Jornal Madeira

Um robalo dividido em três porque o dinheiro não estica

Uma ida ao supermerca­do é uma aventura para quem tem os trocos contados. Os preços cada vez mais elevados levam as famílias a terem de optar entre o que comprar e o que deixar para trás.

- Por Carla Sousa carlasousa@jm-madeira.pt

Maria Gonçalves é apenas um exemplo dos muitos que hoje em dia veem-se privados de uma “vida folgada” e de uma alimentaçã­o saudável e equilibrad­a para “cumprir com todos os compromiss­os”.

Dívidas, para esta mulher natural de Câmara de Lobos, “é uma coisa que não quero para mim”. A ginástica mensal que esta idosa de 79 anos tem de fazer com a reforma de bordadeira, mais a pensão de viuvez, “é algo que muitas vezes tira o sono”. Como refere, “tirar o dinheiro para a renda da casa, água, luz, tv cabo e gás” reduz o orçamento a muito pouco, ou praticamen­te a nada, “quando é um mês que tenho de levantar medicament­os na farmácia”. E este é precisamen­te o mês da cifra negra, em que esta septuagená­ria se viu na necessidad­e de abdicar de alguns bens de primeira necessidad­e no supermerca­do para poder

“manter a saúde em dia”. Um robalo dividido em três, “porque o dinheiro não estica”, é o garante de três almoços para Maria Gonçalves, porque “ao jantar fico-me com um papo-seco, um chá e uma saladinha, temperada com pouco azeite, porque até isso está a escaldar”, desabafa. Até o seu gato aprendeu que a vida não está fácil e já se habituou ao paté de marca branca. Maria Gonçalves diz que nunca pensou “voltar aos tempos antigos, em que tinha de racionar a comida e a bebida”. Refere que “o que antes comprava com 50, agora custa mais de 80 euros” e por isso opta pelas marcas próprias e “por comprar apenas o imprescind­ível”.

“Um frango rende na minha casa e carne de vaca é só para dias de festa. A carne de porco também está caríssima e não sei onde é que isto irá parar”, lamenta, acrescenta­ndo que “dizem que a culpa é da guerra, eu sei lá, mas isto assim é que não pode continuar. Tudo aumenta, menos a reforma…”.

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