Quarenta anos de Episcopado Glória a Deus
No dia 16 de maio de 1982, na Igreja de Santo António dos Portugueses, no coração da Roma antiga, recebi a ordenação episcopal das mãos do Cardeal Furstenberg, antigo Núncio em Portugal que, em Roma, fora Reitor do Colégio Belga, onde estudou o jovem padre Carlos Wojtyla, futuro Papa e amigo da Madeira.
Após os estudos no Seminário do Funchal, educado por professores formados em Roma e França, segui para Roma, onde na Universidade Gregoriana e Instituto Bíblico
estudei Teologia e Sagrada Escritura, seguindo depois para Jerusalém, onde na célebre École Biblique fundada pelo Padre francês E. Lagrange, estudei Sagrada Escritura e Arqueologia Bíblica, percorri em clima de estudos tanto Israel, como o Líbano, Síria e toda a Turquia, visitando os lugares evangelizados por São Paulo, durante 31dias.
Regressando ao Funchal, lecionei S. Escritura, trabalhei, na Ação Católica e Cursos de Cristandade, com os caros colegas e amigos padres Maurílio Gouveia e Abel Augusto da Silva, enquanto em Roma se realizava o Concílio Vaticano II, cuja preparação acompanhara antes como estudante mui atento. Neste período, na primavera da vida e ardor apostólico, vi a diocese do Funchal crescer “em sabedoria e caridade” como esposa dileta de Cristo Bom Pastor.
Passados apenas quatro anos, regressei de novo a Roma como Vice-reitor e mais tarde Reitor do novo Colégio que pesou muito a edificar, frequentando, entretanto, um Curso de Mariologia na Pontifícia Faculdade Teológica Marianum, trabalhando sob a direção do grande professor e exegeta francês padre R. Laurentin.
Após o Concílio, a renovação da Igreja não se realizou antes da chegada do carismático Pontífice João Paulo II. Para pôr em ação
MEMÓRIA AGRADECIDA o documento sobre os sacerdotes, “Presbiterorum Ordinis”, formou-se em Roma um grupo de padres que se habilitaram
para a missão de anunciar em todo o mundo as riquezas espirituais do sacerdócio ordenado sob a direção de Mons. Esquierda Bifet, perito em santidade e ciência sacerdotal, a cuja escola me associei na União Apostólica do Clero para a língua portuguesa e italiana. Fui enviado nas férias de verão a todas as dioceses de Angola e Moçambique, depois África do Sul, duas vezes a Macau e outras tantas a Timor, à Austrália, a Portugal, em Fátima e diversas dioceses, depois à Alemanha, Singapura e Malaca, onde ainda se falava o português de Fernão Lopes. Tendo participado em Roma num Curso de Sindonologia (Santo Sudário), realizei três Congressos de “Teologia da Paixão” no Brasil, acompanhado pela Senhora Maria Célia Santachè, em Ponta Grossa, no Santuário da Aparecida do Norte e Brasília.
Em Roma, fui nomeado representante do Episcopado Português nos Congressos Internacionais de Turismo e Ecumenismo e delegado para Portugal na
“Peregrinatio ad Petri Sedem”. Em Fevereiro de 1981 fui convidado para a
Comissão de Honra das Comemorações dos 750 anos da morte de Santo António, em Pádua, onde me foi oferecida uma relíquia autêntica do Santo, devido à abertura
da “Arca” que contem as relíquias de Santo António.
“Post tantos tantos que labores”, (depois de tantos e tantos trabalhos) como escreve o meu poeta preferido Virgílio, por misericórdia de Deus e não mérito próprio, fui eleito bispo do Funchal no ano de 1982, portanto há quarenta anos.
Para realizar esta missão de pastor e dos cargos que me impuseram na Conferência Episcopal, Santa
Sé, COMECE, Islamismo em Paris, com as migrações de todo o país em todo o mundo, contei com a ajuda incondicionada do meu Vigário Geral Dr. Agostinho Gomes e do meu caro amigo Padre Abel Augusto da Silva, que me iniciara a amar o latim de Virgílio, a conhecer e defender o Museu de Arte Sacra, a cuidar das vocações sacerdotais, tendo a alegria espiritual de ter ordenado um vasto número de padres tanto diocesanos como religiosos. Gostava de ensinar S. Escritura peregrinando com diocesanos na Terra Santa e em todas as terras da Bíblia “pondo as pedras a falar”, tanto em Petra como no Sinai, tanto em Nínive como em Babilónia. Quanto ao ecumenismo entre os ortodoxos, recordo o encontro com o grande Patriarca Atenágoras em Istanbul, depois na Rússia como na Ucrânia, no Iraque e na Índia, nas festas do S. Sacramento e Espírito Santo nos Estados Unidos e Canadá.
Deus concedeu-me grandes amigos, recordo os que Deus tem no seu Reino, os colegas de seminário, dum modo especial o Arcebispo Maurílio, o Cardeal Ribeiro que acompanhei sempre em Roma e em dois Conclaves que elegeram Papas, o Santo Papa João Paulo II, os professores da École Biblique de Jerusalém, o Padre Bernardino de São José que me iniciou no estudo e amor à Sagrada Eucaristia, o Cónego Pombo, diretor espiritual do Seminário, algumas religiosas vitorianas, a Irmã do Bom Pastor, o Doutor Fernando Couto dos Cursos de Cristandade, o diácono José A. Melvill de Araújo, o Doutor Agostinho Cardoso e tantos outros e outras que formam um longo rosário glorioso. Entre os que ainda respiram o ar dos nossos montes, o Sr. Doutor Alberto
João Jardim, a Irmã Lucinda, os meus familiares e os médicos que cuidam de mim.
Perguntaram-me como seria recordado na diocese após outros quarenta anos? Não tenho dúvidas, primeiro por ser o bispo que trouxe o primeiro Papa ao Funchal, e segundo, por ter pedido ao Papa João Paulo II a beatificação do imperador Carlos de Áustria. E termino com o livro do Apocalipse: “Àquele que nos ama e com o seu sangue
nos livrou dos nossos pecados, e fez de nós reis e sacerdotes para Deus, Seu Pai: a Ele, glória e poder pelos séculos dos séculos. Ámen.”