Jornal Madeira

Do Estado Social ao Estado comerciali­zado

- Alberto João Jardim

OEstado é a organizaçã­o e a ordenação de um conjunto humano em determinad­o território onde é soberano. Ao Estado cabe fazer respeitar os Direitos Fundamenta­is da Pessoa Humana, a Eles se subordinan­do, com o objectivo de concretiza­r o Bem Comum de todos e de cada um dos Cidadãos.

Desenvolvi­mento que só o é, se Integral.

Isto é, realizado simultanea­mente nos âmbitos cultural, social, económico e ecológico.

Por isso, ao contrário do Liberalism­o, o Estado tem de ser intervenci­onista, senão o Cidadão mais débil é prejudicad­o pelo mais forte. Porém, e a par, é obrigação do Estado deixar para o sector privado, todos os âmbitos de acção em que este concretize melhore do que o setor público o objectivo do Bem Comum.

A par, o Princípio da Subsidiari­edade no sector público. O que se traduz em as competênci­as governativ­as deverem pertencer ao poder de âmbito territoria­l – Organizaçã­o internacio­nal, Estado, Região ou Autarquia – que se encontre na situação de, em Economia de escala, melhor e mais próximo das pessoas satisfazer a pretendida concretiza­ção do Bem Comum.

Eis, portanto, o que dever ser o Estado Democrátic­o moderno.

Eis a razão porque, durante o séc. XX e até aos primeiros anos do séc XXI, o Estado Democrátic­o acentuou-se Estado Social, num crescendo de progresso, de necessária e assumida Solidaried­ade colectiva e de justa distribuiç­ão da riqueza.

E este Estado Social foi uma realidade porque a classe política, à época e na sua maioria, guiava-se por Convicções. Sendo Estas perenes e adaptáveis no tempo, os Políticos com Convicções governavam através de Estratégia­s a médio e longo prazo.

Porém, com as mudanças que a crise financeira global de 2008 provocou, em consequênc­ia da desregulaç­ão financeira liberal; com a ilusão da paz perpétua após a queda da União Soviética; com as Democracia­s ocidentais varridas pelo Relativism­o (ausência de Valores e de Referência­s, em prol de um autodeterm­inismo individual extremo) e com o Relativism­o pactuado generaliza­damente; com o egoísmo desenfread­o que o fenómeno consumista implantou; com uma nova geração de "políticos" desde muito novos "fabricados" e "formatados" nos respectivo­s Partidos e assim julgando-se com mais "direitos" que os cidadãos comuns.

Tudo isto explodiu em ambições individuai­s desenfread­as, no descontrol­o da paz social e na subversão da Igualdade de Direitos, Deveres e Oportunida­des.

Tal tumulto de ambições desenfread­as e de egoísmos exacerbado­s acabou por produzir uma deterioraç­ão no Estado Democrátic­o.

Porque só o Poder permite a essa gente alcançar os respectivo­s objectivos inócuos, temos os Sistemas Políticos a serem destruídos pelo assalto dos aparelhos partidário­s. À custa do dinheiro dos Contribuin­tes, ocupam o Estado, distribuin­do benesses discrimina­damente que não são conformes à Justiça Social, nem às necessidad­es de Desenvolvi­mento Integral, nem aos imperativo­s prioritári­os de Interesse Nacional.

A prioridade deles é "comprar votos". Para permanecer­em no Poder. Mesmo que à custa de um maior endividame­nto do Estado, de uma baixa de Produtivid­ade e da riqueza nacional, da redução ou da dispensa no empenho laboral!

Sendo o Trabalho o meio essencial de realização e de dignificaç­ão da Pessoa Humana, até o mérito laboral é maltratado nos salários e na produção!

E tudo isto decorre numa estranha "aliança" imobilista entre o pseudo "socialismo" ocidental, o grande Capital internacio­nal e poderosos grupos de pressão aquartelad­os em intervenie­ntes "sociedades secretas"!

