CAMPEÕES PELA VIDA INTEIRA
Em jantar-homenagem, o Marítimo honrou as glórias do passado no futebol e atletismo, que em 1977 levaram o nome da Madeira mais longe. Também brindou ao futuro, agraciando os juniores que esta temporada ascenderam à 1.ª Divisão do escalão e o corpo organi
A Tribuna do Estádio do Marítimo recebeu ontem um jantar-homenagem como forma de tributo à equipa de futebol que ascendeu, em 1977, pela primeira vez, à 1.ª Divisão, da formação de atletismo que, no mesmo ano, conquistou o título nacional da 3.ª Divisão Nacional, da equipa de juniores que garantiu esta temporada a subida ao patamar principal nacional do escalão e ainda os responsáveis pela organização do 8.º Torneio Marítimo Centenário.
O anfitrião Rui Fontes mostrou-se muito feliz com a oportunidade de reunir o passado e o futuro numa só sala. “Sinto-me satisfeito pelo que esta cerimónia representa para a história do Marítimo. Faz 45 anos que a Madeira e o futebol insular subiram pela primeira vez à 1.ª Divisão, e tinha que ser, naturalmente, através do Marítimo. Depois dessa subida, o futebol madeirense evoluiu muito e hoje estamos aqui a comemorar por todos aqueles que contribuíram para isso”, enalteceu o presidente verde-rubro.
Instado a ‘puxar a fita atrás’ e relembrar o dia 15 de maio de 1977, Rui Fontes recordou que tinha 25 anos à época, esteve na cabine dos Barreiros com os jogadores e terminou o dia na casa de José Miguel Mendonça, presidente do Marítimo na altura. “Festejei esse dia com muita alegria. O ambiente era uma loucura. Penso que foi o dia mais emotivo da vida recente do Marítimo e uma coisa nunca antes vista no nosso estádio”, frisou o líder do ‘Leão do Almirante’.
Ontem, na tribuna, a par da equipa de juniores, da cúpula do Torneio Marítimo Centenário e
mil pessoas que sobrelotaram as bancadas e os locais mais inóspitos do ‘Caldeirão’, desafiando o perigo em cima das árvores do antigo Peão ou da pala da antiga Central. Nunca se saberá quantos foram tendo ainda em conta os que permaneceram nas imediações do recinto.
Chegaram ao Funchal dezenas de camionetas de toda a Madeira rural para assistir à partida entre Marítimo e Olhanense, um desafio relativo à 30.ª jornada da 2.ª Divisão – Zona Sul. O motivo era a possibilidade de uma equipa madeirense ascender pela primeira vez à 1.ª Divisão. Pois até bem pouco antes, o ‘velho’ Portugal do Estado Novo impedia que as equipas das então denominadas ‘ilhas adjacentes’ pudessem competir entre os grandes do futebol nacional.
Bastava o empate perante os algarvios para que o Marítimo lograsse o objetivo da subida. Orientados pelo então jovem técnico, de 35 anos, Manuel Pedro Gomes – ele que enquanto jogador defendeu a equipa do Sporting entre 1960 e 1973 – os ‘endiabrados’ verde-rubros não se fizeram rogados, precisando apenas de 20 minutos para fazer três golos e carimbar, praticamente, a subida. Os madeirenses acabariam por vencer por 4-0. Norberto (7’ e 13’), Nélson (20’) e Arnaldo Silva (83’) fizeram os golos, todos os tentos com direito à invasão de campo de um povo em delírio.
No dia seguinte haveria tolerância de ponto decretada pelo primeiro presidente do Governo Regional da Madeira, Jaime de Ornelas Camacho.
O plantel era composto sobretudo por jogadores madeirenses – Rui Gomes, Arnaldo Gonçalves, Olavo, Fernando Rodrigues, Luís Calisto, Ângelo Gomes, Arnaldo Carvalho, Humberto Câmara, João Jesus, Eduardinho, Noémio, Tininho, Chico e Nélson. Plantel, esse, que contava ainda com os continentais Amaral, Porfírio, Eduardo Luís e Jaime, o angolano Norberto e ainda o guineense Arnaldo Silva.
Campeões do atletismo
Também a 15 de maio de 1977, mas no Estádio do Jamor, em Lisboa, o Marítimo somava outro êxito. Desta feita no atletismo, numa equipa onde pontificavam nomes como José Frias ou José Câmara.
Os atletas verde-rubros eram treinados por Dinis Gomes, outro grande nome da modalidade. O técnico considerou que o feito
O dia 15 de maio é um dia muito importante para mim e para o Marítimo. Tenho uma memória espetacular desse dia, nunca mais se vai repetir uma enchente daquelas. Estava tudo preparado para ganharmos, pois a equipa estava muito bem preparada mentalmente e fisicamente. Na primeira meia hora arrasávamos os adversários.
Manuel Pedro Gomes, É uma enorme satisfação sermos reconhecidos e poder partilhar este tipo de experiências. Este tipo de ligação entre o passado e o futuro do clube é muito gratificante. O Marítimo neste momento tem uma série de gerações de grande qualidade e o jogador madeirense está a ser muito bem valorizado pelo nosso clube.
Albano Oliveira,
treinador dos Juniores 2021/22
Um feito histórico para o Marítimo, para o atletismo e para a Madeira. Este é momento muito agradável, de nos reencontrarmos e falarmos das nossas vivências.
José Frias,
atleta em 1977
É sempre muito bom reconhecer o trabalho que é feito por muitas pessoas. É muito gratificante para nós que a direção tenha feito este reconhecimento. Mais um motivo para continuarmos a trabalhar com dedicação e vontade. Nuno Naré,
organizador Torneio Marítimo Centenário
alcançado em 1977 foi uma honra para Madeira. “[O momento] fica registado a letras de ouro nos anais do desporto madeirense. Tanto a nossa conquista como da equipa de futebol foram um contributo para o processo autonómico”, sublinhou.