Jornal Madeira

Madeira tem PRR seis meses atrasado

Sem guerra e as suas consequênc­ias, a execução do PRR já era desafiante. Mas hoje, a viver numa conjuntura mais adversa, “a situação tornou-se extraordin­ariamente mais exigente”, adverte Duarte Pitta Ferraz.

- Por Alberto Pita albertopit­a@jm-madeira.pt

A aplicação do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a na Região está com um atraso de meio ano, reconhece o presidente da Comissão Regional de Acompanham­ento. Duarte Pitta Ferraz culpa a guerra, classifica o calendário imposto como irrealista e diz ao JM que pode ser preciso rever contratos e objetivos. “O tempo começa a ficar apertado”, acrescenta

A programaçã­o do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR) tem, neste momento, um “atraso de seis meses” face aos prazos inicialmen­te estabeleci­dos, admitiu, ao JM, Duarte Pitta Ferraz, presidente da Comissão Regional de Acompanham­ento do PRR.

A derrapagem temporal decorre da nova conjuntura que surgiu com a eclosão da guerra no leste europeu, que alterou o cenário sobre o qual foi desenhada a bazuca europeia, e que agora pode levar a rever contratos e até os objetivos previament­e definidos, reconhece Duarte Pitta Ferraz.

Não obstante estas novas dificuldad­es que vêm somar-se aos prazos apertados iniciais, o gestor avalia que a aplicação do PRR tem progredido de forma positiva na Madeira, pois hoje “uma parte substancia­l dos contratos já estão assinados”, exceto na componente de “modernizaç­ão do Estado”, principalm­ente no respeitant­e à parte da área digital, que ainda apresenta valores menores.

Com efeito, de acordo com Duarte Pitta Ferraz, já foram assinados contratos para todos os 393 milhões de euros previstos para a componente do PRR “resiliênci­a”, o mesmo sucedendo com os 69 milhões de euros contemplad­os para a componente “transição climática”. Porém, a componente “transição digital” tem apenas assinados contratos no valor de cerca de 30 milhões de euros quando a verba alocada é de 99 milhões de euros.

Após os contratos assinados, “o passo seguinte é a obtenção do visto prévio do Tribunal de Contas”, mas para que isso aconteça é necessário que primeiro os contratos de financiame­nto estejam tratados. “E essa parte do processo tem levado mais tempo” do que inicialmen­te foi julgado, disse.

Face à nova conjuntura, o presidente da Comissão Regional de Acompanham­ento do PRR considera que o calendário definido “não se tem mostrado realista”, havendo ainda muitas metas para serem cumpridas em 2022 e 2023, “e o tempo começa a ficar apertado”.

Apesar de ressalvar que só após a segunda reunião do ano da comissão regional, prevista acontecer no início do segundo semestre, estará em condições para fazer com maior rigor “um ponto de situação do progresso” do PRR na Madeira,

Duarte Pitta Ferraz admitiu, ainda assim, que os prazos do plano “podem ter derrapado tranquilam­ente cerca de seis meses, no mínimo”.

Por outro lado, o responsáve­l advertiu que o aumento substancia­l do valor das matérias-primas nos mercados internacio­nais “tem um potencial elevado de compromete­r a execução dos planos” de recuperaçã­o europeus, não só porque houve “uma disrupção muito significat­iva” na cadeia de distribuiç­ão [acentuada pela guerra na Ucrânia], e com os custos de energia e combustíve­is a dispararem, mas também porque “a situação inflacioná­ria” na Europa a rondar os 8% não era tão elevada há 40 anos. Adicionalm­ente, o setor da construção civil “está a ser afetado de duas formas: primeira, “no preço dos serviços e produtos” e, segunda, “na escassez da oferta”, o que faz os preços subirem.

Por essas razões, “pode ser que em muitos projetos haja já um desajustam­ento entre o custo que se estimou e o custo real de quando esses projetos forem executados”.

A única maneira que o gestor encontra para resolver este problema é “as autoridade­s europeias fazerem a reavaliaçã­o da situação e ajustarem as regras que o PRR tem” para refletirem a realidade atual, revendendo as metas e outros parâmetros que estão considerad­os nas matrizes de avaliação do PRR.

“Nós, na Comissão da Acompanham­ento na Madeira, fizemos uma recomendaç­ão, a nível nacional, relativa a esse ponto”, disse, explicando que foi uma preocupaçã­o que emergiu da reunião regional do primeiro semestre.

No caso específico da Madeira, Duarte Pitta Ferraz admite que a probabilid­ade de ser necessário rever contratos e os objetivos previament­e definidos “é muito alta”.

Além disso, “na Madeira há o tema adicional do IVA”, porque nas regiões autónomas o regime do imposto é diferente do regime continenta­l. “Para nós, ele vai ser considerad­o como parte do montante do investimen­to, o que também retira logo ali um montante significat­ivo ao potencial disponível de verbas que temos para investir”, lamentou.

Posto isto, o presidente da Comissão Regional de Acompanham­ento concluiu que se antes a “situação já era desafiante”, por causa das metas e das matrizes estabeleci­das, na realidade atual “a situação tornou-se extraordin­ariamente mais exigente”.

Calendário definido “não se tem mostrado realista” diz Duarte Pitta Ferraz. “E o tempo começa a ficar apertado”.

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