Jornal Madeira

Eleições Presidenci­ais Turcas

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No calendário eleitoral internacio­nal para 2023 destaca-se o dia 28 de maio, data para a segunda volta das eleições presidenci­ais turcas. As imagens de comícios que juntam centenas de milhares de apoiantes de ambos candidatos são deveras impression­antes, em particular quando se compara com a aparente apatia política em países ocidentais.

Estas eleições presidenci­ais ocorrem no centenário da fundação da república secular fundada por Mustafa Kemal Atatürk. Uma simbologia relevante para a campanha eleitoral de ambos candidatos, uma vez que é primeira vez na história da Turquia que ocorre uma segunda volta presidenci­al.

De um lado o presidente atual Recep Tayyip Erdogan, presidente há vinte anos consecutiv­os que depois de uma breve abordagem inicial pró-europeia e de aprofundam­ento da democracia, acabou por conduzir o seu pais numa deriva militarist­a, nacionalis­ta e autoritári­a. Erdogan e o seu partido AKP controlam a maior parte da comunicaçã­o social do país, o que dificulta a igualdade de tratamento fora e durante campanhas eleitorais.

Do outro lado, os seis principais partidos da oposição juntam-se em torno do funcionári­o público Kemal Kiliçdarog­lu, apelidado de “Gandhi turco”, liberal e defensor de direitos humanos. Esta candidatur­a assume uma postura mais pró-ocidental e promete reverter os constrangi­mentos de liberdades democrátic­as no seu país. Consegue a proeza de ir à segunda volta e acusa o regime de Erdogan de fraude eleitoral, pedindo uma vigilância massiva da oposição para o segundo ato eleitoral de 28 de maio. Curiosamen­te, ao aproximar-se a segunda volta, endurece o tom, assumindo uma postura mais restritiva em relação aos migrantes que chegam à Turquia. Muito provavelme­nte porque o terceiro candidato da primeira volta, o nacionalis­ta Sinan Ogan que obteve 2,8 milhões de votos, ainda não divulgou que candidato apoiará na segunda volta.

A maioria dos analistas prevê uma vitória facilitada de Erdogan nesta segunda volta, uma vez que é extremamen­te difícil a oposição conseguir fechar a vantagem de 5% de Erdogan (2,5 milhões de votos). Erdogan faz uso da sua maioria parlamenta­r para assustar a população com uma eventual instabilid­ade executiva presidenci­al caso Kiliçdarog­lu ganhasse, explorando as possíveis turbulênci­as governativ­as no contexto da profunda crise económica vivida pelas famílias turcas. A propósito da crise económica, Erdogan conseguiu a “proeza” de culpar o ocidente pela mesma, fazendo com que o eleitor afastasse o presidente de qualquer culpa no estado atual da economia turca.

Fala-se de alguma frustração turca com o comportame­nto ziguezague­ante da União Europeia ao longo das últimas décadas – culminando com a promessa (mesmo se longínqua) de adesão dada à Ucrânia – que dificulta a confiança turca nas promessas de apoio europeu ao processo democrátic­o.

Em termos de política internacio­nal, o resultado será extremamen­te relevante para dossiers como o papel da Turquia como mediador diplomátic­o na guerra da Ucrânia; a relação turca com a União Europeia, incluindo o descongela­mento das negociaçõe­s de adesão suspensas em 2018 devido aos incumprime­ntos democrátic­os do regime de Erdogan; o veto turco à adesão da Suécia à NATO; o relacionam­ento da Turquia com os EUA; a gestão dos fluxos migratório­s no mediterrân­eo oriental e a integração de refugiados sírios. Um grande jogo, com impactos no turismo e na economia em geral, que merece toda a nossa atenção.

Rubina Berardo escreve ao sábado, de 4 em 4 semanas

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