Nossa. Que virulência…
Há dias, a meio das consultas, apareceu um paciente novo na clínica. Não tinha marcação. Ia, portanto, à procura da sorte. Coitado! Sem perder muito tempo, e porque não queria atrasar as marcações, enquanto faziam a ficha, pedi que mandassem entrar. Assim que pôs o pé dentro do consultório saudou-me, num sotaque de leste, com um: “eu ser gay. E tu?”. Eu? “Eu não tenho nada com isso, mas em que posso ajudá-lo?”. “Não, não. Eu não ser gay. Eu Serguey. E tu?”. “Ah. Desculpe. Eu ser Pedro, prazer”. Se tivesse ali um buraco, metia-me. Cruzes, credo. Não é nada disso que estão a pensar… Fiquei com vergonha, pronto.
Segui a consulta em silêncio, só a pensar na capacidade da comunicação e no poder de um nome. É que, se o dele dito em Portugal pode levar a algum mal-entendido, o meu, no estrangeiro, também não me deixa lá muito a salvo. Sim, Pedro pode parecer seguro, mas não é. Eu explico. Nos tempos em que acompanhava o futebol por dentro, conheci jogadores de vários cantos do mundo. E quais eram os primeiros intercâmbios culturais? Palavrões, pois claro. Tanto que, a certa altura, sentia-me um poliglota dos impropérios. Era “pičku materinu” para cima. “Jebem ti majku” para baixo. “Pusi kurac” para a frente. “Idi u kurac” para trás. Eu sei lá. Até que surge um “pédéro” (escreve-se peder). Cada vez que ouvia esse som, olhava. Palavra de honra. Julgava mesmo que me estavam a chamar… O que querem que faça!? Achava que era a maneira do sérvio dizer Pedro. Só que não. Isso é o nome que eles chamam, lá na terra deles, a um gay sem estudos… Resumindo e concluindo, o que aconteceu ao Serguey aqui, podia muito bem acontecer-me em Belgrado. Quem diz a mim, diz ao Dr Pédéro Calado… Então depois de ter desfraldado a bandeira colorida nos Paços do Concelho. Oh oh!
Mas pronto. Antes isso do que apanhar a monkeypox. Bol(h)as. Dizem que se fica com bexigas loucas pelo corpo todo. Até no pirilau. Inclusive os primeiros casos foram descobertos por essa ponta solta. A sério. Não estou a inventar. “Foram identificados em contexto de atendimento numa clínica de doenças sexualmente transmissíveis porque apresentavam lesões genitais”, disse uma especialista de renome. “É verdade que são casos de homens que têm sexo com homens”, acrescentou, apesar de ser desnecessário. Juro.
Porém, e agora digo eu, não se deve discriminar ninguém. Cada um é como cada qual. E gostar de banana não é suficiente para se contrair a varíola dos macacos. Isso foi apenas uma coincidência. Acreditem que ninguém está livre.
Ok, sentar-se sem esperar que o outro se levante é um comportamento de risco sim, mas a transmissão deste vírus entre humanos dá-se, sobretudo, pelo contacto com as lesões Cutâneas ou objetos contaminados (roupa, toalha, lençóis) e através de gotículas respiratórias.
E isto é que, de facto, me preocupa. É que se por causa de um corona tivemos que andar de máscara, com este ortopox vamos ter que voltar a tapar o nariz e a boca e andar de cuecas de gola alta de folha dupla? Valha-nos Deus…
palavra de apreço para todos os doentes que iam ser operados no passado dia 1 de maio e viram as suas cirurgias adiadas. Porquê? Segundo o Sesaram, porque “a coincidência de ser Dia do Trabalhador e Dia da Mãe levou os colaboradores a privilegiar passar o dia com as suas famílias”. Bonito serviço. E no dia 10 de junho? Só se trabalha fora de Portugal? A 16 não se faz nada porque é o Corpo de Deus? E a 1 de julho? Não! É o dia da Região. 15 de agosto? Nem pensar. É a festa do Monte. Enfim… O melhor mesmo é marcar no privado. Com alguma sorte ainda são tratados pelos mesmos que ficaram em casa. É que lá, a coisa é diferente! Dizem que a música é outra.
antevendo eventual mal-estar geral e na tentativa de poupar os incomodados a exigências de pedidos de desculpa, aqui fica o meu sincero: DESCULPEM-ME FOFOS E FOFAS. Beijinho no ombro.
Ps, Ps Ps,
Pedro Nunes escreve ao domingo, todas as semanas