“Senhor vigário, já se pode tomar um fôlego!”
Martins Júnior recordou ontem o dia em que, estando ele à varanda da igreja, na Ribeira Seca, em Machico, um homem carregado com ervas às costas se chega perto dele e lhe diz: “Senhor vigário, já se pode tomar um fôlego!”
A boa nova era o ‘25 de Abril’ que tinha acontecido e, como disse o padre, era algo que estava contido. “O povo queria libertar-se”, afirmou.
Intervindo num debate sobre as ‘Movimentações Populares pós-25 de Abril de 1974’, lembrou algumas das ações realizadas em Machico, desde logo o Centro de Informação
Popular (CIP) e o trabalho que foi feito pela extinção da colonia, para o qual diz ter sido imprescindível o papel do povo. Lembrou a colónia de férias criada no Forte de São João Baptista e a luta das bordadeiras, entre outras.
Diamantino Alturas, dirigente do Sindicato da Construção Civil, também fez parte do painel, moderado por Teresa Nascimento. O ‘25 de Abril’ para este sindicalista só chegou à Madeira no confronto com a FLAMA, concretamente no momento em que o movimento independentista ocupou a Emissora Nacional em que, segundo disse Alturas, o sindicato interveio metendo respeito. Lembrou que teve dois filhos escondidos em casa de amigos, por medo das ameaças de que era alvo. “Eles tentaram-me assassinar”, afirmou.
Pensa que tudo valeu a pena, apesar de achar que “vivemos” no que chama de “ditadura democrática”, em que, “podes falar, mas se falas, lixas-te!”
Outro interveniente no debate, realizado no auditório da Reitoria da Universidade da Madeira, foi Francisco Liberato Fernandes, antigo colaborador do Comércio do Funchal, residente nos Açores, que destacou a importância da divulgação. Segundo disse, se tivesse havido comunicação durante a vigência do regime, o Estado Novo não teria durado 10 anos. Pensa que o 25 de Abril foi o resultado de vários movimentos, um processo que deverá ser comemorado.