Madeira: “amiga” do idoso, com problemas por resolver
Com o índice de envelhecimento a dar claros sinais de agravamento pela Europa fora (e não só), novos desafios impõem-se aos governos e sociedades, que têm em mãos a necessidade de repensar as suas repostas (muito além da área da saúde) para esta realidade demográfica.
Na Região não é exceção, havendo a previsão de que este rácio atinga os 429 idosos por cada 100 jovens em 2080, segundo uma projeção do Instituto Nacional de Estatística. Mas é o arquipélago madeirense um bom lugar para envelhecer? Que falhas e problemas continuam por superar no que diz respeito a esta franja da população?
Partindo destas interrogações, o JM procurou ouvir diversos profissionais (e não só) que lidam de perto com as problemáticas desta faixa etária e a resposta foi unânime. Sim, a Madeira é um bom lugar para envelhecer, garantem. No entanto, não deixaram de ser taxativos quando apontam que existem lacunas e desafios que urgem respostas e políticas públicas mais incisivas.
JOÃO VASCONCELLOS E SÁ, ADMINISTRADOR DA DILECTUS
João Vasconcellos e Sá não tem dúvidas: envelhece-se bem na Madeira, já que o bom clima, a segurança e a tranquilidade que a ilha proporciona respondem aos anseios mais elementares desta faixa etária. Não obstante, o profissional considera que há que assegurar que a terceira idade tem a possibilidade de viver de acordo com as suas preferências, destacando a importância de mudar o estigma que ainda existe em relação a esta etapa da vida e de satisfazer o idoso, em especial nas estruturas residenciais, na lógica de “cliente” e “não de utente”.
“Cliente é aquele que quer vir para estas estruturas e viver como quer e não como um regulamento diz que vai viver. É tratá-los como pessoas que ainda estão vivas e que vêm para aqui para viver e não para morrer. Não é decidir o que eles querem fazer, mas auscultá-los e pôr à disposição”, explicou, lembrando que se a saúde tem dado mais anos à vida, estas instituições e a sociedade devem procurar “dar mais vida aos anos”. “Dizer isto é fácil, fazer custa e é muito mais difícil. E a Madeira ainda tem um longo caminho a percorrer”, reconheceu.
Facilitar o apoio ao nível jurídico, administrativo e económico-financeiro, como a sua instituição já disponibiliza, e assegurar “um acesso simpático à saúde”, em especial com a possibilidade de recorrer a privados, são outros dos pontos cruciais a reavaliar, defendeu João Vasconcellos e Sá.
RITA FIGUEIREDO, DOCENTE E ENFERMEIRA ESPECIALISTA EM GERIATRIA
Para Rita Figueiredo, a Região “é o sítio perfeito para envelhecer”, não só pelo clima que permite fazer atividades ao ar livre e que é favorável para pessoas com problemas de saúde, mas também pela segurança, tranquilidade e solidariedade da sua população. A isto acrescenta-se ainda o facto de considerar que, apesar das lacunas, “o serviço regional de saúde dá resposta” e “tem uma boa qualidade”, sem esquecer que a Madeira
“foi a primeira zona o País a ter um serviço de ajuda domiciliária gratuito”, algo que considera ser indicador “de que temos uma certa qualidade e nos garante alguma segurança para as pessoas mais velhas”.
No entanto, são ainda várias as preocupações que a enfermeira coloca em cima da mesa, a começar pela ainda grande lista de espera para os lares. “Neste momento, ainda há muitas pessoas em situação de grande dependência que não têm um sítio para serem cuidadas e que as famílias não têm as condições necessárias”, constatou, apontando ainda que são também cada vez mais os idosos que cuidam de idosos ou que ficam sozinhos e sem vigilância.
“É difícil imaginarmos chegarmos ao fim da nossa vida naquela situação, com os cuidadores a se desdobrarem, completamente exaustos para conseguirem cuidar dos seus familiares”, lamentou, recordando que a questão do cuidador informal, cujos contornos são ainda “incipientes”, é outra matéria com arestas por limar.
“Seguramente, no futuro, precisamos de um maior investimento quer seja em estruturas residenciais para pessoas idosas, quer no próprio serviço de apoio domiciliário, que de certeza que vai ter de ser alargado”, destacou.