Manuais digitais em todos os graus dentro de dois anos
João Filipe Matos, autor de um estudo de avaliação do projeto dos manuais digitais na Região, realça a inovação pedagógica e a democratização no acesso às tecnologias.
“A intenção é que dentro de dois anos letivos o projeto [dos manuais digitais nas escolas] se estenda a todos os anos de escolaridade, a todos os alunos do 5.º ao 12.º anos, em escolas públicas”. A perspetiva é traçada pelo professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa, João Filipe Matos, autor de um estudo de avaliação do projeto dos manuais digitais na Região e que, nesse âmbito, cá esteve para apresentar os resultados preliminares deste projeto que, realçou, “é pioneiro” no País.
Ao JM, João Filipe Matos começou por enquadrar que a implementação de tecnologias digitais nas escolas, em todos os níveis de ensino, resulta de uma perfeita articulação entre professores, alunos e encarregados de educação, notando, no mais, a ideia salutar trazida pela Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia e os consórcios envolvidos.
Uma ideia que, note-se, encetou como projeto piloto, também resultante das queixas de encarregados de educação, face ao peso excessivo que os educandos carregavam, tendo sido a transição para os tablets e computadores portáteis, na sua ótica, uma aposta ganha. “Havia várias queixas dos pais, encarregados de educação, no sentido do peso excessivo que as crianças têm de suportar às costas e que num dia normal de trabalho são, sei lá, oito quilos, nove quilos. Depende um pouco até do número de disciplinas que têm por dia, porque têm de levar os livros de cada disciplina”, observou, enaltecendo a transição digital nos ensinos básico e secundário, da tecnologia à pedagogia, sendo que, de acordo com a explanação de João Filipe Matos, “a pedagogia é aquilo que importa”. Isto é, a “forma como se trabalha com os alunos”. “A tecnologia é um recurso fundamental, que toda a gente utiliza no seu dia a dia através de smartphones, computadores, etc., portanto, faz todo o “sentido, também, ser utilizada na escola”.
“A SRE decidiu iniciar este projeto utilizando este modelo, que eu chamo mancha de óleo. Ou seja, colocando, já em 2019, primeiro nalgumas turmas do 5.º ano de escolaridade, depois no ano seguinte estendeu a mais turmas e algumas do 6.º. No ano posterior, algumas turmas do 7.º ano de escolaridade e já todas as de 6.º ano, na lógica da mancha de óleo. Foi expandindo a experiência e corrigindo aquilo que era preciso corrigir”, realçou, descrevendo ainda o papel fundamental da Porto Editora, “disponibilizando os livros digitais da escola virtual”.
Qualidade da aprendizagem
Tendo em conta este aspeto genético do projeto, o professor aponta – através do estudo realizado – três conclusões preliminares, a saber: o aumento da qualidade das aprendizagens, a sintonia entre alunos e encarregados de educação, que reconhecem o papel da tecnologia e, por fim, a qualidade dos manuais digitais como um fator importante na aprendizagem, consubstanciado no uso de interatividade [consultar destaque].
Repercussões na visão
Por outro lado, tendo em linha e em consideração as eventuais repercussões na visão – decorrentes de uma intensidade muito grande na utilização destes aparelhos –, João Filipe Matos afirmou ser “uma questão que tem sido levantada em muitos países e que no caso da Região Autónoma da Madeira começa agora a ser estudada, através de um projeto da Secretaria Regional da Educação, Ciência e Tecnologia, com a Universidade da Madeira”.
Peso nas costas diminuído
Todavia, a introdução dos tablets, conforme frisou, abarca vários pressupostos – também benéficos –, do qual é exemplo a diminuição de peso nas costas. “Quer num caso, quer noutro [repercussões na visão / peso nas costas], é preciso esperar pelo estudo que agora está a ser iniciado pela UMA e Secretaria Regional de Educação, mas também é preciso notar o seguinte: na questão da visão, as crianças e jovens fazem uma utilização muito mais intensa de ecrãs fora da escola do que na escola”, complementou.
Por isso, contrapõe: “Temos de ver qual é a utilização de ecrãs na escola. Se, de facto, ela tem um peso significativo ou se é uma pequena parte daquilo que é a utilização de ecrãs, pelos alunos, ao longo de todo o seu dia e ao longo de todo o seu fim de semana. Portanto, é uma questão que está a ser estudada e para a qual é preciso ter atenção, até porque os equipamentos, tendencialmente, estão a melhorar o grão dos ecrãs”, sublinhou, evocando a luminosidade (quantidade de luz que incide nos olhos). De resto, já há muitos equipamentos que têm formas automáticas, que regulam a intensidade de acordo com a intensidade de luz na sala. “Cada vez mais, isso irá acontecer e esses problemas vão-se resolvendo”, considerou.
Numa última observação, referiu a sustentabilidade deste projeto, denotando a perspetiva de consolidação do mesmo, a qual depende, intrinsecamente, dos professores. Segundo sustentou, é a chave do sucesso a que se assiste.