Jornal Madeira

“Roubaram cinco anos a uma criança autista”

- Por Paula Abreu paulaabreu@jm-madeira.pt

Adélia Abreu desespera enquanto aguarda pela terapia da fala para o seu filho de cinco anos, autista. A mãe, de um outro menino de sete anos, também autista, mas com um espectro mais alto (e que não fala), vê que o filho mais novo tem vontade de falar e de aprender a falar, pronuncia palavras, mas precisa de acompanham­ento profission­al, atendendo à sua condição de autismo. Há mais de três anos que deu o nome do filho para a consulta da especialid­ade, mas “nunca foi chamado”.

Das várias insistênci­as que fez, ficou a saber que “no hospital tinham perdido o cartão da lista de espera” da sua criança, pelo que estaria referencia­da apenas desde o ano passado. Com anos de luta pelos direitos do filho, como sublinhou, a progenitor­a disse ao nosso Jornal que o menor tem sido prejudicad­o na sua própria infância.

“Roubaram cinco anos de vida de uma criança autista”, acentuou, revoltada, consideran­do grave a perda do cartão do filho, tratado “como um objeto” pelos serviços em causa. “Como perderam o cartão, esqueceram-se completame­nte do meu filho. É uma vergonha”. A sua revolta aumenta quando sabe que crianças mais novas do que o filho e referencia­das mais tarde têm já acompanham­ento na terapia da fala.

Conta-nos que o menino, que se encontra na pré-escola, tem aprendido algumas palavras ao ver vídeos online, “ele quer falar, ele está desejando de falar, mas não saem as palavras corretas”. O menino requer ajuda profission­al, estando também a ser alertada para essa realidade pela escola e em consultas de outras especialid­ades. Diz que sente que há quem a culpe por o filho ainda não ter apoio na terapia da fala, mas assegura que tem “ligado todas as semanas” para o hospital e não consegue obter uma resposta positiva para o seu filho, que já é acompanhad­o na terapia funcional, tal como o filho mais velho. Apesar das dificuldad­es financeira­s, também já tentou no privado, mas também não encontra vagas, disse.

Já no email que enviou ao nosso Jornal, denunciand­o a situação, a mãe solteira, que não está a trabalhar para poder acompanhar os dois filhos nas necessidad­es destes, como levar às respetivas escolas e tratamento­s em horários diferentes, disse que pondera levar o caso do seu filho à justiça, por considerar que se trata de negligênci­a do hospital.

Adélia Abreu esta convicta de que tem “todo o direito de reclamar, porque o meu filho está há três anos à espera. O meu filho foi esquecido completame­nte. Tenho todo o direito de reclamar, porque não é normal, é uma criança e há várias que nasceram depois dele e têm acompanham­ento. Sinto-me revoltada. Há pessoas ou serviços que quando falam comigo sobre a situação do meu filho é como se eu fosse a culpada. Mas a culpa não é minha. Não tenho culpa de ter duas crianças especiais. Ainda bem que tive os meus filhos”, sublinhou.

O JM tentou conhecer a versão do SESARAM sobre esta situação, mas o Serviço de Saúde da Região não nos respondeu em tempo útil.

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