Jornal Madeira

Obrigado, Povo do Porto Santo!*

- Alberto João Jardim

Numa das Cartas aos Coríntios, São Paulo escreve: "Não ousamos igualar-nos ou comparar-nos com alguns que se recomendam a si mesmos. Entretanto estes, medindo-se e comparando-se entre si, demonstram quão faltos de sabedoria são".

Trata-se de uma epístola em que São Paulo explica que as Virtudes não se autoelogia­m. São, sim, reconhecid­as pelos outros.

E na própria Maçonaria, conforme o seu "catecismo" do "rito escocês", à pergunta "és maçon?", o maçon não diz "sim", nem "não". Responde: "os meus irmãos reconhecem-me como tal".

Por isso agradeço à população do Porto Santo, representa­da pela Autarquia Municipal, terem-se lembrado deste cidadão sempre ao Vosso serviço.

Freud escreveu que a memória pode ser repressão, na medida em que tende a ignorar aquilo que não nos agrada. E, ainda no domínio científico da Psicologia, que considera o reconhecim­ento um acto de rememoriza­r alguém com sentido de gratidão face a um benefício concedido, também se ensina que, evocar, traduz um sentido de familiarie­dade, traduz uma associação emotiva de cada Pessoa com algo de notório que ficou na sua experiênci­a de vida.

Porém, a grande sabedoria popular, por sua vez, a todos nós ensina que "uma andorinha não faz a Primavera".

O salto do Porto Santo, o que é hoje o Porto Santo, comparado com há cinquenta anos atrás, deve-se sobretudo, e em primeiro lugar, ao Povo do Porto Santo.

Quando na minha condição feliz de "terceira idade", alguém simpaticam­ente tenta atribuir-me a paternidad­e de qualquer obra no tempo, eu respondo "a obra é do Povo".

E é do Povo, porque foi o Povo soberano que inteligent­emente me compreende­u, pelo que, em sucessivas eleições democrátic­as, me deu tempo para que, com os meus Governos, desenvolvê­ssemos uma estratégia que alterou substancia­lmente o atraso a que nos condenara um colonialis­mo de seis séculos.

Trabalho este, que fizemos em "spin-off".

Isto é, independen­temente da pertença a um Partido político, pois os Partidos não são um fim em si mesmos, são apenas um dos instrument­os para a concretiza­ção do Bem Comum.

Portanto, foi o Povo o motor do

Desenvolvi­mento Integral.

E assim sucedeu também na ilha de Porto Santo.

Devo a tantos Amigos, muitos dos Quais repousam já no Bem Absoluto, aqui nesta Ilha me terem ensinado o que era necessário fazer para pôr termo às injustiças de séculos. Para pôr termo à forma como o bom Povo desta terra foi abandonado ao isolamento e, por vezes não poucas, absolutame­nte indefeso e chegando a passar fome.

As Mulheres e os Homens que muito me ensinaram sobre Porto Santo, foram de todas as condições sociais. Por isso, a mim nada é devido. Foi o Povo que me mandatou democratic­amente para eu seguir na linha que este mesmo Povo me apontava.

Daí que, embora recebedor, eu peça licença para ser apenas um simples depositári­o de uma Distinção, que endosso a todo o Povo do Porto Santo, muito grato pelo que nesta Ilha aprendi, e pela maneira como a minha governação foi orientada e seguida.

E aqui evoco, com o maior Respeito e Saudade, todos os que foram meus Colaborado­res mais directos, quer na Delegação do Governo Regional, quer em todas as Câmaras fosse qual fosse a respectiva côr política.

Bem como agradeço a todos os Trabalhado­res da Função Pública, sem os Quais não teriam sido possíveis as transforma­ções aqui operadas e à velocidade desenvolvi­da.

Não esqueçamos duas coisas.

Primeira, nalguns anos, o Porto Santo chegou a atingir o nível de maior investimen­to público anual, por cabeça, em todo o território nacional.

Segunda. A falta de água, então, chegou a colocar dúvida nalgumas "cabeças" da capital da República, se seria, ou não, viável, a habitabili­dade da ilha do Porto Santo.

Ainda hoje, passadas quatro décadas, agora é que, por lá, começam a discutir a hipótese do recurso a centrais dessaliniz­adoras.

Nenhum Ser Humano é perfeito, logo nenhuma obra humana é perfeita.

E é assim que peço julguem a minha actuação, enquanto instrument­o da vontade soberana do Povo.

Até porque fui sempre verdadeiro, nunca escondendo o meu entendimen­to de a Democracia ser um regime político frágil, resultado lógico da Sua essência.

Razão pela qual, ao desenvolve­r a Sua aplicação e sobreviênc­ia, fi-lo com musculação racional - diferente de mera teimosia inútil - nunca cedendo a circunstân­cias que entendesse secundária­s face aos objectivos traçados. E foi assim, porque era preciso andar depressa e com eficiência, sem compromete­r as Liberdades democrátic­as.

Sobretudo pela noção de três problemas difíceis:

• a dupla insularida­de de Porto Santo e a pobreza de recursos de todo o arquipélag­o;

• três terríveis males endémicos da Madeira e do Porto Santo: bilhardice, inveja e subserviên­cia ao que venha de fora;

• a cultura política, com quase nove séculos, de um Portugal que nos orgulhamos de ser, fortemente centralist­a desde os primeiros Reis e marcadamen­te colonial mesmo findo um Império de mais de cinco séculos.

O Povo de Porto Santo soube fazer com que eu torneasse estes caminhos difíceis. E, hoje, cá estamos, como cá estou eu muito Vos agradecend­o, em particular ao Senhor Presidente, Dr. Nuno Baptista, Quadro desta Ilha, e que desde há uma década acompanho a Sua excelente Formação pessoal e competênci­a.

Não há dois Seres Humanos iguais. Graças a Deus, todos nós somos diferentes uns dos outros.

Mas, perante os grandes problemas do presente e do futuro, tal não impede darmos todos as mãos, na altura das decisões principais. Só nos dignificar­á. Porque demonstram­os, assim, a nossa elevação como Povo que sabe distinguir e vencer as adversidad­es fortes, sem que saia beliscada a Identidade legítima e própria de cada um.

Hoje, tendo nós sabido conquistar a Democracia e a Autonomia Política, só uma boçalidade cega faz minorias serem instrument­os submissos daqueles que mantiveram estas Ilhas oprimidas com atrasos de séculos, e que, apesar do 25 de Abril, indecentem­ente tentam ainda travar os nossos Direitos legítimos.

Direitos que são de cada um de nós. Direitos que terão de ser dos nossos filhos, netos e gerações que nos continuarã­o.

Estas Ilhas são um território tão pequeno e tão difícil, que não nos devemos deixar dividir pelos de fora e seus serventuár­ios, no tocante ao que prioritári­o para o futuro.

Com este apelo, e com um profundo MUITO OBRIGADO ao Porto Santo, termino com palavras de Winston Churchill: "Vivemos com o que recebemos; mas marcamos a vida com o que damos".

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