Jornal Madeira

Até sempre, Meu Campeão!

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No dia 19 de abril, partiu o meu pai, o meu campeão. Um homem íntegro, de valores, que se dedicou à educação dos filhos e que deu um contributo precioso na educação dos netos.

Sendo um homem de causas assumiu a função de delegado sindical numa altura em que para a assumir era preciso ter muita coragem e sentido de missão. Foi com essa coragem e esse sentido de missão que viveu o 18 de abril de 1977. Destemido, na rua, resistindo à carga policial, ao lado dos seus colegas da hotelaria.

Não tenho dúvidas que ter crescido a assistir a essas lutas do meu pai me serviu de ensinament­o e de inspiração para assumir os desafios na minha vida com persistênc­ia. Não tenho dúvidas que foi dele que herdei o meu lado reivindica­tivo e lutador e talvez por isso acompanhou as minhas lutas com muita descrição, mas também com muito orgulho.

Quem partilhou com o meu pai e com a minha mãe a experiênci­a da emigração, fala do “Senhor Câmara” e da “Senhora Salete” com carinho mas, principalm­ente, com muita admiração, pelo profission­alismo com que desempenha­vam as suas funções ligadas à hotelaria, mas principalm­ente pelo seu espírito de profunda camaradage­m e interajuda.

Eu e o meu irmão, enquanto filhos, na Madeira, à guarda das nossas queridas avós Antónia e Filomena, aguardávam­os cada regresso e eu “inchava” de vaidade quando, à porta da escola primária, ele esperava por mim, julgando os meus colegas tratar-se de um meu irmão mais velho. Orgulhosam­ente, dizia-lhes que era o meu pai e vivíamos tão intensamen­te cada momento que, curiosamen­te, apesar da distância física, decorrente do facto de durante grande parte da sua vida ter sido emigrante, recordá-lo-ei sempre como um pai muito presente.

Como homem do desporto integrou a primeira Seleção da Madeira de Atletismo, composta por oito atletas, todos do Club Sport Marítimo, a maioria dos quais já partiu, embora alguns, felizmente, se mantenham entre nós, guardando bem vivas memórias desses bons tempos.

Por detrás do porte atlético, esteve sempre um homem com tanto de forte, como de sensível, um homem que nunca virou a cara aos obstáculos e que soube dar a volta a algumas partidas que a vida lhe pregou.

O meu pai competiu nas provas de atletismo e nas provas da vida. Em nenhuma delas foi homem de desistir e é por esse motivo que foi, é e será, sempre, o Meu Campeão.

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Emanuel Câmara escreve à quarta-feira, de 2 em 2 semanas
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