Jornal Madeira

Arquitetar o mundo dos nossos filhos!

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Perdemos a noção da nossa condição humana? Perdemos a capacidade de saber como viver juntos! Na escola, somos capazes de aprender a raciocinar, aprendemos que a soma dos catetos ao quadrado é igual à hipotenusa ao quadrado, algo fundamenta­l para compreende­rmos as distâncias, aprendemos que organelos existem na célula, aprendemos que o planeta é uma esfera, mas será que aprendemos o respeito pelo outro? Dirão todos, mas isso é inerente?

Quando no Mundial da Rússia, é notícia o facto de os japoneses limparem o estádio, após o jogo com a Colômbia. Algo que nos surpreende­u, mas também nos surpreende­u quando o capitão do West Ham, Mark Noble, limpou o balneário após utilizá-lo. Que educação extraordin­ária tiveram estas pessoas na escola ou em casa?

Respeitar a presença dos outros, sem se tornar numa espécie de santo, pois fizeram o óbvio. Encontrar uma carteira e devolvê-la não é um ato de heroísmo, é uma obviedade. Na subversão de valores do Mundo, quantas vezes vimos a saber que os modelos que a sociedade reconhece, têm telhados de vidro? Sabe-se que muitos dos nossos heróis têm pés de barro! Aqueles que copiam, aqueles que são corruptos, aqueles que são bufos, aqueles que fazem esquemas, eram, afinal, os modelos e os heróis nacionais em vários países. São esses os nossos modelos nacionais, afinal, perguntar-se-ão os jovens por esse Mundo fora. São, afinal, essas as pessoas em que um dia os povos votaram e os representa­m, sem terem qualquer consequênc­ia dos seus esquemas, pois os subterfúgi­os jurídicos legais conseguem sempre vencer qualquer batalha jurídica, por falta de uma qualquer vírgula.

É engraçado ouvir-se: “a educação vem de casa e nasce no berço” e eu concordo plenamente, a educação vem de casa, mas o meio em que se vive é uma variável determinan­te, como podemos educar se em nosso redor, os nossos filhos, as nossas crianças estão sujeitas a vivenciar comportame­ntos errados como os certos e até premiados, por uma sociedade que acha que a educação vem é de casa.

90% da nossa vida é em comunidade e vivemos pelos outros e com os outros. Mas será que podemos ter respeito pelo outro quando conhecemos o outro e como ele age, em tudo contrário ao que proclama? Que raiva não poder dizer aos povos: cuidado, o Rei vai nu!

Já agora, onde se deve aprender a ser um mero cidadão que cumpre as suas obrigações? Em que disciplina nos ensinam a ter que preencher uma mera declaração de IRS?

O país que queremos amanhã, terá que ser construído hoje e não amanhã. O Mundo que queremos para os nossos filhos é arquitetad­o por nós, eles o farão para os seus filhos e será sempre assim. Mas será que restará uma sociedade coesa até lá? Uma sociedade que não entende que mais que reciclar, é importante reduzir.

Uma sociedade que, quando frequenta as piscinas públicas, ignora que existem casas de banho e acha normal urinar na piscina e sujeitar os seus filhos à urina, pois não é capaz de andar uns meros 5 metros até ao WC mais perto.

Essa é a nossa sociedade! Uns que acham que os catetos não interessam, outros que não há paciência para ir até ao WC, outros que o melhor é arranjar um esquema para sobreviver, se calhar ter um exército de perfis falsos para fazer uma qualquer campanha, de preferênci­a sendo promovido para um qualquer assessor! Cá estão os “nossos heróis”, os nossos exemplos!

Isto não é um problema de São Bento ou de Belém, é um problema de todos nós e temos de ter a responsabi­lidade de deixar como legado para os nossos filhos uma sociedade melhor, uma sociedade coletiva mais justa e mais feliz, mais do que nosso sucesso individual!

Eduardo Freitas escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas

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