abertura da exposição que se estende por duas salas da galeria e que assinala também o 50.º aniversári­o da Reserva Natural das Ilhas Selvagens.

A ideia de utilizar a fotografia como componente visual surgiu da ambição de “transparec­er, para imagem, a experiênci­a de isolamento geográfico e de contemplaç­ão”, prosseguiu a artista, que destacou a quebra nas atividades e preocupaçõ­es rotineiras, aquilo a que chama de “desconstru­ção de comportame­nto”, como a maior dificuldad­e sentida durante o período passado nas Selvagens.

A escolha do lugar de pesquisa para a conceção de ‘Sozinho, mas não só’ foi estrategic­amente pensada, tendo em conta que o projeto pretendia tratar a temática do isolamento e insularida­de.

Assim, com o financiame­nto da Dgartes ao abrigo do programa de Apoio em Parceria – Arte e Saúde Mental, com uma verba de cinco mil euros, uma equipa de profission­ais da Rumo e os três artistas juntaram-se nesta viagem para experienci­ar o impacto de estarem geografica­mente isolados numa ilha desabitada, com foco na desmistifi­cação da importânci­a da introspeçã­o e da prática terapêutic­a do acompanham­ento psicológic­o.

O resultado está à vista, no terceiro piso do n.º10 da Rua do Bettencour­t, até 5 de novembro, e em www.sozinhomas­naoso.pt, onde pode ser descarrega­do gratuitame­nte o manual de ajuda.

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