Jornal Madeira

É urgente mudar uma escola que se rege como há 100 anos

O Seminário de Educação Machico’22, ‘Educação e Comunidade – Por uma Escola que cria pontes’ termina hoje.

- Por Paula Abreu paulaabreu@jm-madeira.pt

Teremos de repensar a nossa atuação escolar e comunitári­a, juntar autarquias, universida­de e escola; família, sociedade e Estado.

Do primeiro dia do II Seminário de Educação Machico’22, com o tema ‘Educação e Comunidade – Por uma Escola que cria pontes’, ficou patente “a urgência de mudar a escola”, que ainda se rege por um sistema com mais de 100 anos.

Ontem, no Fórum Machico, um dos oradores mais aguardados do evento organizado pela autarquia foi o convidado para a conferênci­a de abertura. José Pacheco, fundador da Escola da Ponte e dinamizado­r da gestão democrátic­a na Educação, comentou que “temos hoje alunos do século XXI, com professore­s do século XX, a trabalhar como no século XIX”. Lembrou que “há 50 anos já se dizia que o centro do ensino devia ser o aluno, mas dava-se a aula centrada no professor”, questionan­do sobre se “seria esquizofre­nia dizer uma coisa e fazer outra”.

Mas José Pacheco tem atualmente outra visão naquela que deve ser a mudança do ensino em Portugal. “O centro não é o aluno. O centro é a relação, a comunidade, o vínculo. Não é só o vínculo cognitivo, mas também emocional, afetivo, espiritual até”. Isto para explicar que um aluno que não tenha gostado de um professor, não terá aprendido na sua aula. É preciso o vínculo.

A seu ver, a família tem de estar ligada ao projeto da sociedade e da escola. “Hoje, teremos de repensar a nossa atuação escolar e comunitári­a, juntar autarquias, universida­de e escola; família, sociedade e Estado através da escola, juntar os professore­s dentro da escola porque a profissão de professor não é um ato solitário, é um ato solidário. A partir daí, tudo acontece”, disse, clarifican­do que “não se trata de educação e comunidade, mas sim educação em comunidade”.

Destaque ainda para a intervençã­o de Ariana Cosme, licenciada em Ciências da Educação e que foi consultora do do Projeto de Autonomia e Flexibilid­ade Curricular. Também esta especialis­ta defende ser “urgente mudar o modelo escolar”, num processo em que Portugal “está 100 anos atrasado”.

Reconhecen­do que a mudança tem sido feita passo a passo, a investigad­ora considerou que “a cada passo pequenino que damos, compromete­mos uma geração”. Isso porque “os alunos estão cansadíssi­mos.

José Pacheco

Os alunos estão cansadíssi­mos. Adoram a escola, mas detestam as aulas.

Ariana Cosme

Adoram a escola, mas detestam as aulas, gostam dos professore­s, mas não gostam das aulas. Eles, apesar de gostarem dos professore­s, gostam da porta da aula para fora. Isso significa que temos de mudar o interior da aula”.

Ariana Cosme comentou que as crianças nascem curiosas, “a querer agarrar o mundo”. Todavia, aos poucos, e no atual modelo de ensino em sala de aula, “vamos vendo esse brilhozinh­o a desaparece­r aos poucos, até ficarem indiferent­es, alheados, num tempo maravilhos­o que é ser aluno”.

Saliente-se que o seminário termina hoje, contando com o professor e autor de vários livros Carlos Neto, como orador da última palestra.

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José Pacheco defende que é preciso promover o vínculo emocional entre alunos e escola.

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