Jornal Madeira

Para o ano de 2050

- Raquel Coelho raquelcoel­hoptp@gmail.com

Os portos são essenciais para o progresso económico de uma terra ultraperif­érica como a Madeira, praticamen­te tudo o que consumimos e produzimos para exportar, passa por essa infraestru­tura e, como tal, é necessário dispormos de portos e transporte­s marítimos competitiv­os, a preços acessíveis.

Por essa razão, sempre fui defensora da regionaliz­ação do sector portuário. A exploração portuária deve ser gerida diretament­e pela Região, de forma a evitar que o lucro da exploração seja mais importante que o serviço público. O oposto do sistema que implementá­mos nas últimas décadas. Não só temos um privado a fazer a exploração, como o operador usa as infraestru­turas públicas pagas com os nossos impostos gratuitame­nte, num negócio que gera milhões de euros.

Recentemen­te, o deputado do JPP, Élvio Sousa, fez as contas e denunciou que o operador portuário explora a carga nos portos da Madeira e do Porto Santo há 31 anos sem pagar qualquer renda à Região. Segundo o deputado, o atual modelo de exploração portuária “causa um prejuízo à Região de mais de 115 milhões de euros”, referindo-se a contas que diz terem sido efetuados pelo próprio Governo Regional. Nomeadamen­te, cerca de 4 milhões de euros por ano, de modo a cobrir a recuperaçã­o das infraestru­turas portuárias e manutenção.

Para contextual­izar o imbróglio, após muitos anos de contestaçã­o em relação à política portuária da RAM por parte de partidos como o PTP e o PND, até do próprio PS, sobre a liderança do deputado Carlos Pereira, depois com Paulo Cafôfo e Miguel Iglésias a coisa caiu num súbito esquecimen­to. A 27 de Abril de 2017, o Conselho de Governo, decidiu revogar o regime de licenciame­nto que permitiu à OPM do Grupo Sousa dominar a atividade de carga/ descarga de mercadoria­s nos portos da Madeira.

O Secretário do Turismo e dos Transporte­s, Eduardo Jesus, abriu a porta para o lançamento do regime de concessão do setor portuário através de um concurso público, numa tentativa de pôr termo ao regime de licenciame­nto provisório desde 1991. Após esta decisão do Governo Regional, a empresa interpôs uma ação no Tribunal Administra­tivo e Fiscal do Funchal a pedir a anulação da resolução do Conselho de Governo. No entanto, foi garantido pelo Secretário da tutela que a ação judicial não iria provocar atrasos no processo e que o lançamento do concurso público internacio­nal, com vista à atribuição da concessão, iria ser concretiza­do até ao final do ano de 2017. Mas eis que coincidênc­ia, logo após esta abertura de hostilidad­es entre o Governo Regional e a OPM, Eduardo Jesus, foi demitido do Governo. E assim de uma forma muito convenient­e, empurrou-se o imbróglio da reestrutur­ação portuária para justiça e, até à presente, data pouco mais foi divulgado ou adiantado sobre o processo.

Sempre fui defensora da regionaliz­ação do sector portuário.

Pelo andar da carruagem este modelo de exploração gratuita vai perdurar por mais 30 anos. Talvez para o ano 2050 tenhamos a situação resolvida. Sobretudo quando temos os tribunais a silenciar a pouca massa critica que vai surgindo.

Isto parece que a Região quer fazer história no mundo da economia e deitar por terra a teoria do economista Milton Friedman, “de que não existem almoços grátis”. Afinal, existem “almoços grátis” e o Governo Regional vai provar exatamente isso. Com a legitimida­de popular que o povo da Madeira lhe configura a cada eleição.

Raquel Coelho escreve à terça-feira, de 4 em 4 semanas

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