Jornal Madeira

ENTRE O NECESSÁRIO E O IN DISPENSÁVE­L

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O que até há bem pouco tempo era algo comum na casa dos madeirense­s, agora passou, para muitos, a ser “um luxo”, daí que não raras vezes muitos clientes, quando chegam à caixa do supermerca­do para pagar as contas, “tenham de optar entre os bens que levam e os que ficam”, deixando para trás o que talvez não faça tanta falta. “Tem sido assim quase todos os dias, aqui, com produtos deixados junto à caixa, e acredito que também seja igual nos outros supermerca­dos”, constatou uma operadora de uma superfície comercial.

Preferindo manter o anonimato, garante que

“nota-se a diferença, desde há uns meses para cá. As pessoas compram menos e o pouco que levam já não olham à qualidade, mas sim ao preço. E a quantidade também já não é como era”.

E é assim neste supermerca­do tal como numa outra superfície comercial do Funchal, onde Maria José trabalha como repositora e ouve “todos os dias” os lamentos dos clientes. “Meu Deus, como isto está tudo mais caro!” é uma das expressões mais frequentes, refere ao JM esta mãe de dois rapazes que “dão cabo do orçamento, porque são adolescent­es e estão em cresciment­o”. Além das roupas e calçado, acrescenta que “é aqui mesmo no supermerca­do onde deixo grande parte do dinheiro, porque realmente isto está uma desgraça”. Confessa que, “tal como a maioria das pessoas”, já não olha à qualidade e a quantidade, essa, “é também mais reduzida”, apostando cada vez mais no que é realmente essencial. E mesmo com “o dinheiro controlado, não dá para guardar algum de reserva ao fim do mês”.

Longe vão os tempos em que as famílias juntavam ‘um pé de meia’. Maria Gonçalves ainda se recorda dessa altura, mas, revelou ao Jornal, “investi o dinheirinh­o na substituiç­ão do telhado da casa, que já não estava em condições e era um perigo. Aproveitei para dar uma pinturinha nas paredes e arranjar mais umas coisinhas”. Mal sabia esta mulher que, afinal, fez as obras na altura certa, porque hoje em dia a matéria-prima e a mão de obra estão muito mais caras e, para quem tem o dinheiro contado, a matemática da vida continua a ser uma grande dor de cabeça.

“Agora, de reserva, só tenho o dinheiro do funeral”, adianta Maria Gonçalves, pois, acrescenta, “se não quis ter dívidas em vida, também não quero depois de morta”.

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