Este ano há mais cereja assim o bom tempo ajude
Longe da fartura do passado, as cerejeiras vingaram, no Jardim da Serra e no Curral das Freiras. Se as condições climatéricas se mantiverem favoráveis, tudo aponta para um bom ano de cereja.
Ao espetáculo das cerejeiras em flor, que no início do mês foi motivo de caminhadas e de visitas turísticas e pedagógicas, sucedeu-se o espetáculo das cerejeiras em fruto, em tons vermelhos, miúdas ou gradas, consoante a variedade.
Este ano, no Jardim da Serra e no Curral das Freiras, as perspetivas são de uma campanha melhor do que a do ano passado. Há quem já esteja a fazer colheita e elas já começam a aparecer nos mercados, lojas e bancas de fruta, em quantidade e qualidade; vimos da miúda a cerca de 5 euros ao quilo.
De acordo com dados publicados no DICAS - o boletim da Direção Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural -, as cerejeiras nas referidas freguesias do concelho de Câmara de Lobos ocupam uma área total de 30 hectares, distribuídos por cerca de 436 agricultores.
No caso do Jardim da Serra, 27 hectares, num total de 322 explorações, continuam a fazer da cerejeira um ex-líbris da produção agrícola da freguesia.
Esta, assume-se, ainda, como a Terra da Cereja e a ela dedica uma festa no mês de junho, organizada pela Casa do Povo. Neste momento, o cartaz e o programa estão ainda a ser ultimados, conforme disse ao JM o respetivo presidente, William Barros.
Ensaios técnicos
436 AGRICULTORES
Segundo a engenheira agrícola Aurélia Sena, da Divisão de Assistência Técnica Agronómica, da Direção de Serviços de Desenvolvimento Agronómico, autora do artigo, depois de um inverno “moderadamente frio” foi visível uma floração “uniforme e exuberante”.
Falando ao JM, a técnica superior nota uma satisfação da parte dos produtores. Contudo, não deixa de sublinhar que em relação à cereja, só depois da colheita é que todos podem suspirar de alívio. Que não venha uma chuva e deite tudo a perder e calor demasiado forte também não será bom.
A “falta do número de horas de frio adequadas para a floração e vingamento da cereja”, revela a técnica superior, tem sido uma condição adversa às cerejeiras regionais.
Por causa das alterações climáticas e das pragas, a cultura da cerejeira tem merecido especial atenção por parte da DRA, através da implementação de ensaios e/ou estudos.
Com o objetivo de contornar a questão climática, os técnicos estão a realizar um ensaio “com duas variedades menos exigentes em horas de frio”. Se os resultados forem favoráveis, essas variedades poderão, então, vir a ser recomendadas aos produtores.
Também no âmbito das alterações climáticas, “e com o objetivo
de mitigar a quebra de dormência das cerejeiras, devido à falta de frio suficiente”, foi também dado início, já este ano, “a um ensaio com a aplicação de várias substâncias, para estudar a sua influência na quebra de dormência e homogeneidade de floração/abrolhamento”.
Praga sem tratamento
Grande inimigo das cerejeiras do Jardim da Serra e do Curral das Freiras, é um fungo radicular (que ataca a raiz), a Armillaria spp, responsável pelo desaparecimento de “muitos pomares”.
O pior nesta situação, segundo disse a própria técnica superior e conselheira concelhia, é que “não há um tratamento eficaz para este fungo”.
Os técnicos fazem o que podem, estando, neste momento, em avaliação um ensaio com dois porta-enxertos a fim de “verificar qual a sua resistência e/ ou tolerância ao referido fungo”.
Os problemas das cerejas não se ficam por aqui. Para além das alterações climáticas e do fungo radicular, que são os mais preocupantes, pelos prejuízos causados, outras pragas deverão ser tidas em conta pelos produtores.
Aurélia Sena refere, nomeadamente, “o piolho negro de cerejeira (Myzus cerasi) na fase de rebentação; a mosquinha de asa manchada (Drosophila suzukii) na mudança de cor (maturação) da cereja e a larva lesma (Caliroa cerasi) após a colheita, que ataca as folhas, fazendo um rendado”.
A engenheira agrícola, que faz parte da Direção da Associação dos Jovens Agricultores da Madeira (AJAM), aconselha os produtores a consultarem os avisos agrícolas emitidos com as recomendações necessárias para o controlo das pragas e doenças que mais afetam a cultura da cerejeira na RAM.