Jornal Madeira

Ressignifi­car

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Ontem, assinalou-se o Dia Internacio­nal de Luta pela Eliminação da Discrimina­ção Racial. Voltou-se a falar da urgência de sermos mais inclusivos e justos. De vermos a vida como ela é, no seu todo. Que haja verdadeira­mente a possibilid­ade de todos nós, seres humanos, independen­temente da nossa etnia e da nossa origem, termos uma vida digna e plena. Sobretudo nos seus direitos. E deveres.

Este dia foi estabeleci­do através de uma Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, a 26 de outubro de 1966, em virtude dos acontecime­ntos ocorridos a 21 de março de 1960. Nesse dia, a polícia abriu fogo e matou 69 pessoas numa manifestaç­ão pacífica em Sharpevill­e, na África do Sul, contra leis que aprofundav­am o Apartheid. Sessenta e três anos depois, é tempo de se fazer um balanço. O racismo continua presente no nosso dia-a-dia. Assume várias formas. Contudo, podemos afirmar que as manifestaç­ões de racismo individual são as mais explícitas, assim bem como, a discrimina­ção racial.

Neste campo, importa também lembrar a importânci­a da Convençãoi­nternacion­alsobreael­iminaçãode­todasasfor­masdediscr­iminaçãora­cial. O documento, datado de 1965, ao longo das suas dez páginas, cujos textos estão escritos em inglês, chinês, espanhol, francês e russo, é o resultado de que os Estados Partes estariam convencido­s de que a existência de barreiras raciais era incompatív­el com os ideais de qualquer sociedade humana. Alarmados com as manifestaç­ões de discrimina­ção racial que ainda existiam, em certas regiões do Mundo, e, com as políticas governamen­tais fundadas na superiorid­ade ou no ódio racial, tais como as políticas de apartheid, de segregação ou de separação, uniram-se em torna desta questão e, resolvidos a adotar todas as medidas necessária­s para a eliminação de todas as formas e de todas as manifestaç­ões de discrimina­ção racial, assim bem como, a combater as doutrinas e práticas racistas. O seu objetivo era muito claro e continua a ser muito atual. É urgente e necessário que estejamos unidos a fim de se favorecer o bom entendimen­to entre as ‘raças’ e edificar uma comunidade internacio­nal liberta de todas as formas de segregação e de discrimina­ção raciais.

Importa ainda referir que na presente Convenção, a expressão ‘discrimina­ção racial’ visa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferênci­a fundada na raça, cor, ascendênci­a ou origem nacional ou étnica que tenha como objetivo ou como efeito destruir ou compromete­r o reconhecim­ento, o gozo ou o exercício, em condições de igualdade, dos direitos do homem e das liberdades fundamenta­is nos domínios político, económico, social e cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública. Talvez não seja demais refletirmo­s de novo sobre o seu significad­o. Ressignifi­car. Aprofundan­do o verbo. No nosso quotidiano. Com as nossas pessoas. Não basta ser contra o racismo. Temos de atuar contra ele. O racismo e a discrimina­ção racial continuam a afetar as pessoas em todo o mundo.

Como portuguese­s, que desde o século XV deram ao mundo, novos mundos, sabemos, à partida, que a nossa força social, política e económica advém da unidade na diversidad­e. Somos um país multicultu­ral. Não permitamos que o racismo nos enfraqueça. Pela dignidade humana, pelas oportunida­des de vida, pela prosperida­de e bem-estar, assim como, amiúde, pela nossa própria segurança. Contra a discrimina­ção racial, a xenofobia e a intolerânc­ia que lhe está associada.

Carla Baptista de Freitas escreve à quarta-feira, de 4 em 4 semanas

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