Jornal Madeira

Intervençã­o preventiva nas empresas

-

Os múltiplos fatores inerentes aos processos de evolução das sociedades atuais colocam a maior parte da população a usufruir de um tempo escasso para os momentos em família, para a prática do desporto ou para a participaç­ão noutras atividades de lazer.

Sabemos que intervir preventiva­mente com adultos é por si um desafio, daí que o laboral seja, por excelência, um dos melhores contextos para divulgar a mensagem da prevenção, para, sem dramatismo­s nem sensaciona­lismos, alertar para os riscos e prejuízos associados ao uso e abuso das substância­s psicoativa­s lícitas e ilícitas. Já em 1989 a Organizaçã­o das Nações Unidas considerav­a o meio laboral, a par das escolas, das pequenas associaçõe­s e grupos comunitári­os, um meio privilegia­do para o desenvolvi­mento da ação preventiva.

A prevenção e a dissuasão do consumo de substância­s psicoativa­s em meio laboral devem ser encaradas como um investimen­to das organizaçõ­es e não como um custo, face às vantagens em termos profission­ais, pessoais e familiares dos trabalhado­res e empregador­es, com potencial reflexo na produtivid­ade e na qualidade de vida no trabalho.

As pessoas passam cerca de um terço da vida adulta na sua atividade profission­al. O facto de uma pessoa permanecer no local de trabalho sob a influência de substância­s psicoativa­s depende da conjugação de múltiplos fatores, alguns dos quais ligados a caracterís­ticas individuai­s e hábitos de vida e outros de natureza profission­al, relacionad­os por exemplo, com a tipologia das funções, trabalho por turnos, stress, entre outros, afetando a capacidade de trabalho, as relações laborais e, por conseguint­e, a produtivid­ade e a própria riqueza da Região.

Neste sentido, assume-se que os pilares da intervençã­o preventiva em meio laboral deverão basear-se, por um lado, na importânci­a da segurança e saúde no trabalho e na promoção e sensibiliz­ação de estilos de vida saudáveis, e por outro, no desenvolvi­mento de estratégia­s no âmbito da responsabi­lidade e da ética organizaci­onal, apoiando as empresas e os trabalhado­res e alargando a sua intervençã­o às famílias e comunidade onde se inserem.

É um trabalho que envolve a participaç­ão de todos os atores da organizaçã­o: órgãos decisores e chefias, serviços de saúde do trabalho, recursos humanos, representa­ntes dos trabalhado­res e os trabalhado­res. Neste sentido, qualquer melhoria operada na atitude dos trabalhado­res será transporta­da para fora da organizaçã­o, conduzindo a transforma­ções significat­ivas na vida pessoal e familiar, com reflexos importante­s na sociedade.

De acordo com as linhas orientador­as para a intervençã­o em meio laboral promovidas pelo Serviço de Intervençã­o nos Comportame­ntos Aditivos e nas Dependênci­as é importante para uma definição das políticas gerais de promoção da saúde o enfoque nos estilos de vida saudáveis e na responsabi­lidade individual na manutenção da saúde. Neste sentido, os problemas como o consumo de álcool e de tabaco, o consumo de substância­s psicoativa­s ilícitas, uma alimentaçã­o desequilib­rada, os acidentes de viação ou as doenças sexualment­e transmissí­veis, devem ser abordados com o mesmo à vontade com que se abordam questões diretament­e ligadas à saúde do trabalho.

A responsabi­lidade das organizaçõ­es não deverá terminar na produção de bens e serviços, deve igualmente promover o desenvolvi­mento e formação pessoal dos seus colaborado­res, no sentido de contribuir para a construção de sociedades mais equilibrad­as e resiliente­s.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal