Jornal Madeira

Deus é grande

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Quinta-feira fui deitar-me inquieto. O Caetano estava com uma virose e eu ainda com o estômago virado do avesso. Mas até nem era isso que me preocupava. Era sim, o facto de ainda não ter tema para escrever. Angustia-me. Está bem que a Assembleia esteve vai não vai para pegar lume… Mas não pegou! Foi só um fusível que queimou. Mais ninguém. Tudo não passou de um susto. Continua assim um ambiente escaldante à conta de línguas inflamadas… Nada de novo, portanto.

Depois de ler e reler notícias. Passar os meus dias a pente fino… Não me restava muito a não ser pedir a Deus que me desse alguma luz. Se bem o pensei, melhor o fiz. Verifiquei se tinha o despertado­r ligado, virei-me para o lado e fiz as minhas orações. Lembro-me que o sono teimava em não aparecer e fui rezando. Rezando. Rezando. Se não deu um terço, andou lá perto. Até que devo ter adormecido algures entre algum Pai Nosso ou Avé Maria.

Acordei a meio da noite. Parecia-me ter ouvido uma voz! Fiz a ronda àquele enorme T3 de 80m2 e nada. Só a minha mulher deu por isso. Os outros continuara­m a dormir que nem uns anjinhos. Voltei a deitar-me e voltei a pensar que ainda não sabia sobre o que escrever. No entanto, aquele era já um sinal. Devo ter rezado tanto, mas tanto, que pouco depois de acordar, recebi uma notícia…

O país estava de luto. Tinha desapareci­do um dos maiores vultos nacionais no estrangeir­o. Calma. Também não é preciso exagerar. O Rui Abreu já voltou da Venezuela e o Cafôfo, que o foi render, está vivinho da Silva. Foi mesmo o João Manuel Oliveira Rendeiro que partiu…. Ok, pode parecer um déjà vu. Eu sei. Vocês podem até perguntar se ele já não tinha desapareci­do? Já. Se ele já não tinha partido? Também já. Só que desta, foi de vez. Da outra foi só uma partida. Fiz-me entender? Desculpem, mas não sei como vos digo isto sem vos deixar consternad­os? Ele foi para o céu. Cessou. Expirou. Pereceu. Findou. Morreu! Pronto, já disse. Morreu.

Mas quem diria? Esses gabarolas, fanfarrão e bom vivant com dinheiro alheio, ainda há dias dava uma entrevista com ar de engraçadin­ho desafiante. Queixava-se da demora na resolução dos seus processos. Dizia que internacio­nalmente existia uma regra do 3-5-7, em que 3 anos era o ideal, 5 o aceitável e 7 o inaceitáve­l. “Os meus têm praticamen­te 14 anos, que é o dobro do aceitável”. Alto lá. Então não é que o homem podia mesmo não ter culpa de nada? Acho que depois disto, ficou provada a inocência do palerma. Um tipo que diz que o dobro de 5 é 14, se somou alguma quantia indevida à sua fortuna, foi por lapso. O forte dele não são contas. Pronto! E depois? Querem ver que agora para ser banqueiro é preciso saber matemática?! Era só o que faltava…

Mas, desconfiad­os como aprendemos a ser, alguns não demoraram a questionar se ele teria mesmo morrido ou se seria apenas mais uma manobra. Se teria fugido da prisão para ir gozar dos rendimento­s… Uma versão barata do El Chapo. O El Chato. Não faço ideia. Eu não posso jurar! Não estava lá. Porém, a crer no que disse na tal entrevista: “liberdade ou morte”, não me restam muitas dúvidas de que tenha atado bem o lençol no gasganete e se tenha pendurado! Corajoso, pá.

Afinal, aquele senhor fofinho que dormia de pijama da Qatar Airways e que só tinha saudades das cadelas Joana, Clara e Boneca, era um homem de palavra. Disse que não voltava a Portugal e não voltou mesmo. Vivo, claro. Porque agora vem, nem que seja arrastado... Bolas. Até assim esticado continua a dar trabalho.

E não, não sou desses que acham que uma pessoa depois de morta passa a ser um santo. Para mim, quem não presta vivo, morto continua igual. Só com a agravante de começar a cheirar mal…

Só temo que, e segundo defendem os entendidos na matéria, estes “acidentes”, quando difundidos, possam trazer uma série de imitações. O chamado efeito Werther. Sim, no fundo, que estes chicos-espertos se desatem para aí a embrulhar à louca e percam o fôleguinho só para seguir o exemplo. Já viram o que seria do Panteão se, assim de repente tivesse que acomodar tanta figura de proa?

Por favor, pelo sim pelo não, desapareça­m com toda a roupa de cama da garagem do Berardo. É que ele já processou os bancos e pediu uma indemnizaç­ão de 900 milhões de euros. Só falta sair-se com uma do género: “Sirs, ou me daiem o que eu quero, ou eu comete uma louquiura”. Por mim… See you Joe. Rest in peace.

Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas

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