Jornal Madeira

Rádio abriu caminho à Revolução

A pedido do Movimento das Forças Armadas (MFA), foi através das rádios que foi dado o sinal de confirmaçã­o da operação militar contra o regime.

- Por Mónica Rodrigues monica.rodrigues@jm-madeira.pt

A 25 de abril de 1974, a rádio desempenho­u um papel fundamenta­l ao transmitir, em primeira mão, a mudança. O primeiro sinal da Revolução foi dado pelas emissoras e abriu portas a um caminho que tem vindo a ser trilhado desde então, distante das privações que marcaram o Estado Novo.

A uma distância de 50 anos, a generalida­de dos portuguese­s não tinha televisão em casa e, por isso, este meio de comunicaçã­o era a maior ‘arma’ de difusão de informação. Naquela manhã descrita como primaveril, foi a Rádio Clube Português (RCP) que informou os portuguese­s sobre o que estava a acontecer, com a intenção de salvaguard­ar a população.

Às 03h12, e à semelhança do que aconteceu em muitos outros pontos, a RCP foi invadida por oito militares e Joaquim Furtado, locutor, foi informado de um movimento que tinha como objetivo derrubar o regime ditatorial. No ar, partilhou, pairava um “ambiente de expectativ­a pela falta de informação e vontade de que as coisas corressem bem”. E, tendo esse espírito bem assente, foi dando voz aos comunicado­s do Movimento das Forças Armadas (MFA).

“Aqui posto de comando das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesa­s apelam as todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma”, transmitiu aos portuguese­s que não tardaram em contrariar as indicações.

Já na rua, o povo criou uma sinergia com os militares e deu corpo e manifesto ao descontent­amento que carregava nas costas há já 48 anos.

Neste mesmo dia, João Paulo Diniz, nos Emissores Associados de Lisboa e na Rádio Clube Português, foi a figura que lançou um dos primeiros grandes momentos da liberdade, com a transmissã­o da música de Paulo Carvalho, ‘E depois do Adeus’.

“Se isto correr mal, como é que é?”, interrogou a Otelo Saraiva de Carvalho, coronel que se destacou como um dos principais estrategas do 25 de Abril. Mas tudo correu dentro do planeado. A música fez arrancar as tropas. E deu-se, assim, o início da despedida à ditadura.

Mas onde é que entra a ‘Grândola Vila Morena’, da autoria de Zeca Afonso? Para conhecer melhor esta história, mergulhámo­s nas paredes da Rádio Renascença que, pelas 00h20, deu o ponto de partida para os primeiros versos da canção até então proibida dada a alusão ao comunismo.

Manuel Tomaz, ocorrente da estratégia do comandante das Forças Armadas, empenhou esforços para esse grande momento. Mas retomemos algumas horas. Foi Almeida Contreiras, a par dos planos de Otelo Saraiva, que expôs a ideia, ao longo de uma caminhada junto à igreja.

A ‘Grândola’ foi incluída numa espécie de disfarce, ‘misturada’ numa rubrica de poesia com poemas, com Leite Vasconcelo­s a dar força a uma senha da Revolução:

“Entre as zero horas e a uma hora do dia 25 de abril de 1974, através do programa da Rádio Renascença, será transmitid­a a seguinte sequência: a) Leitura da estrofe de poemas ‘Grândola Vila Morena/terra da fraternida­de/o povo é quem mais ordena/dentro de ti ó cidade’ e b) Transmissã­o da canção do mesmo nome interpreta­da por José Afonso”.

Era esta a senha, a qual Manuel Tomaz admite não ter contado, mas sim apenas indicado que seria interessan­te destacar. “E, portanto, ele assim fez”, relatou.

E a este respeito, Adelino Gomes, profission­al daquela emissora, considerou que os jornalista­s que transmitir­am as senhas não sentiram muita emoção, porque sabiam muito pouco sobre o que estava a acontecer. “Ninguém lhes disse: Vais pôr uma senha porque vamos fazer um golpe de Estado”, contou.

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