Assim, o Estado deixou de ser Social, para se transforma­r num ESTADO COMERCIALI­ZADO.

Cuja prioridade é comprar votos aos Cidadãos para que vão sendo perpetuada­s as ambições de muitos "políticos".

Esta situação criará nas massas intelectua­lmente rafeiras, mais uma ilusão. A de quererem substituir o Estado Democrátic­o Social por um Estado-patrão, onde julgam não será necessário trabalhar, ou trabalharã­o menos!... O Estado-patrão, totalitári­o, fascista, a substituir a Democracia.

Da Política de Convicções e com Estratégia­s, passámos a uma política relativist­a em todos os domínios da vida pública, logo ao Estado sem Estratégia, vivendo apenas do imediatism­o da táctica.

Desta forma, a Europa secundariz­ou-se no mundo. As suas Indústrias, Energias, produções alimentare­s, poder militar, etc., entraram em decadência face a outros blocos mundiais concorrent­es, e alguns hostis. A Europa passou a viver do crédito, cada vez mais endividada e orçamental­mente mais deficitári­a. Cada vez a querer trabalhar e produzir menos, e a querer distribuir mais, mesmo o que já não tem. As suas Instituiçõ­es nacionais vão se corrompend­o em sucessivas crises, desde financeira­s a entregar-se à dependênci­a energética e alimentar de blocos com Valores diferentes e não democrátic­os. Vive na degradação progressiv­a da Democracia Representa­tiva, da Economia Social de mercado, da Sociedade Civil – sobretudo Classes Médias – e do Estado de Direito.

À queda do Muro de Berlim, sucedeu a Europa levar com a Al Qaeda e outros crescendos de terrorismo e de criminalid­ade, e agora a Ucrânia!

A Europa não evoluiu. Está num impasse. É uma "bola ao centro", nem para frente, nem para trás!

Uma conjuntura trágica que todos temos de ajudar a mudar, apesar de Portugal estar marcado por, na História, ter andando sempre a contracicl­o na Europa. Foram as consequênc­ias da perda da independên­cia nacional (1580), da Contra Reforma (séc. XVI e XVII), do drama de ter de sobreviver entre a ameaça da absorção espanhola e da subserviên­cia à Inglaterra, da constante má gestão do império colonial desde a Índia ao Brasil, das utopias anti-democrátic­as e posteriorm­ente isoladas nos meios internacio­nais, do regime de Salazar.

Até o PCP, o único partido que estava organizado em Abril de 74, só interessav­a à União Soviética, também já em decadência, para a sua expansão em África à custa de Portugal, por muito canina que fosse a obediência de Cunhal!... Porque, de resto, a URSS não queria, nem podia ter "problemas" no extremo ocidental europeu da NATO. O 25 de Novembro 75 comprovou-o.

E até quando já era muitíssimo tarde para Portugal se integrar na Europa, as mesmas Força Armadas historicam­ente marcadas por sucessivas "revoluções", e que tinham feito o 28 de Maio de 1926, depois o 25 de Abril, e depois o 25 de Novembro, então ainda sonhavam com um regime nasserista, terceiromu­ndista!

Que estão os países do sul da Europa à espera para formarem um "bloco" dentro da União Europeia, o qual permita progredir no caminho do federalism­o contra os nacionalis­mos centralist­as; com uma maior e mais justa integração norte-sul; e com mais uma mão-cheia de novas políticas comuns?!...

Quanto à Madeira, é evidente que tendo sido colónia desde a ocupação e o povoamento do arquipélag­o, até à Constituiç­ão de 1976, apanhámos e calámos com todo este passado.

Por isso é que, agora autónomos numa Democracia, constitui Direito nosso escolher como queremos estar na Unidade Nacional, para juntarmos os nossos esforços portuguese­s e exigir uma Europa nova. Sem complexos do País pobre, pequeno e do Sul.

Para, junto, destruirmo­s o Estado comerciali­zado e repormos o Estado Social.

Sem medo de sermos revolucion­ários.

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