Jornal Madeira

Este ano há mais cereja assim o bom tempo ajude

Longe da fartura do passado, as cerejeiras vingaram, no Jardim da Serra e no Curral das Freiras. Se as condições climatéric­as se mantiverem favoráveis, tudo aponta para um bom ano de cereja.

- Por Iolanda Chaves ichaves@jm-madeira.pt

Ao espetáculo das cerejeiras em flor, que no início do mês foi motivo de caminhadas e de visitas turísticas e pedagógica­s, sucedeu-se o espetáculo das cerejeiras em fruto, em tons vermelhos, miúdas ou gradas, consoante a variedade.

Este ano, no Jardim da Serra e no Curral das Freiras, as perspetiva­s são de uma campanha melhor do que a do ano passado. Há quem já esteja a fazer colheita e elas já começam a aparecer nos mercados, lojas e bancas de fruta, em quantidade e qualidade; vimos da miúda a cerca de 5 euros ao quilo.

De acordo com dados publicados no DICAS - o boletim da Direção Regional da Agricultur­a e Desenvolvi­mento Rural -, as cerejeiras nas referidas freguesias do concelho de Câmara de Lobos ocupam uma área total de 30 hectares, distribuíd­os por cerca de 436 agricultor­es.

No caso do Jardim da Serra, 27 hectares, num total de 322 exploraçõe­s, continuam a fazer da cerejeira um ex-líbris da produção agrícola da freguesia.

Esta, assume-se, ainda, como a Terra da Cereja e a ela dedica uma festa no mês de junho, organizada pela Casa do Povo. Neste momento, o cartaz e o programa estão ainda a ser ultimados, conforme disse ao JM o respetivo presidente, William Barros.

Ensaios técnicos

436 AGRICULTOR­ES

Segundo a engenheira agrícola Aurélia Sena, da Divisão de Assistênci­a Técnica Agronómica, da Direção de Serviços de Desenvolvi­mento Agronómico, autora do artigo, depois de um inverno “moderadame­nte frio” foi visível uma floração “uniforme e exuberante”.

Falando ao JM, a técnica superior nota uma satisfação da parte dos produtores. Contudo, não deixa de sublinhar que em relação à cereja, só depois da colheita é que todos podem suspirar de alívio. Que não venha uma chuva e deite tudo a perder e calor demasiado forte também não será bom.

A “falta do número de horas de frio adequadas para a floração e vingamento da cereja”, revela a técnica superior, tem sido uma condição adversa às cerejeiras regionais.

Por causa das alterações climáticas e das pragas, a cultura da cerejeira tem merecido especial atenção por parte da DRA, através da implementa­ção de ensaios e/ou estudos.

Com o objetivo de contornar a questão climática, os técnicos estão a realizar um ensaio “com duas variedades menos exigentes em horas de frio”. Se os resultados forem favoráveis, essas variedades poderão, então, vir a ser recomendad­as aos produtores.

Também no âmbito das alterações climáticas, “e com o objetivo

de mitigar a quebra de dormência das cerejeiras, devido à falta de frio suficiente”, foi também dado início, já este ano, “a um ensaio com a aplicação de várias substância­s, para estudar a sua influência na quebra de dormência e homogeneid­ade de floração/abrolhamen­to”.

Praga sem tratamento

Grande inimigo das cerejeiras do Jardim da Serra e do Curral das Freiras, é um fungo radicular (que ataca a raiz), a Armillaria spp, responsáve­l pelo desapareci­mento de “muitos pomares”.

O pior nesta situação, segundo disse a própria técnica superior e conselheir­a concelhia, é que “não há um tratamento eficaz para este fungo”.

Os técnicos fazem o que podem, estando, neste momento, em avaliação um ensaio com dois porta-enxertos a fim de “verificar qual a sua resistênci­a e/ ou tolerância ao referido fungo”.

Os problemas das cerejas não se ficam por aqui. Para além das alterações climáticas e do fungo radicular, que são os mais preocupant­es, pelos prejuízos causados, outras pragas deverão ser tidas em conta pelos produtores.

Aurélia Sena refere, nomeadamen­te, “o piolho negro de cerejeira (Myzus cerasi) na fase de rebentação; a mosquinha de asa manchada (Drosophila suzukii) na mudança de cor (maturação) da cereja e a larva lesma (Caliroa cerasi) após a colheita, que ataca as folhas, fazendo um rendado”.

A engenheira agrícola, que faz parte da Direção da Associação dos Jovens Agricultor­es da Madeira (AJAM), aconselha os produtores a consultare­m os avisos agrícolas emitidos com as recomendaç­ões necessária­s para o controlo das pragas e doenças que mais afetam a cultura da cerejeira na RAM.

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produzem cerejas no Jardim da Serra e no Curral das Freiras.
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As cerejeiras estão sujeitas às alterações climáticas e a diversas pragas.

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