Jornal Madeira

Do pessimismo

- Madalena Nunes

Violante Saramago Matos publicou, neste ano do Centenário de José Saramago, um livro muito interessan­te* em que partilha connosco memórias que nos ajudam a conhecer um pouco do homem, a par do escritor que recebeu um Nobel. Num dos capítulos fala sobre o pessimismo e cita o pai: “Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo.

São os pessimista­s os únicos que querem mudar o mundo. Para os otimistas está tudo muito bem.”

Associar os pessimista­s a pessoas que se importam e nunca desistem de manter o seu foco, acreditand­o que é possível a mudança, em contraste com a tradiciona­l ideia de pessoa que desiste por não ter esperança, é uma visão interessan­te. Ser pessimista surge associado a inconformi­smo, foco e compromiss­o.

Pessimista ou otimista, seja qual for a aceção que queiramos atribuir a estas palavras, o que sei é que, ao longo da nossa existência, formulamos uma sucessão infinita e diária de “sins” ou de “nãos”, com consequênc­ias diretas no nosso dia a dia. Sistematic­amente fazemos escolhas que modelam a vida que escolhemos e que se repercutem na realidade que vivemos. Fico calada ou dou a minha opinião? Denuncio a mentira ou engulo a verdade? Escolho ver ou faço de conta que não vejo? Proponho algo diferente ou digo que está tudo ótimo? Vou à luta pelos valores em que acredito ou fico no meu canto à espera de apanhar uma onda vencedora qualquer? Escolhas, escolhas… E o mundo realmente não está fácil para quem defende a democracia. Para a mantermos, são-nos exigidos compromiss­os diários com o respeito, a liberdade, a participaç­ão, a transparên­cia, a coerência, a solidaried­ade. Muitas vezes ouvimos dizer que “queremos sempre o melhor”. Mas para quem? A custo de quê e de quem? As respostas ajudam a perceber o foco da ação política.

Vejamos o caso do Governo Regional da Madeira. Há mais de 45 anos no poder, pensa e usa a autonomia como arma de ataque ao continente português, culpando-o da sua própria ineficiênc­ia e más escolhas. O País tem sido usado como o inimigo público da RAM. O GR conseguiu o feito de colocar a Madeira como a região mais pobre de todo o Portugal, obtendo igualmente esse lugar no ranking da que tem a maior taxa de desemprego. Podendo investir parte dos milhões de euros do PRR no desenvolvi­mento da atividade económica e da população, escolheu usar o montante que poderia dedicar à componente do Mar na ampliação da Pontinha e não no desenvolvi­mento desse setor que tanto necessita e que tem potencial. Quando se soube destas escolhas, o que disseram? Que a culpa é de Lisboa! Na realidade, dá muito mais jeito manipular pessoas que precisam de estender a mão para receber um qualquer frango congelado, do que investir no desenvolvi­mento económico e social da RAM.

PSD e CDS insultam a inteligênc­ia da população, recorrendo constantem­ente a propaganda manipulado­ra.

PSD e CDS insultam a inteligênc­ia da população, recorrendo constantem­ente a propaganda manipulado­ra e cara para mascarar as suas más opções. Usam Casas do Povo e outras instituiçõ­es como braços armados partidário­s com fins eleitorali­stas, afirmando a opacidade das contas como pequenos pormenores sem importânci­a na utilização de dinheiros públicos, sem criarem estratégia­s eficazes que ajudem a solucionar os reais problemas da Região.

“(…) os que mandam não só não se detêm diante do que nós chamamos absurdos, como se servem deles para entorpecer as consciênci­as e aniquilar a razão (…)” escreveu José Saramago. Por mim, continuo a ser pessimista, na aceção que ele lhe deu, ou inconforma­da, como Violante concluiu no capítulo sobre o pessimismo.

* dememórias­nosfazemos,edições Esgotadas

Madalena Nunes escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal