Primeira facada terá sido pelas costas
Teve ontem continuidade o julgamento, no Juízo Central Criminal do Funchal, do jovem acusado de tentativa de homicídio por ter esfaqueado o padrasto, em abril do ano passado.
Se na sessão anterior, o arguido, M. Santos, expôs à juíza Teresa de Sousa a sua versão dos factos ocorridos a 14 de abril de 2021, em que negou ter a posse da faca do crime, ontem foi a vez do ofendido testemunhar, garantindo que o enteado surgiu quando F. Jesus estava a chegar a casa, em que sentiu um vulto por trás e foi esfaqueado na zona lombar, do lado esquerdo, seguindo-se outros golpes já no interior da casa.
Começando pelo início do seu testemunho, o ofendido contou que M. Santos vivia com ele desde que tinha onze meses de idade, tendo saído há cerca de quatro anos de casa, desta feita, para o continente, reconhecendo haver divergências, porque “não gostava do rumo” que o enteado estava a seguir na vida.
O jovem terá regressado à Madeira em setembro/outubro de 2020, conforme soube pela sua filha, disse F. Jesus, tendo ainda relatado episódios em que o acusado teria estado na garagem da casa para levar objetos e que teria lhe roubado um carro.
Já no dia dos factos, foi avisado por um vizinho que M. Santos estaria escondido ali perto. Estava no carro, no lugar do condutor, quando o arguido quis falar com ele para pedir dinheiro e um carro, ao que F. Jesus recusou.
Depois de ter ido à oficina resolver um problema com um dos seus carros, em que contou ao vizinho que ali trabalhava do ocorrido (seria uma das testemunhas a serem ouvidas pela acusação), voltou para casa e terá sido nesse momento que se deu a ocorrência. Como contou à juíza Teresa de Sousa, depois da primeira facada, tentou se virar para dominar o jovem, tentando agarrar na lâmina. F. Jesus disse que conseguiu deitar M. Santos ao chão, depois de ter sido magoado no queixo e antebraço. Terá sofrido oito golpes de faca. Depois de dominar o enteado, que terá jogado a arma branca, após a insistência do padrasto quando se defendia, tentou fugir de casa para o carro, um Renault Clio do ofendido. M. Santos terá então pegado na chave e levado a vítima para o hospital, tendo F. Jesus ido no banco de trás com receio de ser atacado se fosse à frente. No percurso, M. Santos terá lhe pedido a carteira, que teria no interior 40 euros, a chave de casa e o telemóvel.
Quando questionado pela juíza porque não chamou uma ambulância em vez de ter entrado na viatura com o réu, F. Jesus respondeu que “nestes momentos, um segundo é mais do que cinco minutos. Queria me salvar”.
Quando chegaram ao hospital, M. Santos pediu ao padrasto que não o acusasse, que dissesse que se tinha cortado. Ao arrancar com o carro, quando F. Jesus estava a ser ajudado por profissionais do SESARAM disse-lhes que o jovem o tinha agredido e tiraram a matrícula do veículo. F. Jesus ficou internado uma semana.
No julgamento, foi também abordada a questão de lhe terem desaparecido sapatilhas e perfumes, que acha que terão sido roubados pelo enteado. Recorde-se que, no seu testemunho M. Santos disse que quis reaver alguns dos seus pertences.
À tarde, o Tribunal ouviu ainda testemunhas indicadas pela acusação, como foi o caso de Diogo, melhor amigo de M. Santos, que o levou ao centro de saúde de Câmara de Lobos depois do jovem lhe ter telefonado a pedir ajuda porque teria se cortado num dedo a cozinhar, como relatou à juíza. A testemunha disse que, nesse dia, M. Santos não lhe contou nada do que se teria passado na casa do ofendido.
Por ouvir estão ainda as testemunhas arroladas pela defesa.