Jornal Madeira

Paula Rego eterniza-se

Aclamada internacio­nalmente, a artista plástica Paula Rego faleceu ontem, aos 87 anos. O Governo decretou um dia de luto nacional que coincidirá com as exéquias fúnebres.

- Por Iolanda Chaves/lusa redacao@jm-madeira.pt

Morreu a artista, ficam as obras e todas as histórias que Paula Rego procurou contar através da sua arte, ao longo de uma preenchida e reconhecid­a carreira coroada de prémios e galardões, no País e no estrangeir­o. Um desses reconhecim­entos foi-lhe atribuído precisamen­te pela rainha Isabel II que, em 2010, ordenou a artista Dama Oficial da Ordem do Império Britânico.

Nascida a 26 de janeiro de 1935, em Lisboa, Maria Paula Figueiroa Rego radicou-se no início dos anos 70 em Londres, onde, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, fez uma pesquisa sobre contos infantis. Aí conheceu o futuro marido, Victor Willing, pai dos três filhos, que veio a falecer em 1988.

Na terra natal, à qual se manteve sempre ligada, recebeu, em 1995, as insígnias de Grande-oficial da Ordem Militar de Sant'iago da Espada e em 2004 a Grã-cruz da Ordem Militar de Sant'iago da Espada. Em 2009, abriu a Casa das Histórias, com projeto do arquiteto Eduardo Souto de Moura, no Município de Cascais, que hoje lhe dedica um dia de luto.

Em 2015, num leilão, em Londres, a obra ‘The Cadet and his Sister’ (1988) (‘O cadete e a sua irmã’, em tradução do inglês) é vendida por 1,6 milhões de euros, tornando-se num novo recorde da artista portuguesa, e dois anos mais tarde, o filho, Nick Willing, deu a conhecer o documentár­io ‘Paula Rego: Secrets and Stories’, por ele realizado.

Também o Ministério da Cultura reconheceu a artista, em 2019, atribuindo-lhe a Medalha de Mérito Cultural e um ano depois o Museu da Presidênci­a da República assinalou os 85 anos da artista com os trabalhos criados para o Palácio de Belém, a pedido do antigo Presidente da República Jorge Sampaio, de cujo retrato Paula Rego é a autora.

Em 2021, ela que em muitos dos seus trabalhos abordou temas sensíveis para as mulheres, como o aborto, realizou o sonho de expor no Museu Tate Britain, em Londres, uma casa de exposições que sempre viu como um baluarte masculino. Sentia-se discrimina­da por ser mulher e estrangeir­a. Apresentou aí uma exposição retrospeti­va, com 100 obras dos seus 60 anos de carreira.

Acabou por ser a maior e mais completa exposição de Paula Rego no Reino Unido, incluindo, além da pintura, esculturas, colagens e desenhos, desde os anos 1950, até aos mais recentes, incluindo a série ‘Mulher Cão’, dos anos 1990, e ‘Aborto’, uma das que mais impacto político e social tiveram em Portugal, produzida durante a campanha pela despenaliz­ação do procedimen­to no País.

Sempre que surgia em cerimónias públicas, a artista portuguesa reiterava a importânci­a das histórias para as pessoas se compreende­rem a si próprias e ao mundo.

"[Com as histórias] pode-se castigar quem não se gosta e elogiar quem se gosta. E depois inventa-se uma história para explicar tudo", comentou, um dia, na inauguraçã­o de uma das suas exposições, na Casa das Histórias.

A morte da artista foi lamentada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que destacou a projeção internacio­nal de Paula Rego e se mostrou desde logo recetivo ao luto nacional.

António Costa, primeiro-ministro, destacou a artista de qualidade excecional e com grande reconhecim­ento internacio­nal, cujas “pinturas, desenhos e gravuras encerram imagens poderosas que ficarão sempre connosco e com as gerações por vir”.

“A sua obra alimenta-se de referência­s e memórias portuguesa­s, como os contos populares ou a literatura de Eça de Queirós, e Paula Rego foi uma artista atenta à nossa realidade social. Autora de um universo figurativo singular, as suas obras não se parecem com mais nada do que com Paula Rego”, acrescenta o comunicado.

Augusto Santos Silva

Foi uma artista fortemente comprometi­da com as grandes causas do seu tempo.

Pedro Adão e Silva

Deixa para trás um impression­ante corpo de trabalho que será apreciado por gerações vindouras.

Stephen Parkinson

Foi uma grande embaixador­a das relações culturais lusobritân­icas, irreverent­e, inovadora e profunda.

João Vale de Almeida

Embaixador da União Europeia (UE) no Reino Unido

Revolucion­ou de forma única a maneira como as vidas e as histórias das mulheres são representa­das.

Maria Balshaw

Diretora da rede de museus britânicos Tate

Fez da sua memória pessoal e da nossa memória coletiva um impulso renovado para a sua arte de contadora de histórias.

Fundação EDP

Uma das artistas com maior reconhecim­ento não só em Portugal, país onde nasceu e cresceu, e em Inglaterra, onde estudou e depois viveu até à sua morte, mas também por todo o mundo.

Fundação Serralves

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Presidente da AR
Ministro da Cultura
Secretário de Estado das Artes britânico
Cada quadro seu é um dardo atirado contra o preconceit­o. Presidente da AR Ministro da Cultura Secretário de Estado das Artes britânico

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