“Nunca mais será como antigamente”
Marco António Gonçalves, 33 anos, engenheiro agrícola e produtor de cereja biológica, está confiante numa boa colheita este ano, embora saiba que, em relação à cereja, deverá ser sempre prudente nas expetativas.
Por formação e por experiência, sabe que até ao momento da colheita, a cereja está sujeita aos efeitos da chuva e do calor. Se a chuva vier enquanto está esverdeada, poderá não ter problemas, mas se já estiver madura, ficará pela certa danificada, abrir-se-ão fendas no fruto e vai tudo por ‘água abaixo’. O excesso de calor, um calor de de leste, por exemplo, também a estragará.
No dia em que falou ao JM, Marco António admitiu que não era o melhor, precisamente devido a uns chuviscos ameaçadores, que o deixaram em alerta. Espera que daqui para a frente os fenómenos atmosféricos se contenham.
Sendo natural do Jardim da Serra, recorda-se de, há 20 anos, quando ainda era adolescente, haver grande abundância de cerejas.
Fala de uma “mancha compacta” de cerejeiras carregadas de fruto e de uma azáfama de gente a apanhar cereja. Lembra-se que enquanto decorria a apanha, já os comerciantes iram buscar as cerejas junto dos pomares. “Nunca mais será como antigamente”, reconhece.
Trabalho minucioso encarece
Na opinião deste engenheiro agrícola, as alterações climáticas são a principal causa que explica o enfraquecimento das cerejeiras. Os invernos quentes e secos substituíram os invernos mais frios e húmidos, que estas árvores precisavam.
A cerejeira necessita de frio para quebra de dormência, em média de 800 horas, abaixo dos 7 graus, uma exigência que varia consoante a variedade.
Marco António tem como marco o fatídico 20 de fevereiro de 2010. Tudo mudou desde então. Lamenta que haja ainda quem não valorize as alterações climáticas.
A falta de mão-de-obra é outro facto que também não abona a favor da cereja. Falta em número e também em conhecimento, no que respeita à forma como deve ser apanhada, com cuidado e minúcia.
“As pessoas depois queixam-se que é cara, mas não imaginam o trabalho que exige”, diz referindo-se ao cuidado com que a cereja deve ser colhida, para não ficar danificada.