Região responsabiliza Estado por atraso do cabo submarino
Pedro Fino reconhece “demora”, mas aponta o dedo ao Estado: “já está definida a solução técnica, mas infelizmente tarda em sair do papel”. Entretanto, os dois executivos tentam desbloquear o processo.
A substituição do cabo submarino de ligação entre as regiões autónomas da Madeira e dos Açores e o continente português tem-se arrastado nos últimos anos, sem desenvolvimentos significativos. Contactada pelo JM, a Secretaria Regional dos Equipamentos e Infraestruturas admite o atraso, mas direciona as responsabilidades para o Governo da República.
De acordo com um despacho publicado em 2020, o cabo submarino que liga as ilhas e o continente deveria entrar em funcionamento em 2024 nos Açores, e um ano depois na Madeira. No entanto, o secretário regional dos Equipamentos e Infraestruturas afirmou ao Jornal que “está, de facto, a haver muita demora em todo este processo e, incompreensivelmente, o Governo da República não previu qualquer verba para esse investimento no Orçamento de Estado para 2022”.
“O Governo da República sabe que, entre 2024 e 2025, as ligações existentes ficarão obsoletas e, se até esta data, a substituição dos cabos não estiver concluída, colocará aos Açores e à Madeira graves constrangimentos”, indicou Pedro Fino, acrescentando que, para a execução desta intervenção é expectável um prazo de execução de três a quatro anos”.
O governante realçou ainda que, após a criação de um grupo de trabalho em 2019, com representantes das duas regiões autónomas, “já está definida a solução técnica, mas infelizmente tarda em sair do papel”.
Entretanto, sabe o JM, os Governos da Região e da República têm mantido algumas reuniões nas últimas semanas, desde a tomada de posse do Executivo de António Costa, no sentido de desbloquear o processo da forma mais célere possível.
Redundância ao cabo Ellalink
Pedro Fino recorda, todavia, que já em 2016, “quando não existia qualquer diligência e iniciativa por parte do Governo central”, o Governo Regional incumbiu à EMACOM [empresa do sector público empresarial regional, detida a 100% pela EEM] a viabilização de uma nova ligação submarina com o continente português.
“A estratégia passou pela participação no consórcio que implementou o cabo submarino de telecomunicações Ellalink, um cabo de baixa latência, com 10 mil quilómetros de extensão, que interliga o Brasil à Europa, com pontos de presença em Portugal [Sines e Lisboa], Espanha e França”, recordou.
A participação da EMACOM inclui a propriedade de par de fibras óticas entre a Madeira e o continente português através daquele cabo, numa ligação que totaliza cerca de 1.100 quilómetros, sendo realizada por um ramal (BU) sem repetidores e de baixo custo relativamente a outras soluções, permitindo uma elevada capacidade de transmissão que, com a tecnologia atual, consegue atingir uma velocidade de 30Tbps entre Lisboa e o Funchal.
Esta nova ligação foi concluída em janeiro de 2021, com a chegada à Praia Formosa do cabo Ellalink, e, de acordo com o secretário regional, “revela-se de especial importância, já que responde aos desafios atuais em termos de criação de ambiente competitivo e diversificado entre os operadores de telecomunicações, promovendo o estabelecimento de novas tecnologias, bem como o desenvolvimento de novos centros tecnológicos e datacenters”.
Após uma fase de testes de comissionamento e capacidade, esta nova ligação entre a Madeira e o continente entrou em funcionamento em janeiro de 2022.
“Todavia, é preciso que fique bem claro que esta ligação, efetuada por iniciativa do Governo Regional, não dispensa o Estado em cumprir com as suas responsabilidades e assegurar a continuidade territorial com as regiões autónomas através da substituição dos cabos submarinos, criando a necessária e indispensável redundância ao cabo Ellalink e conferindo segurança à ligação”, concluiu o governante.