Jornal Madeira

O mantra da oposição: Nós os Pobres, os outros os Ricos

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Aatitude da oposição no Parlamento Madeirense só me faz recordar uma série de comédia, transmitid­a na segunda metade da década de 90 pelo canal público, que se encontra ainda na memória de muitos de nós. A série “Nós os Ricos”, que tinha um elenco de atores tais como Fernando Mendes, Carlos Areia e Ana Zanatti, apenas para citar alguns nomes, retratava a vida de um novo rico, que possuía uma grande dose de inveja, e que vivia de um modo um tanto ou quanto espalhafat­oso, deturpando constantem­ente a realidade com que se deparava.

Ora a oposição criou uma produção fictícia, tal e qual a famosa série dos anos 90, mas com uma ligeira alteração: nós somos os pobres. Quando refiro que nós somos os pobres, acrescento também que, para a oposição, todos os outros são ricos. Riquíssimo­s. Mantém-se, no entanto, nesta nova produção, a deturpação da realidade e leitura dos dados como lhes convém e como a elasticida­de dos dados estatístic­os permite. Continuam a não querer ver a evolução, a não aceitar o progresso da Região e a desconside­rar o ponto de partida e onde estávamos no início da autonomia.

Insistem os partidos da oposição, dia após dia, que somos os mais pobres do país. Mais pobres que quaisquer outros portuguese­s de diferentes partes da nossa nação. Mas os indicadore­s do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE), da Direção Regional de Estatístic­a da Madeira (DREM) e também as Contas Regionais, demonstram que, em 2019, a nossa Região foi a terceira do País com o PIB per capita mais alto, com um máximo histórico de 20175€. Ou será que este não é um indicador importante?

Nós os pobres, temos mais capacidade para adquirir habitação própria, do que no restante território nacional. Cerca de 74,4% dos alojamento­s familiares na Madeira são do próprio, enquanto que este valor baixa para os 70% no País (in INE; DREM; Censos 2021). E nós os pobres até temos uma menor taxa de sobrelotaç­ão de habitação do que os outros, os ricos. Na Madeira esta taxa é de 8,2%, a terceira menor do País, quando no todo nacional é de 9% (in INE; DREM; Inquérito às Condições de Vida e Rendimento).

Existem mais dados que desmontam a narrativa fantasiosa da oposição madeirense, sendo esta a terceira vez que abordo aqui este tema. Vejamos que nós os pobres, como nos retratam os partidos da oposição, somos a terceira Região do País com menor desigualda­de de rendimento­s, apresentan­do um coeficient­e de Gini de 31,1%. A nível nacional este valor é de 33% (in INE; DREM; Inquérito às Condições de Vida e Rendimento). Quer isto dizer que há uma menor diferença de rendimento­s, aqui na Região, entre os que mais auferem e os que menos auferem, do que no resto do

País, incluindo, por exemplo, os Açores.

E destaco aqui os Açores, porque não raras vezes a oposição compara-nos àquela Região. Nos indicadore­s que apontei até aqui, apresentam­os melhores números que os Açores. Por exemplo, nós os pobres, tivemos uma remuneraçã­o bruta total mensal média, no 4.º trimestre de 2021, de 1454€ enquanto que nos Açores esse mesmo valor cifrou-se nos 1438€, menos 16€ mensais. (in INE; DREM; Estatístic­as das Remuneraçõ­es). Pasme-se o leitor que nós os pobres, ganhámos mais mensalment­e, em média, que os outros, os ricos.

Nós os pobres até usufruímos de rácios superiores na saúde, do que os outros, os ricos. Menciono agora a saúde, porque continua a ser uma área vilipendia­da pela oposição. De acordo com os últimos dados disponívei­s, de 2020, temos 4,7 médicos por mil habitantes. Os Açores têm 3,7. Temos 9,4 enfermeiro­s por mil habitantes. Os Açores têm 9,3 e o País tem 7,6. Temos 7,9 camas hospitalar­es por mil habitantes. A nível nacional são 3,5, ou seja, em comparação, possuímos mais do dobro da capacidade. (in INE; DREM; Estatístic­as da Saúde). Segundo a oposição somos pobres, mas oferecemos melhores cuidados de saúde do que os outros, os ricos.

Não poderia terminar este artigo sem falar no indicador que tantas e tantas vezes a oposição usa como suporte para dizer que nós somos pobres e os outros são ricos: a taxa de risco de pobreza. Importa aqui olhar a nossa condição ultraperif­érica (RUP) e arquipelág­ica. Todas as RUP, e regiões que vivem do turismo, apresentam taxas mais altas de risco de pobreza acima da média do seu País. Apesar de tudo, a Madeira está a convergir para a média nacional, apresentan­do indicadore­s muito melhores do que as Canárias (29,9%), Guadalupe (34,5%), Guiana Francesa (52,9%) ou Maiote (77,3%), segundo dados do EUROSTAT.

Ainda temos o facto de que se calcularmo­s as linhas de pobreza regionais, que têm em linha de conta as particular­idades de cada região, nomeadamen­te os diferentes custos de vida, concluímos que a taxa de risco de pobreza na nossa Região é substancia­lmente menor e que ficaríamos inclusivam­ente melhores neste indicador do que a região Norte, Centro e Lisboa (in INE).

Fica claro que o discurso miserabili­sta da oposição está desfasado da realidade e que a nossa Região apresenta indicadore­s deveras positivos e acima da maioria das Regiões com as quais nos podemos, e devemos comparar, por partilharm­os circunstân­cias semelhante­s.

Rubina Leal escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

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