Jornal Madeira

Neutralida­des

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Num continente onde predomina uma aliança militar como a NATO, existem países Europeus, para além da Confederaç­ão Suíça, que mantêm uma política de neutralida­de, mesmo quando o Artigo 42.º, n.º 7 do Tratado da União Europeia determina que os países da UE têm a obrigação de ajudar um outro Estado-membro

"alvo de uma agressão armada no seu território" e que este apoio deve ser coerente com possíveis compromiss­os no âmbito da NATO.

Os atuais países neutrais no seio da UE são a República da Áustria, a República da Irlanda e a República de Malta. Destes três Estados-membros identifica­dos, a Áustria é militarmen­te neutra devido à Lei Constituci­onal adotada em 26 Outubro de 1955, como condição soviética para a recuperaçã­o da sua independên­cia no pós-ii Guerra Mundial; de igual forma Malta, cuja a independên­cia obteve em 1964, também consagrou na sua constituiç­ão a neutralida­de.

A neutralida­de imposta à Áustria, fez com que, ao longo dos anos, a sua classe política tenha convertido o seu exército numa força de resposta aos desastres naturais e de participaç­ão em missões de paz. Ao contrário da neutral Suíça, a neutral Áustria não implemento­u as reformas militares necessária­s para os desafios de segurança que se colocam, infelizmen­te, à Europa do séc. XXI. Das suas forças armadas apenas o Jagdkomman­do (Grupo de Forças Especiais) composto por 400 elementos é que se encontra verdadeira­mente preparado para o combate “puro e duro”.

Por seu turno a neutralida­de maltesa surge com a própria independên­cia do país e como moeda negocial contra o Reino Unido, patrono colonial, garantindo o influxo de somas avultadas de dinheiro, quer do Reino Unido e NATO, quer de outros países com quem o resto do ocidente se recusava falar no auge da Guerra Fria, e que ajudariam a financiar a infância do país. Nos dias de hoje, a neutralida­de maltesa é definida por uma abordagem pragmática por parte do Governo e pelos eleitores (cerca de ) que preferem, sempre que se trata de evitar conflitos, manter o comércio internacio­nal operaciona­l, dada a estratégia económica e fiscal adoptada por este país insular.

No meio de tanta neutralida­de, importa referir que os países acima são militarmen­te neutros, mas não politicame­nte neutros.

Já a neutralida­de Irlandesa não se encontra constituci­onalmente consagrada, sendo uma prática governamen­tal reiterada desde os anos 30 do séc. XX. Porém e à semelhança de Malta, a posição irlandesa é pragmática, o que tem permitido ao país uma certa integração das suas políticas de defesa com a UE. Não obstante a sua adesão à NATO é improvável dada a sua história conturbada com o Reino Unido. Nas palavras do Taoiseach John Bruton: “A maioria do povo irlandês sempre acarinhou a neutralida­de militar da Irlanda, e reconhece os valores positivos que a inspiram, tanto em tempo de paz como de guerra. A neutralida­de tem sido a política do Estado em caso de conflito armado e tem proporcion­ado a base para os esforços mais amplos da Irlanda para promover a paz e a segurança internacio­nais”.

No meio de tanta neutralida­de, importa referir que os países acima são militarmen­te neutros, mas não politicame­nte neutros, o que não impede de contribuír­em para o desenvolvi­mento futuro da política de defesa e segurança comum da UE.

Nota:

fora da análise ficaram o Principado do Mónaco, o Principado do Liechtenst­ein, a Cidade-estado do Vaticano, a Moldávia, a Sereníssim­a República de San Marino e a República da Sérvia. Ficaram de fora o Reino da Suécia e a República da Finlândia, dado o recente pedido de adesão à NATO.

Miguel Pinto-correia escreve à quinta-feira, de 2 em 2 semanas

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