Jornal Madeira

Depressão em primeira mão

- Eduardo Azevedo eapgazeved­o@gmail.com

Chris Cornell, Ian Curtis, Kurt Cobain, Robin Williams, Anthony Bourdain, Mary Shelley, Tennessee Williams, Eugene O’neill, Robert Enke, Nick Drake, Elizabeth Hartman, Sylvia

Plath, Virginia Woolf, David Berman, Cheslie Kryst, Alexander Mcqueen, David Foster Wallace, Verónica Forqué, Chantal Akerman e o mais famoso de todos, Van Gogh… A lista continua, são uns quantos, estes são conhecidos, cantores, atores, chefes culinários, escritores, poetas, modelos, pintores. Penso que o leitor já reparou que há aqui um tema, algo em comum a personalid­ades tão distintas, em que julgamos que têm a vida acertada, arranjada e completa, pela aparência que mostram, na realidade todos sofreram de depressão.

A depressão é uma doença que afeta cerca de 4.4% da população mundial, segundo a Organizaçã­o Mundial de Saúde, está classifica­da como sendo uma doença do foro psiquiátri­co, ao mesmo tempo é, provavelme­nte, a doença que mais estigma encontra, talvez por ser algo invisível ao olho humano, deixamos de ter a noção das cicatrizes que a mesma deixa em quem a carrega.

As cicatrizes são duradouras, muitas vezes não sabemos como é que as conseguimo­s. Ao contrário de uma cicatriz num joelho, em que mostramos como se fosse uma medalha, as interiores escondemos debaixo de imensas camadas até um ponto em que sentimo-nos perdidos.

Convém agora fazer um parênteses, depressão é confundida muitas vezes com tristeza, melancolia, e outros sentimento­s em que uma pessoa se sente mais em baixo, na realidade é algo completame­nte diferente. Quando temos algo do género conseguimo­s encontrar máscaras para disfarçar o que se passa por dentro, mostramos a faceta que achamos que as outras pessoas querem, pelos mais diversos motivos, seja por vergonha, para não nos sentirmos incomodado­s, para não afligir quem está à nossa volta, ou por outro motivo qualquer, que para si leitor, provavelme­nte, não irá compreende­r.

Conforme a lista inicial o leitor poderá reparar na “coincidênc­ia” que a maioria dos nomes já não estão cá, a coincidênc­ia maior é que talvez todos tiraram a sua própria vida. Esta será a pior consequênc­ia da depressão, não confundir com estado depressivo, pois isto acaba por ser um adjetivo para classifica­r alguma coisa. Já foi mais complicado para mim perceber como é que é possível chegar aquele ponto, simplesmen­te acabei por compreende­r. O sentimento de desespero, de inutilidad­e, de falta de propósito na vida, poderão ser motivos para isso, a verdade é que nunca ninguém irá saber, apenas suspeitar, especular, sobre o caminho que alguém levou para isso.

Também não ajuda nada os clichés dados pela maioria das pessoas que nos são próximas, entendo que seja com a melhor das intenções, mas o que acontece é sentirmos por vezes mais afundados, porque não conseguimo­s explicar o que sentimos, e coisas como “anima-te”, “bebe uma para esquecer”, “tens uma boa vida”, “as coisas vão ser melhores”, “olha para o lado positivo da vida”, “aquele está pior que tu”, posso garantir que o mais provável é não ajudar ninguém.

Mas caro leitor, não se assuste, há mecanismos que mesmo assim conseguem ser perceptíve­is, o isolamento da sociedade, do próprio grupo de amigos e família, perda de motivação para fazer coisas que gostamos, alguma a dependênci­a nova, são gritos de ajuda, mas lá está, nem todos os casos são iguais. Eu já percebi que o mais provável é ter de viver com esta sombra em cima de mim, procurando mecanismo que ajudem a tornar-se menos pesado lidar com isto.

E fica o conselho, se sentir-se perdido na vida, sem motivação, ou outra coisa do género, procure alguém especializ­ado. Ah, e não precisa de passar por isso sozinho.

Eduardo Azevedo escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal