É urgente mudar uma escola que se rege como há 100 anos
O Seminário de Educação Machico’22, ‘Educação e Comunidade – Por uma Escola que cria pontes’ termina hoje.
Teremos de repensar a nossa atuação escolar e comunitária, juntar autarquias, universidade e escola; família, sociedade e Estado.
Do primeiro dia do II Seminário de Educação Machico’22, com o tema ‘Educação e Comunidade – Por uma Escola que cria pontes’, ficou patente “a urgência de mudar a escola”, que ainda se rege por um sistema com mais de 100 anos.
Ontem, no Fórum Machico, um dos oradores mais aguardados do evento organizado pela autarquia foi o convidado para a conferência de abertura. José Pacheco, fundador da Escola da Ponte e dinamizador da gestão democrática na Educação, comentou que “temos hoje alunos do século XXI, com professores do século XX, a trabalhar como no século XIX”. Lembrou que “há 50 anos já se dizia que o centro do ensino devia ser o aluno, mas dava-se a aula centrada no professor”, questionando sobre se “seria esquizofrenia dizer uma coisa e fazer outra”.
Mas José Pacheco tem atualmente outra visão naquela que deve ser a mudança do ensino em Portugal. “O centro não é o aluno. O centro é a relação, a comunidade, o vínculo. Não é só o vínculo cognitivo, mas também emocional, afetivo, espiritual até”. Isto para explicar que um aluno que não tenha gostado de um professor, não terá aprendido na sua aula. É preciso o vínculo.
A seu ver, a família tem de estar ligada ao projeto da sociedade e da escola. “Hoje, teremos de repensar a nossa atuação escolar e comunitária, juntar autarquias, universidade e escola; família, sociedade e Estado através da escola, juntar os professores dentro da escola porque a profissão de professor não é um ato solitário, é um ato solidário. A partir daí, tudo acontece”, disse, clarificando que “não se trata de educação e comunidade, mas sim educação em comunidade”.
Destaque ainda para a intervenção de Ariana Cosme, licenciada em Ciências da Educação e que foi consultora do do Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular. Também esta especialista defende ser “urgente mudar o modelo escolar”, num processo em que Portugal “está 100 anos atrasado”.
Reconhecendo que a mudança tem sido feita passo a passo, a investigadora considerou que “a cada passo pequenino que damos, comprometemos uma geração”. Isso porque “os alunos estão cansadíssimos.
José Pacheco
Os alunos estão cansadíssimos. Adoram a escola, mas detestam as aulas.
Ariana Cosme
Adoram a escola, mas detestam as aulas, gostam dos professores, mas não gostam das aulas. Eles, apesar de gostarem dos professores, gostam da porta da aula para fora. Isso significa que temos de mudar o interior da aula”.
Ariana Cosme comentou que as crianças nascem curiosas, “a querer agarrar o mundo”. Todavia, aos poucos, e no atual modelo de ensino em sala de aula, “vamos vendo esse brilhozinho a desaparecer aos poucos, até ficarem indiferentes, alheados, num tempo maravilhoso que é ser aluno”.
Saliente-se que o seminário termina hoje, contando com o professor e autor de vários livros Carlos Neto, como orador da última palestra.