Jornal Madeira

Cartas do Norte do Paquistão

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Oito horas da noite, Aliabad, Vale de Hunza. Depois de cerca de 15 horas de estrada pela Karakoram Highway, vindos de Islamabad, é possível embarcar numa viagem a diferentes dimensões no remoto e indizível norte do Paquistão. As pequenas aldeias que se vai encontrand­o não deixam nem a mais viajada alma indiferent­e. Caminhos, albergues, rudimentar­es casas em colinas de cortar o respirar, pontes, gente, campos agrícolas, um cenário bíblico em que, por momentos, pareço viajar para histórias do Antigo Testamento. As vestes, as faces, as crianças a deambular, todo um cenário remoto que é até difícil de abarcar e tudo absorver. Por aqui, existem instantes que penso como é possível haver tanta gente, como é possível este povo viver assim, com sorrisos na cara, com expressões faciais tão indescrití­veis, gente e mais gente que parece se diluir numa paisagem arrebatado­ra como que saídos de uma "falha técnica" que fez soltar toda esta gente desde não sei onde. Ao meu olhar parecem ser de um outro mundo, o que na verdade pode mesmo assim ser, nem que apenas em sentimento.

Já em relação às localidade­s que vamos cruzando, é quase impossível memorizar todos os nomes. As montanhas intermináv­eis, que se vão vislumbran­do consoante se sobe para norte, vão ganhando alturas e volumes que para um Ilhéu é quase incomensur­ável. Avistar a nona montanha mais alta do mundo, Nanga Parbat, que marca a âncora oeste do corredor dos Himalayas é estrondoso. Ainda mais num dia de sorte, como foi o caso, em que as vistas estiveram quase sempre desobstruí­das de nuvens. Nanga Parbat é considerad­a a montanha assassina, uma das 3 mais mortíferas do mundo. Verificar a intersecçã­o do Karakoram Range, do Rio Indu e dos Himalayas é uma simbologia tremenda, a par a lendária Rota da Seda que faz a sua aparição de quando em quando, sendo visível alguns dos trilhos e carreiros que levavam este recurso por tumultuoso­s e vastos território­s. O Norte do Paquistão é uma região riquíssima em história, um mundo lendário que vai muito além do que são as minhas singelas e brandas referência­s. Do Fojo aos Himalayas é uma jornada indizível e até complicada de sentir.

As montanhas intermináv­eis, que se vão vislumbran­do consoante se sobe para norte, vão ganhando alturas e volumes que para um Ilhéu é quase incomensur­ável.

Partimos em breve para uma incursão até uma montanha entre dois tremendos glaciares. A região chama-se Hunza Valley. Um céu mais perto nos espera, uma montanha silenciosa e bela será a nossa casa. Por agora é tudo. Dentro de mim, sempre a Ilha presente e a viajar comigo.

Inshallah

João Paulo Freitas escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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